sexta-feira, 4 de março de 2011

... e a culpa morreu solteira


Faz hoje dez anos que a ponte Hintze Ribeiro em Entre-os-Rios, Castelo de Paiva, caía.
Com a sua queda, 59 pessoas perderam a vida. 36 corpos nunca foram encontrados.

Pouca horas depois, o ministro das Obras Publicas do governo de Guterres, Jorge Coelho demitir-se-ia, afirmando que "a culpa não pode morrer solteira”.

Em Outubro de 2006, seis técnicos da Junta Autónoma das Estradas são levados a tribunal pelo Ministério Público e são absolvidos. Crê-se que seriam bodes expiatórios de um poder superior.
Muita gente pensa que deveriam ser outro tipo de responsáveis a estar presentes nesse julgamento.

Passados dez anos, a justiça portuguesa numa das páginas mais negras, tristes e vergonhosas da sua história, não encontrou responsáveis pelo acidente.



quarta-feira, 2 de março de 2011

não é arte, não é cultura e não pode ser tradição!




Sou visceralmente contra as touradas.
Nesta fotografia, vejo um touro cruelmente mal tratado, ferido, a sangrar e forçado a estar numa arena, a defender-se contra um toureiro que o brutaliza.
Por isso esta fotografia impressiona-me duplamente. Não só pela precisão e perfeição técnica com que o momento foi captado, mas também pela extrema violência que ela evidencia.
Foi tirada pelo fotógrafo espanhol Gustavo Cuevas e ganhou o segundo lugar do concurso World Press Photo 2011 na categoria Desporto.

Remete-me de imediato para a questão das touradas e para os argumentos de quem a defende.
Não aceito que se chame a um acto de tortura de um animal, arte, espectáculo ou pior ainda, cultura.
Não, quando há flagrantemente, como no caso das touradas, um tremendo desrespeito pela vida de um animal, quando este é colocado desnecessariamente e cruelmente em sofrimento.

A arte implica estética, beleza e artistas.
Não há e nem pode haver estética, e muito menos beleza por se basear no sofrimento provocado deliberadamente e conscientemente num animal.
Não é e nem pode ser arte, porque não existem artistas, mas sim torturadores sádicos que "enfrentam" um touro, estando este sempre previamente diminuído e fisicamente enfraquecido quando entra numa arena.

Cultura é aquilo que se transmite de pessoa em pessoa, geração em geração. Cultura é algo que um país tem orgulho em mostrar, algo que o diferencia dos restantes, algo que o torna atraente aos olhos do seu próprio povo e ao dos outros povos. É algo que se ergue como uma bandeira.

Não aceito que a tourada, um acto bárbaro que se baseia em pressupostos de crueldade, sofrimento e desprezo pela integridade física de um animal seja uma bandeira de um país, particularmente do meu.
Não aceito que se diga falaciosamente que os touros são criados para este propósito e que se não fossem as touradas eles já teriam desaparecido. Como se os touros não existissem antes de alguém inventar essa "coisa" primitiva e sanguinária a que chamaram tourada.


Felizmente que a tourada está a ser banida um pouco por todo o lado. As consciências estão a despertar.
Espanha que tal como Portugal, é um dos países com maiores “tradições” nesta tortura, está a questionar esta prática a uma velocidade cada vez maior e está a proibir as touradas um pouco por todo o país.
Atrás do exemplo de Espanha outros países certamente farão o mesmo. A Colômbia e a Venezuela começam a dar os seus primeiros passos nesse sentido.

As pessoas podem não ser sensíveis ao sofrimento de um animal ou animais se incluirmos os cavalos, mas certamente que o serão quando se trata da vida humana.
Na prática o que a tourada faz e que esta fotografia mostra exemplarmente são dois animais em sofrimento. E isso não é claramente justo.
Especialmente porque um deles, o irracional, não pediu para lá estar.


terça-feira, 1 de março de 2011

Grande Ecrã - Indomável (True Grit)



Diria que Indomável e o Discurso do Rei são filmes irmãos. Em tudo muito iguais um ao outro.
A diferença é que a cada um deles corresponde um lado do Oceano Atlântico, moldando-os culturalmente e mostrando as suas raízes.
O Discurso do Rei é sobre o que mais típico a Grã-Bretanha tem, a realeza. Indomável oferece a mais pura tradição do Oeste americano.

Ambos os filmes estão suportados por actores principais cujos papéis enchem o ecrã e é difícil imaginar que outros actores poderiam ter melhor desempenho e ambos foram candidatos aos Óscares. Colin Firth pelo Discurso do Rei e Jeff Bridges por Indomável.

Por sua vez, nos dois filmes, os papéis de suporte têm um desempenho que rivaliza com os principais, Geoffrey Rush e Hailee Steinfeld tendo sido igualmente os dois nomeados para os respectivos Óscares.
As realizações são imaculadas e bem ritmadas, os argumentos muito bons, os diálogos vivos e com humor.

Mas olhando para um e para o outro e pesando-os, gosto mais de Indomável.
Porque apesar de tudo tem melhores cenários e a fotografia de Roger Deakins é excelente.
A realização dos irmãos Coen é mais emotiva e mais vibrante.
A longa cavalgada final de Rooster Cogburn para salvar a vida de Mattie Ross está extraordinariamente bem filmada, carregada de emoção e termina com o dramático sacrifício final do exausto cavalo.
Jeff Bridges compõe fantasticamente um rude e velho marshall, gordo e intratável de voz cavernosa. Enquanto Hailee Steinfeld na mesma linha mostra uma personagem determinada, pragmática e sem papas na língua, mantendo no entanto a sua delicadeza e fragilidade juvenil.

Os irmãos Coen têm assim o grande mérito de fazer reviver um género em que muitos dos que vão assistir a este filme não estão habituados a ver numa sala de cinema: o western.
Talvez a última vez que um western triunfou numa sala de cinema tenha sido Imperdoável (Unforgiven), uma pérola de Clint Eastwood de 1992.



segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

23 anos de TSF

Tudo o que se passa, passa na TSF


Se puxar pela memória e tentar entrar pelas mais recuadas e difusas, consigo recordar os tempos da TSF enquanto rádio pirata, apesar de não ter muita consciência dela enquanto estação de rádio nessas condições.

A primeira vez que tenho verdadeira consciência da TSF e de começar a segui-la, fazendo dela uma fonte privilegiada de informação é com o incêndio do Chiado a 25 de Agosto de 1988.
Cerca de seis meses após a sua primeira emissão a 29 de Fevereiro de 1988, a TSF mudou a forma de divulgar e relatar notícias. Estabeleceu um novo padrão nesta área.

Lembro-me bastante bem das suas coberturas em 1990 da invasão do Kuwait pelo Iraque que daria origem à primeira Guerra do Golfo, da ininterrupta emissão em 1999 de Timor e do ataque do 11 de Setembro de 2001 às torres do World Trade Center de Nova Iorque.

É com a TSF que pela primeira vez oiço falar de Marcelo Rebelo de Sousa e das notas que dava aos políticos em Exame. Um programa semanal que o terá lançado como analista e comentador político e que simultaneamente me fez começar a seguir a política nacional com alguma atenção.

Na prática a TSF faz parte da minha vida quase desde sempre. Há 23 anos.
É com ela e com as suas notícias das sete da manhã que ainda hoje eu acordo. Tenho o meu despertador ligado para estas horas e sintonizado na sua frequência.

E é por vezes a fonte de um ou outro atraso na chegada ao trabalho.
Mas percebe-se. Com a TSF vou ao fim da rua, vou ao fim do mundo.
É natural que demore um certo tempo a voltar...