sábado, 17 de setembro de 2016

uma música para o fim de semana - David Fonseca


Nem acredito que estou a colocar uma música uma música para o fim de semana de David Fonseca.
É um daqueles cantores pelo quais tenho um ódio de estimação. Mudo de estação quando este começa cantar.

Mas não aconteceu isso comecei a ouvir Ela Gosta de Mim Assim. Pelo contrário. Depois tentei perceber porquê.
A música é definitivamente orelhuda. É ritmada, bem desenhada, algo tropical, divertida e irreverente. A letra está bem conseguida e gosto particularmente da dança das rimas.
Algo nesta música era-me familiar, reconhecível. Fui à procura do vídeo.

Fiat lux! É um cover do vídeo You Can Call me Al do Paul Simon com o actor Chevy Chase! E eu sou mesmo fã de Paul Simon.
David Fonseca encenou ao pormenor o vídeo. A cor a disposição dos adereços, a forma com são manuseados. Se Paul Simon tem Chevy Chase, David Fonseca tem (o brilhante) Bruno Nogueira.
Esta coisa de fazer um cove de um vídeo é castiça. O pessoal todo faz covers de músicas, não de vídeos.

Ela Gosta de Mim Assim, do EP digital Futuro - Outtakes deste ano, não é um cover da música de Paul Simon, mas os elementos que me fizeram atrair para esta música do David são exactamente os mesmos que estão presentes em You Can Call Me All, do fabuloso álbum de Graceland de 1986.
Está explicado! Continuo a não gostar de David Fonseca mas sim de Paul Simon. Ufff!! Estou aliviado.

A seguir à letra da música para este fim de semana, está o vídeo original de Paul Simon. Comparem.
Sem dúvida que David Fonseca fez um excelente trabalho de produção e encenação no vídeo, mas a construção do tema está igualmente excelente. A César o que é de César.


Bom fim de semana :)




Ela gosta de mim assim
Ela gosta de mim assim

Há terra à vista
Hey maquinista prego a fundo
Que o inverno não é a minha estação
Mesmo o outono dá tanto sono
Alarme só na primavera
E nunca durmo no verão

Acordo tarde e perco a hora
Mundo lá fora
Dizem que eu sou um caso estranho
A ovelha mais negra do rebanho

E ela gosta de mim assim
Ela é perfeita para mim
Ela gosta de mim assim
Do principio ao fim

Sou ave rara
Sou fruta cara
Fugi dessa gaiola
Não sou de cativeiro

E assim eu fiz
Fui , fui ser feliz
Ser feliz é trabalho que dura o ano inteiro

E troco tudo por um beijo
Quando te vejo
Leva o meu ouro, meu marfim, meu sol, uma bola de berlim
Este caminho é só meu
E olhos postos no céu
E o que eu tenho é tão pouco, mas tudo o que eu tenho é teu
Vamos ...

E ela gosta de mim assim
Ela é perfeita para mim
Ela gosta de mim assim
Do principio ao fim

E ela gosta de mim assim
Ela é perfeita para mim
Ela gosta de mim assim
Do principio, principio ao fim




sexta-feira, 16 de setembro de 2016

série Vencedores - Luís Gonçalves






Há uma semana, Portugal ganhava a sua primeira medalha paraolímpica nos jogos de Rio 2016.
Luís Gonçalves, ganhou bronze, na prova dos 400 m, onde é campeão do mundo em título, na categoria deficiência visual T12 - campo visual inferior a 5 graus - ao terminar em terceiro atrás dos atletas chinês e marroquino.
Em 2008 nos jogos de Pequim, ficou com a medalha de prata pendurada no pescoço.


As deficiências visuais estão divididas em duas categorias - T (corridas e saltos) e F (lançamentos) que são avaliadas entre 11 e 13.
11 - a lesão mais grave e impeditiva. Completa ausência de percepção de luz ou um campo visual inferior a 5º,
12 - classificação intermédia da lesão visual,
13 - lesão ligeira e o mínimo exigido para ser considerada deficiência, um ângulo visual inferior a 20º


A admiração que tenho por estes atletas é imensa. A sua capacidade de superação é inegavelmente superior ao atleta comum.
Não só pela condição física e social, mas também pela quase ausência de apoios privados e públicos, falta de reconhecimento público a nível dos multimédia e de enfrentarem diariamente um mundo que está muito pouco, ou nada adaptado às suas especificidades arquitectónicas,

Vamos ver se o nosso hiperactivo e fala-barato líder presidencial se vai lembrar deste (e de outros) atleta na altura das condecorações.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

sem eira nem beira



Uma vez disseram-me que de certeza que eu tinha genes dos povos germânicos visigodos ostrogodos (os godos) e na brincadeira ainda acrescentaram que era viking.
Fiquei a pensar nisso. Esta possibilidade atraiu-me fortemente.

Sei que uma percentagem da nossa herança genética, tem origem nos neandartais. Esta percentagem pode oscilar entre 1 a 4%.
Isto é extraordinário. Neandartais e homo sapiens cruzaram-se entre si, partilharam genes com descendentes viáveis, e nós herdamo-lo.
Os caucasianos devem a cor da sua pele a eles. É uma das mais evidentes presenças genéticas oriundas dos neandartais.

Esta mistura sempre me agradou. É como os cães rafeiros ou os gatos de rua. A sua mistura de genes torna-os mais robustos e também mais fascinantes. Olho para eles e consigo imaginar sem dificuldades milhares de gatos a cruzarem-se. Muitos deles provindo de vários países, partilhando várias culturas com os seres humanos. A sua história é longa.
Não foram criados ou aperfeiçoados pelo homem, seleccionados, ou o resultado do capricho e vaidade humana.


Não sei exactamente que genes, para além dos neandartais, me tornam eu, mas espero que sejam variados. Quanto mais variados eles forem, mais fascinante serei geneticamente.
Espero que venham de comunidades antigas, que tenham vadiado por esse mundo fora. Que tenham atravessados planícies geladas, atravessado desertos e subido montanhas para se aventurarem no horizonte que não conseguiam ver. Que tenham pintado cavernas com as suas mãos e ramos de árvores carbonizadas e esculpido totens e amuletos de argila e madeira. Que com os troncos ocos apodrecidos das árvores tenham descoberto que podiam fazer música, comunicar, fazer embarcações e atravessar mares.

Sou um cidadão do mundo. Mas espero, desejo, que a minha genética esteja ancorada em muitos milhares de anos, esteja impregnada de culturas e vivências diferentes, tornando-me mais que num vagabundo do mundo, também do tempo.






terça-feira, 13 de setembro de 2016

um poema de... Miguel Torga



Dies Irae

Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!


Miguel Torga, Cântico do Homem



domingo, 11 de setembro de 2016

9/11 15 - dor





Passam hoje quinze anos, sobre o dia que tornou todos os anteriores ainda mais obsoletos e os seguintes ainda mais difíceis de adivinhar.

Quinze anos depois continuo a petrificar-me, a não estar preparado para ver as imagens que já vi dezenas de vezes. Cada uma dessas vezes é sempre a primeira.
E continuo a espantar-me com aquilo que o ser humano consegue fazer ao ser humano.

Certo, é o choque para todos nós e a dor para muitos.