sábado, 2 de dezembro de 2023

uma música para o fim de semana - Pode-se Escrever (um poema de Pedro Oom)


A sugestão de "uma música para o fim de semana" é algo de muito pouco usual: a declamação de um poema, musicado mas ainda assim de não da forma que estamos habituados.

Este poema de Pedro Oom, Pode-se Escrever, atrai-me particularmente. Ao lê-lo a palavra imediata que mentalmente se forma é rebelião.
Mas ao contrário do que se diz que devemos confiar nas primeiras impressões, ou no nosso instinto, rapidamente recuo nesta palavra.
Penso depois numa outra: alternativa. Fazer algo mas de maneiras de diferentes, novas possibilidades, contornar regras, mantendo-as no entanto.
Entretanto surge a terceira palavra e de novo se diz que à terceira é de vez: liberdade.
O poema Liberdade de Fernando Pessoa, quando afirma que "

"Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma."

Pedro Oom que morreu, ataque cardíaco, no dia a seguir à conquista da liberdade, tem neste seu poema a inquietação da liberdade. 
Façamos as coisas, mas com a liberdade de as fazermos como as quisermos.
Escrevamos ou não escrevamos, mesmo que sem caneta, ou saber como, o façamos.


Bom fim de semana 😉





Pode-se escrever

Pode-se escrever sem ortografia
Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua sem saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar numa caneta sem haver escrita
Pode-se pegar na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se escrever nada sem sabermos
Pode-se escrever sabermos sem nada
Pode-se escrever nada
Pode-se escrever com nada
Pode-se escrever sem nada
Pode-se não escrever


Pedro Oom, in "actuação escrita" &etc (1980)




quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Greenwashing (COP28) começa hoje



Se há COPs despudoradas e cínicas, a deste ano, a COP28, deve ser a maior de todas. E a mais inútil, também.
Realiza-se nos Emirados Árabes Unidos. Começa hoje, 30 Novembro e vai até 12 de Dezembro, na provavelmente cidade mais insustentável do mundo (a par de Las Vegas), o Dubai.

Uma cidade louca, esbanjadora de recursos naturais, humanos e fianceiros, criada para florescer em pleno deserto. Um país, uma cidade, uma sociedade, cuja inesgotável riqueza provém da venda de combustíveis fósseis, o petróleo. Não fosse este e não havia nada.
Temos portanto um dos maiores produtores do mundo de petróleo, uma gigantesca petroeconomia, a querer mostrar, convencer o mundo, já de si pouco dado a ser convencido, que este se deve converter à energia verde, às renováveis, a menores emissões gases poluentes com origem nos combustíveis fósseis.

E se os grandes consumidores e produtores de petróleo estão todos juntos num país destes? Quem fica a ganhar? Todos!! E quem fica a perder? Pois, o planeta.
O que todos nós esquecemos, melhor, queremos esquecer, é que quando o planeta perde, todos, mas todos, perdem!!

Vai uma curiosidade, uma... coincidência? 
O presidente da COP28 é o Sultan Ahmed al Jaber, que além de ser o ministro da indústria dos EAU, é também o responsável máximo da Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC), que por sua vez também é um dos maiores produtores mundiais de petróleo
Está a ser acusado de ter por verdadeiro objectivo, realizar negócios envolvendo prospecção e exploração de petróleo e gás natural.

Tem tudo para dar certo esta cimeira mundial para o clima e alterações climáticas. Bem, tal como todas as anteriores...