É intimista, elegante e minimal. Reflectida, intuitiva e discreta. Pensamentos contidos, emotivos e delicados.
Um manifesto, um ideal, que só Tiago Sousa parece conhecer e que o seu piano apenas entreabre para terceiros.
É inevitável ir buscar alguns destes aromas, destes ingredientes à música de Satie e Chopin
E tal como o pianista francês, autor das Gymnopédies, Tiago concebe um espaço interior muito melancólico, atmosférico e envolvente, mas marcadamente individual, que nos deixa aproximar dele, que nos compele para ele, mas sem que apesar desse convite, nós desejemos penetrar nesse espaço com receio de causar a sua perturbação.
É como aproximarmo-nos o mais possível do mar numa praia mas sem querer que ele nos molhe os pés.
Curiosamente se atribuísse o título Insónia a um álbum (2009) e à sua música, creio que não a conceberia como Tiago Sousa a fez.
Talvez ela fosse mais inquieta, agitada, cíclica, obsessiva e mais escura.
Mas ainda bem que não fui eu. ;)
E antes que a ira feminina se abata sobre mim ;), acrescento que isto era o que as mulheres pensavam de elas próprias há cerca de 50 anos.
Naturalmente que a mulher está bem mais consciente do seu papel. A sua auto-estima aumentou.
As suas competências aumentaram, tornou-se um elemento preponderante na gestão de uma casa, em termos do acréscimo de rendimento que traz e que facilita essa mesma gestão.
Ela é independente e faz questão de marcar essa independência.
Cargos de poder e chefia vão sendo gradualmente conquistados. As suas áreas de influência estão cada vez maiores. São cada vez mais respeitadas. São cada vez mais necessárias. São cada vez mais autónomas.
Tornaram-se mais esclarecidas, mais capazes de questionar a cultura na qual nasceram e na qual estão inseridas.
E no entanto muito falta conquistar.
Principalmente e acima de tudo, conquistar o reconhecimento, a efectiva igualdade.
Ainda continuam ser vistas como inferiores aos homens.
Nos seus salários, no não reconhecimento da importância das tarefas domésticas. A negação da sua plena participação nas principais religiões. Os entraves que lhes são colocados à maternidade, a conciliação entre carreira profissional e maternidade. Uma dualidade pela qual a mulher paga um preço bastante alto.
A pressão social é imensa quando a mulher quer assumir a maternidade sem querer abdicar, sem que isso implique a evolução ou consolidação da sua carreira profissional.
É sobre elas que incidem os maiores abusos físicos e psicológicos.
A falta de protecção efectiva da mulher quando esta reporta que foi assediada, violada, ameaçada de violação ou ainda alvo de violência doméstica.
Apesar de serem as mulheres que estatisticamente têm maior preponderância no mundo universitário, é também sobre elas que incide a maior taxa de analfabetização.
Quando a mulher entra no mercado de trabalho, começam as desigualdades salariais, os assédios sexuais, a tentativa de subalternização, a sua desvalorização.
Com a entrada e o avanço das tecnologias no mundo laboral esbatem-se as diferenças físicas entre homens e mulheres. A tecnologia é um elemento igualizador que o homem não estava a contar.
A diferenciação passa ser maioritariamente intelectual. Um campo onde a mulher bate-se de igual para igual.
A detenção do poder masculino sobre a fragilidade, sobre a menorização da mulher está e fica enfraquecido.
É com a entrada de mulher no mercado de trabalho que a violência doméstica ganha maior expressão e vergonha.
O homem sente-se contestado no seu poder, na superioridade masculina. Ela sai da sua dependência. Tem mais vontade própria, é menos submissa, subserviente, tornando-se mais difícil de ser controlada.
O controlo que (re)ganhou sobre o seu corpo, quer a nível fisiológico com o advento da pílula, quer a nível da sua imagem, com a moda e publicidade, e portanto a sua independência enquanto mulher. Independência é a palavra-chave sempre que o tema é a mulher.
Pessoalmente acredito que o grande problema da mulher é também o seu maior trunfo. A sua feminilidade e beleza. A sua delicadeza, a sua sensualidade e a sua aparente fragilidade.
A mulher é um símbolo por excelência do pecado. Pense-se na Eva que ofereceu a maçã a Adão.
Ou como um ser indeciso que se situa algures entre a divindade e a demonização. Tal como as sombras, entre a luz e a escuridão.
E isto assusta e assustará o homem que não compreende este mistério, esta aura ambivalente que rodeia a mulher.
Quem diz o homem, diz a sociedade. Esta que ainda tem os seu pilares ancorados num modelo de possessão patriarcal e machista.
álcool
Amante das artes de esconder
álcool desejado que se faz desejar
vem aos meus lábios dar de beber
na minha companhia vem caminhar.
Infame companheiro de dores e desgraças
longos goles de mentiras sem necessidade
álcool que não ajudas mas trespassas o não querer da ausência de vontade
Vã liberdade que turvas os ideais
sempre tão falsa e insidiosa
és a miragem de um falso cais
em letras de poema e de prosa
Álcool que amarrotas a minha cama
onde nela se deitam as esperanças
em teus lençóis não arde a chama
não há músicas nem danças
O que tu fazes é despertar
pensamentos escondidos e desarrumados
tristes alegrias em gavetas por fechar
memórias perdidas de tangos não dançados
Tentadoras as tuas iníquas gargalhadas
de luzes desfeitas em breves fogachos
as palavras pelo chão são arrastadas
deitado, adormeço em sujos capachos