sábado, 29 de março de 2014

uma música para o fim de semana - The Legendary Tigerman


Do Come Home, soa ao pedido de alguém que perdeu o seu Eu, a sua sombra
O homem tigre anda incompleto sem ela.
Quem não anda, quando algo essencial lhe falta? Um amor, um sonho, uma conquista, também, mas não necessariamente amorosa, mas muito desejada, perseguida e ainda (ou nunca) não conquistada.
Até uma dor vivida muito tempo se torna numa extensão nossa, uma parte do Eu. E quando curada, pode-se tornar uma companheira ausente. Ela falha, faz falta e precisamos dela. Em nós, em casa.

The Legendary Tigerman, chama-se Paulo Furtado. Procurei descobrir o porquê do seu nome artístico mas não consegui. É pena. É um nome curioso. Deve ter uma boa história por trás dela.

Começou nas ruas a tocar sozinho uma série de instrumentos - one man band. 
Um dia passou para os palcos essa capacidade e tornou-se no The Legendary Tigerman. Em simultâneo é membro (vocalista e guitarrista) dos Wraygunn. Uma espécie de esquizofrenia entre Paulo Furtado e o Homem Tigre.

Em True, o nome do álbum que foi lançado este mês é o primeiro que produz com uma banda. Corta a linha directiva do one man band e da máscara protectora do rosto pintado, para expandir o seu território a outros músicos (e músicas) e assumir-se por inteiro. 
Paulo Furtado diz que as duas personalidades (Wraygunn e Tigerman) se aproximam mais uma da outra. Tende para um maior equilíbrio e simultaneamente, diria eu, para um maior e redentor alívio.
A música para este fim de semana, Do Come Home, lança o álbum.

É simples no som, na voz e na letra. 
É hipnótica no pedido pungente que faz à sua "sombra" para que o acompanhe a casa, que se torne de novo dele.
Espero que a tenha conseguido convencer.

Bom fim de semana :)





terça-feira, 25 de março de 2014

sobre o Passado


Passado.
José Eduardo Agualusa no seu livro Passageiros em Trânsito escreve " O passado é como o mar: nunca sossega". Concordo em parte com esta visão. Mas vejo-o mais como as ondas do mar que vão e vêm.
O passado não está quieto, não está sossegado, é verdade. Não tem que estar e não pode estar. Tempos a tempos tem que estar presente e depois recuar. Como as ondas do mar.

Não se pode ignorar o passado. Nós somos o passado, somos feitos dele. A sabedoria, a experiência acumulada em nós, no dia a dia, vem do passado. Somos ensinados por ele.
O nosso passado define o presente e influencia o nosso futuro.

A história universal, a história de um país, a nossa história é alicerçada no passado. Elas têm que ser consultadas, aprendidas e frequentemente reaprendidas.
Há lições a serem retiradas do passado para serem melhoradas, evitadas, ou até repetidas e adaptadas.
Diz-se que águas passadas não movem moinhos quando muitas vezes alguém insiste em repisar, reviver, viver permanentemente no passado.
Viver no passado é estagnar, é estar preso e não viver. Mas...

... é tentador rondar o passado, ficar por lá mais do que é devido. Deitarmos numa cama de espinhos cujas dores já conhecemos e nos habituámos em vez das novas que hão de vir e cujas intensidades nos são desconhecidas.
Ou então aconchegar-mo-nos nas memórias bonitas e boas que deixámos lá atrás, porque podemos voltar a não ter outras ou a não terem a mesma intensidade. Às vezes são elas que nos fazem adormecer com um sorriso nos lábios

Haverá sempre alguém que irá dizer, que não evoluímos, que somos parvos por estarmos a olhar para trás, que o caminho é para frente, o que já lá vai lá vai, etc, etc... É verdade. Há razão nestas afirmações.
E contudo são essas águas passadas que há pouco mencionei que nos vão dizer e mostrar como melhor construir os próximos moinhos, como evitar areias movediças e águas pantanosas.

O passado é curioso. Enquanto o presente é um permanente e sempre fugaz limbo temporal, entre o que foi e o que será, o futuro nunca existirá. O passado é o único que existe porque já foi. É com ele que se edificam as memórias.
Dos três talvez não seja o mais interessante, isso será sempre o que está para vir. Mas certamente é o mais útil.

O passado não pode estar quieto. Ao longe é inútil e em cima de nós é asfixiante, sufocante. Tem que ir e vir. Por vezes até temos que ser molhados por ele.
Como as ondas do mar.