sábado, 1 de março de 2014

uma música para o fim de semana - Noiserv


Uma das coisas que mais gosto em David Santos, aka, Noiserv é a simplicidade. 
Da sua música, da sua voz.
E mesmo quando não morro de amores pela música, usualmente gosto dos títulos. Ele também tem jeito para eles. Consegue contar micro histórias com eles.

I Was Trying to Sleep When Everyone Woke Up é tudo isto. Simples, quase uma canção de embalar, mesmo que toda a gente já tenha acordado, e de uma grande pureza sonora. 
Tem um ambiente e um cariz muito marcadamente " infantil" e o vídeo é uma história que condiz com a maneira como ele compôs e canta este tema. 
É uma brincadeira de crianças, cuja história só uma criança escreveria e entenderia.

Quanto a nós "adultos sapientes e sofisticados" de inocência perdida, ficamos a olhar hipnotizados para as imagens. Certamente revisitando algumas décadas das nossas vidas que ficaram para trás enquanto a letra desfila perante os nossos olhos no rodapé do vídeo e a voz de David Santos (acompanhada de vários nomes entre os quais Luísa Sobral e Rita Redshoes) paira no interior da nossa cabeça.

Ainda na ambivalência entre sonho e realidade em que este tema (e os restantes) navega, a capa do álbum é apresentada sob a forma de um puzzle que mentalmente quase que somos "forçados" a resolver.
Pelo menos para mim que gosto deles :).




A música para este fim de semana é retirado do segundo álbum de originais de Noiserv - Almost Visible Orchestra - cujo nome é um acrónimo (A.V.O) de homenagem à sua avó que morreu quando este trabalho ganhava forma.




E já imaginaram como é que David Santos, toca este música sendo ele simultaneamente o músico e a voz?
Uma ida aos "bastidores" quando ele toca ao vivo I Was Trying to Sleep When Everyone Woke Up.
Muito fixe :)


Bom fim de semana :)




quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

a primeira compra de 2014


Arborescência é algo orgânico que cria raízes, que busca raízes. Uma árvore cujos ramos crescem, que ramificam, que envolvem, que abraçam e enlaçam. Algo que cresce connosco.

É o que acontece com Arborescence do pianista norte-americano Aaron Parks. E não por acaso certamente.

À primeira audição somos agarrados e há uma necessidade de ouvir uma segunda vez para perceber o que nos aconteceu. Andei quase uma semana a ouvi-lo repetidamente. Sem cansar.

Aaron Parks, a solo, cria um mundo encantado e de fantasia em Arborescence. Cria paisagens de tempo e beleza. Nele há tranquilidade e serenidade.
Toca sem pressas, em duo com um expressivo silêncio que realça a doçura e cristalinidade de cada nota tocada.
Convida à reflexão, ao abrandar do mundo. Cria uma bolha, um espaço só nosso, a nossa intimidade.
A música de Aaron Parks é gentil, fluida, colorida, acolhedora e envolvente.

A primeira faixa de Arborescense - Asleep in the Forest - estabelece o tom poético do resto do álbum e faz a introdução a um mundo imaginário.
Os títulos são apelativos e coerentes entre si, Toward Awakening, Squirrels, Branchings, River Ways, Elsewhere ou Past Present. No total são onze temas muito sugestivamente baptizados.

Através deles é fácil imaginar um minúsculo, feérico e arboreal mundo verde (sim a capa tem influência) com fadas, ninfas, duendes e elfos vivendo em harmonia com a natureza que os rodeia.
Aaron Parks abre-nos uma porta onde flutuamos para um mundo encantado, onírico, cheio de harmonia e muito... arborescente.




terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Grande Ecrã - O Lobo de Wall Street


Nunca vou ver um filme de Martin Scorsese a pensar que poderei vir a ver um mau filme ou um filme assim assim. E nunca saí de uma sala de cinema depois de ver um Scorsese com essa sensação.

O Lobo de Wall Street não foi excepção. Um filme tresloucado, com uns toques de comédia negra e de politicamente incorrecto, que Scorsese filme com um à vontade e jovialidade que talvez à priori não seria de esperar.

Conta a história verídica de um corrector, Jordan Belfort, pouco escrupuloso que desde cedo na sua vida, mostra uma grande aptidão para o dinheiro.
E quer ganhar muito, cada vez mais. Mas curiosamente não é bem a ganância do lucro que o motiva. É tudo aquilo que o dinheiro pode comprar.
Carros, casas, barcos, helicópteros, diversão, sexo, drogas, prazer a rodos. Leva uma vida devassa e gasta dinheiro como se não houvesse amanhã. E ter mais, cada vez mais não lhe chega.

E ao longo desta vertiginosa vida hedonista de Jordan Belfort, ao contrário do que seria de esperar, Scorsese consegue criar uma aura de simpatia e de empatia em seu torno.
É como se conseguíssemos compreender (e até desejar) o que o leva a ter esse comportamento exacerbado e portanto sai perdoado.

Há apenas um senão e que não é muito vulgar encontrar na filmografia deste realizador. É um filme muito linear, quase unidimensional.
Sabemos desde muito cedo a motivação do jovem Belfort e assistimos à sua fulgurante escalada no mundo de Wall Street.
Ele atraia as atenções e a certa altura um agente (Kyle Chandler) entra em cena para perceber a dimensão dos negócios do corrector. E de imediato surge a expectativa que vamos assistir a uma perseguição de gato e rato que verdadeiramente não acontece.
Naturalmente que esperamos que sejam dois homens iguais entre si, mas em lados opostos da cerca.
Mas sabemos muito pouco sobre este agente. E apenas esporadicamente assistimos ao seu despique com Belfort, o que é pena porque gostamos sempre ver os opostos a esgrimirem as suas melhores armas.

Desta maneira Scorsese falha uma desejada e motivadora tensão e dialéctica entre estes dois homens. Teria introduzido uma outra dimensão ao filme.
Por outro lado, sobra tempo suficiente para perceber os níveis de devassidão e de excessos da vida de Belfort e da sua equipa.

Naturalmente que Leonardo Dicaprio como Jordan Belfort impera. Tenho alguma dificuldade em vê-lo como um grande actor, mas admito que o seja.
Em certos momentos ele torna-se brilhante, quando ele nos olha directamente nos olhas e fala connosco, quando ele motiva as suas tropas. Verdade seja dita o filme é todo dele, se bem que o seu principal parceiro de negócios e colega de loucuras, Donnie Azoff, muito bem desempenhado por Jonah Hill lhe dê um suporte considerável.

Scorsese com imaginação, (alguma) subtileza e inteligência introduz poder, sexo, nudez, drogas, ganância, a ausência de regras ou como as contornar, o viver a vida no seu luxo máximo, ao longo de três horas sem grande pruridos.
Assistir a um filme mal comportado e politicamente incorrecto de Martin Scorsese, é um luxo.




segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014