sábado, 17 de outubro de 2015

uma música para o fim de semana - Joana Gama



Für Alina (Para Alina) é de um simplicidade tremenda.
Há uma breve chamada de atenção, um muito curto pigarrear tenso e algo irritado do piano, tipo "olhem lá para mim que vou começar" e logo após isso ouve-se nota a nota, e entre cada nota, ouve-se o silêncio a ligá-las nas perfeição.

Dos poucos menos de três minutos que esta composição do estoniano Arvo Pärt em honra de uma amiga de família, chamada Alina, que aos dezoito anos, partiu de casa para ir estudar para Londres, dura, uma parte importante dela é para escutar o silêncio.


A pianista bracarense Joana Gama, nascida em 1983 e que aos cinco anos (!) estava no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian a estudar piano, consegue dar uma solenidade enorme, e bem merecida, a esta peça de piano na forma como a prepara antes de a executar.

Num dia em que o vento e a chuva, estão particularmente irrequietos, ter a simplicidade do piano de Pärt a acalmá-los é um privilégio.


Bom fim de semana :)




sexta-feira, 16 de outubro de 2015

dia mundial da Alimentação


Hoje é o dia mundial da Alimentação.
É muito tentador colocar fotografias de gente a morrer à fome, crianças subalimentadas, para mostrar o privilégio que é termos regularmente comida no prato e o quanto absurdo que é deitar comer fora ou dizermos que estamos cheios e que não queremos mais.
Somos responsáveis pelo que pedimos e pela quantidade de comer que nos colocam num prato num restaurante e somos ainda mais responsáveis por aquilo que nós colocamos nele.

Comprar mais do que é necessário, mais do que se consome, aproveitar por excesso as promoções.
Não levar para casa o que sobrou das refeições, deficientes condições de armazenamento e refrigeração, cálculo por alto das necessidades das superfícies comerciais, seus fornecedores e produtores.
Políticas comerciais que fazem que seja preferível mandar fora excedentes do que baixar os preços, excesso de produção que não é escoado para também não provocar uma queda de preços, gera uma quantidade de desperdício alimentar obscena.

A deficiente gestão dos prazos de validade por parte dos produtores e do consumidor, são igualmente fontes de desperdício.
A grande maioria destes prazos estão por defeito. Há uma margem de segurança muito grande entre o que prazo de validade anuncia e aquele que é efectivo.
Por exemplo a industria leiteira, aperta excessivamente estes prazos. Quanto mais se desperdiçar devido a eles, mais esta industria vende.
Conforme os produtos em causa, o prazo de validade pode variar entre mais de uma semana a vários meses.

A, desnecessária, calibração aos produtos hortícolas e frutícolas que impõe um determinado peso, aspecto, dimensão, causa que, quase um terço destes produtos não cheguem sequer ao consumidor.

Segundo o Projecto de Estudo e Reflexão, liderada pela CES/ UNL, sobre o desperdício alimentar, no que respeita a Portugal, cerca de 17% da comida que é produzida no nosso país é desperdiçada ainda antes de esta chegar aos nossos pratos.
Estima-se que anualmente em Portugal, é desperdiçado um milhão de toneladas de alimentos.
Cerca de um terço desses alimentos são desperdiçados em nossas casa!
É uma loucura!

Se pensarmos que associado ao desperdício alimentar está associado um excesso de produção, de consumo de combustíveis, de energia, de água, esgotamento de pastos, mais a gigantesca pegada ecológica devido à agropecuária, temos um problema não só de gestão alimentar como de emissão de gases de estufa.


Por vezes um gráfico que entra pelos nossos olhos dentro, é muito mais eficaz e chocante que uma fotografia de alguém sem forças para se levantar por falta de alimentação.






quarta-feira, 14 de outubro de 2015

um poema de... António Nobre





À Luz da Lua!

Iamos sós pela floresta amiga, 
Onde em perfumes o luar se evola, 
Olhando os céus, modesta rapariga! 
Como as crianças ao sair da escola. 

Em teus olhos dormentes de fadiga, 
Meio cerrados como o olhar da rola, 
Eu ia lendo essa ballada antiga 
D'uns noivos mortos ao cingir da estola... 

A Lua-a-Branca, que é tua avozinha, 
Cobria com os seus os teus cabellos 
E dava-te um aspeto de velhinha! 

Que linda eras, o luar que o diga! 
E eu compondo estes versos, tu a lel-os, 
E ambos scismando na floresta amiga...

António Nobre
- Só -

terça-feira, 13 de outubro de 2015

iranianas


Há um mês andava por terras do Irão.
Uma das coisas que salta de imediato à vista, quando se viaja por um país muçulmano, é as mulheres andarem de cabeça coberta, por vezes todo o corpo.
O Irão não é excepção.

Quando vi este vídeo no Observador reconheci de imediato o trajecto histórico do véu islâmico.

Nas primeiras décadas surge o lenço no cabelo, apenas resultante da escolha da mulher, não porque fosse imposto.

Nos anos seguintes os cabelos mostram-se em todo o seu esplendor e sofisticação, até à altura em que a revolução islâmica levada acabo pelo Ayatola Khomeni em 1979, impõe, de um momento para o outro o uso do véu islâmico. Por isso a década de oitenta amanhece a mostrar o chador. Corpo coberto apenas com o rosto visível.

Ao longo das décadas seguintes, assiste-se a dois momentos importantes na vida das mulheres: o Green Movement e o recuo do hijab relativamente à cabeça.




O Green Movement ocorreu em 2009 quando Mahmoud Ahmadinejad foi eleito presidente.
A sua eleição levantou sérias dúvidas quanto à sua legitimidade. Como consequência houve manifestações contra esta eleição. Os manifestantes usaram simbolicamente a cor verde como representação do pacifismo das mesmas. Estas manifestações foram violentamente controladas, dando origem a dezenas de prisões e mortes.

O recuo do lenço, do hijab, que a parte final do vídeo mostra, é algo que está perfeitamente visível nos dias que correm. Como manifestação silenciosa do seu querer e libertação, as mulheres, particularmente as mais jovens, vão cada vez mais libertando os seus cabelos e reganhando paulatinamente o seu protagonismo.