A sugestão de "uma música para o fim de semana" é algo de muito pouco usual: a declamação de um poema, musicado mas ainda assim de não da forma que estamos habituados.
Este poema de Pedro Oom, Pode-se Escrever, atrai-me particularmente. Ao lê-lo a palavra imediata que mentalmente se forma é rebelião.
Mas ao contrário do que se diz que devemos confiar nas primeiras impressões, ou no nosso instinto, rapidamente recuo nesta palavra.
Penso depois numa outra: alternativa. Fazer algo mas de maneiras de diferentes, novas possibilidades, contornar regras, mantendo-as no entanto.
Entretanto surge a terceira palavra e de novo se diz que à terceira é de vez: liberdade.
O poema Liberdade de Fernando Pessoa, quando afirma que "
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma."
Pedro Oom que morreu, ataque cardíaco, no dia a seguir à conquista da liberdade, tem neste seu poema a inquietação da liberdade.
Façamos as coisas, mas com a liberdade de as fazermos como as quisermos.
Escrevamos ou não escrevamos, mesmo que sem caneta, ou saber como, o façamos.
Bom fim de semana 😉✍
Pode-se escrever
Pode-se escrever sem ortografia
Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua sem saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar numa caneta sem haver escrita
Pode-se pegar na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se escrever nada sem sabermos
Pode-se escrever sabermos sem nada
Pode-se escrever nada
Pode-se escrever com nada
Pode-se escrever sem nada
Pode-se não escrever
Pedro Oom, in "actuação escrita" &etc (1980)