Apesar de ser muito menos mediático e estar confinado a uma só região, o Cante Alentejano tem mais piada que o Fado.
Piada no sentido de cativar, chamar a minha atenção. Diz-me mais e parece-me mais genuíno. Os instrumentos estão frequentemente ausentes.
São cantos polifónicos, coros de vozes, cujas origens são remotas, mas não se sabe bem quão remotas poderão ser. Há um aura de desconhecimento, uma nebulosidade que envolve o cante alentejano.
Sabe-se que está ali à nossa frente, não se pensa de onde terá surgido. Os cantares mesmo que antigos cantam sempre o presente. O passado e futuro não estão presentes nas letras.
As suas letras desde sempre que retratam o dia a dia, do Alentejo, as suas planícies, o sol, da monda da terra, dos dias longos e duros. A relação que as pessoas têm com o campo, com o seu trabalho, com a natureza que tal como o seu labor pode ser igualmente agreste.
O canto alentejano resulta num exorcizar, corporativo, polifónico, a dureza de todos estes ambientes.
As pessoas reúnem-se entre si ao final do dias, nas melhores salas possíveis para cantar. As tascas e tabernas. Rodeados de petiscos das suas terras. Celebram a sua terra, o seu Alentejo.
É uma festa. Não é formal. Acabam, vão para suas casas e no dia seguinte tudo recomeça.
Raramente, não é da sua natureza, ter letras marcadamente políticas, incitar à revolta, ou ser um meio de intervenção.
As letras vêm da terra. Não se sabe de onde vêm elas, ou quando ou quem as escreveu. A sua transmissão, o seu cantar é feita oralmente. Elas brotam das vozes, dos campos e dos tempos.
O cante alentejano ao ser considerado esta semana, como Património Imaterial da Humanidade, não vai resultar num mediatismo dos seus cantores, talvez indirectamente. Quem for ao Alentejo ouvir este canto, não vai querer muito provavelmente ouvir um determinado grupo. O que vai querer conhecer a região de onde ele provém.
Esta classificação homenageia muito mais o que rodeia socialmente as planícies alentejanas que o canto em sim, uma vez que este faz parte de um todo maior, não se dissocia da região onde nasceu.
No fado procura-se apenas o fado, um nome de um fadista conhecido. Depois procura-se a sua envolvência. O fado canta o destino, a fatalidade, o cante alentejano, canta a vida.
O Fado fala apenas por si. O Cante Alentejano fala por toda uma região.
Booommmm fffiiiim deeeee semaaaaaaanaa :)
Cantado com sotaque alentejano, meio arrastado com o tronco a abanar lentamente de um lado para o outro. E de caminho juntem as vossas vozes à minha para termos um... péssimo coro alentejano. ;)