Sou visceralmente contra as touradas.
Nesta fotografia, vejo um touro cruelmente mal tratado, ferido, a sangrar e forçado a estar numa arena, a defender-se contra um toureiro que o brutaliza.
Por isso esta fotografia impressiona-me duplamente. Não só pela precisão e perfeição técnica com que o momento foi captado, mas também pela extrema violência que ela evidencia.
Foi tirada pelo fotógrafo espanhol Gustavo Cuevas e ganhou o segundo lugar do concurso World Press Photo 2011 na categoria Desporto.
Remete-me de imediato para a questão das touradas e para os argumentos de quem a defende.
Não aceito que se chame a um acto de tortura de um animal, arte, espectáculo ou pior ainda, cultura.
Não, quando há flagrantemente, como no caso das touradas, um tremendo desrespeito pela vida de um animal, quando este é colocado desnecessariamente e cruelmente em sofrimento.
A arte implica estética, beleza e artistas.
Não há e nem pode haver estética, e muito menos beleza por se basear no sofrimento provocado deliberadamente e conscientemente num animal.
Não é e nem pode ser arte, porque não existem artistas, mas sim torturadores sádicos que "enfrentam" um touro, estando este sempre
previamente diminuído e fisicamente enfraquecido quando entra numa arena.
Cultura é aquilo que se transmite de pessoa em pessoa, geração em geração. Cultura é algo que um país tem orgulho em mostrar, algo que o diferencia dos restantes, algo que o torna atraente aos olhos do seu próprio povo e ao dos outros povos. É algo que se ergue como uma bandeira.
Não aceito que a tourada, um acto bárbaro que se baseia em pressupostos de crueldade, sofrimento e desprezo pela integridade física de um animal seja uma bandeira de um país, particularmente do meu.
Não aceito que se diga falaciosamente que os touros são criados para este propósito e que se não fossem as touradas eles já teriam desaparecido. Como se os touros não existissem antes de alguém inventar essa "coisa" primitiva e sanguinária a que chamaram tourada.
Felizmente que a tourada está a ser banida um pouco por todo o lado. As consciências estão a despertar.
Espanha que tal como Portugal, é um dos países com maiores “tradições” nesta tortura, está a questionar esta prática a uma velocidade cada vez maior e está a proibir as touradas um pouco por todo o país.
Atrás do exemplo de Espanha outros países certamente farão o mesmo. A Colômbia e a Venezuela começam a dar os seus primeiros passos nesse sentido.
As pessoas podem não ser sensíveis ao sofrimento de um animal ou animais se incluirmos os cavalos, mas certamente que o serão quando se trata da vida humana.
Na prática o que a tourada faz e que esta fotografia mostra exemplarmente são dois animais em sofrimento. E isso não é claramente justo.
Especialmente porque um deles, o irracional, não pediu para lá estar.