sábado, 16 de maio de 2015

uma música para o fim de semana - B. B. King


O blues nasceu cedo para mim com três grandes nomes: Muddy Waters, John Lee Hoker e B. B. King.
Dos três, não tenho dúvida que o apanhador de algodão no delta do Mississipi e mais tarde conhecido numa estação de radio de Memphis, como Blues Boy (B. B.) é o maior desta santíssima trindade do blues.


Expo 98, pavilhão do Estados Unidos da América, quatro de Julho.
De guitarra na mão e sentado numa cadeira, B. B. King começa a cantar arrastando a sua rouca voz e dedilhando languidamente corda a corda, saboreando cada nota solta, da Lucille.
Estava uma lenda do blues, do gospel e um dos melhores guitarristas do mundo à minha frente. E eu estava a ouvi-lo. Arrepiei-me todo.




Lembro-me de ir cedo para o anfiteatro do pavilhão, lembro-me de o espaço estar cheio, a abarrotar, bastante calor e de isso não me incomodar.
Não me recordo minimamente que temas terá tocado, mas sei Lucille esteve presente.

Em Lucille, ele conta como o relacionamento começou. É uma história de amor dedilhada corda a corda.
B. B. King conta essa história como se estivesse em frente a uma imensa plateia vazia. Canta para si próprio. Revive-a, conta esse seu apego, essa ligação e agradecimento à sua companheira fiel.
Afirmou um dia que quando parava de cantar com a sua voz, passava a cantar com as notas de Lucille.


A história de Lucille é bem conhecida. O bluesman conta como foi.
Foi em Twist, algures no Arkansas, finais da década de quarenta, num clube nocturno.
Dois homens disputam uma mulher e iniciam um incêndio. Toda a gente fugiu incluindo o músico convidado de vinte e poucos anos, ele próprio.

No pânico generalizado que se gerou, este percebeu que tinha esquecido a sua guitarra Gibson lá dentro. Volta para o recinto, retira-a das chamas e decide baptizá-la de Lucille em honra do nome da mulher que tinha sido disputada.
Curiosamente B. B. King nunca a viu nem chegou a conhece-la.
Será que a mulher terá sabido, percebido ou ouvido a voz de uma mítica guitarra com o seu nome?

Doravante todas as suas guitarras, até ao final da sua vida, seriam sempre Lucille, quase todas elas pretas e todas elas Gibsons.
Há n guitarras Lucille, várias edições, espalhadas por esse mundo fora, mas nenhuma toca tão bem, nenhuma merece o nome que tem, como as que passaram pela alma do ex-apanhador de algodão.

Lucille calou-se no passado dia 14, quinta-feira. Foi um intenso e prolífico relacionamento de sessenta e seis anos. As suas cordas não voltarão a serem acarinhadas por B. B. King.
A sua magia, a sua nostalgia e lamentos silenciaram-se.
Também não deverão ser afagadas por mais ninguém. Ninguém a iria compreender e Lucille não quer ser compreendida por mais ninguém, que não o seu homem, B. B. King.


The sound that you're listenin' to
Is from my guitar that's named Lucille



Foi um prazer ouvir-vos naquele dia de verão de 1998.
Nunca esquecemos o dia em que uma lenda está à nossa frente.

Bom fim de semana :) e boa viagem B. B. King. Volta sempre.





The sound that you're listenin' to
Is from my guitar that's named Lucille
I'm very crazy about Lucille
Lucille took me from the plantation
Or you might say brought me fame

I don't think I can just talk enough about Lucille
Sometimes when I'm blue it's seems like Lucille
Tryin' to help me callin' my name

I used to sing spirituals and I thought that
This was the thing I wanted to do
But somehow or another, when I went in the Army
I picked up on Lucille, started singin' blues

Well, now when I'm payin' my dues
Maybe you don't know what I mean when I say payin' my dues
I mean when things are bad with me
I can always, I can always you, you know, like depend on Lucille

Sorta hard to talk to you myself
I guess, I'll let Lucille say
All of a few words and then

You know, I doubt if you can feel it like I do
But when I think about the things that I've gone through
Like, well, for instance, if I have a girlfriend and she's misusin' me
And I go home at night, maybe I'm lonely
Well, not maybe, I am lonely

I pick up Lucille and then ping out those funny sounds
That sound good to me, you know
Sometimes I get to play it where I can't even say nothin'
Look out
Sometimes I think it is cryin'

You know if I can sing pop tunes like
Frank Sinatra or Sammy Davis Jr.
I don't think I still could do it
'Cause Lucille don't wanna play nothin' but the blues
And I think I'm, I think I'm pretty glad about that
'Cause don't nobody sing to me like Lucille, sing Lucille

Well, I'll put it like this, take it easy, Lucille
I like the way Sammy sings and I like the way Frank sings
But I can get a little Frank, Sammy, little Ray Charles
In fact all the people with soul in this

A little Mahalia Jackson in there
One more Lucille, take it easy now

You know, I've met a lot of you months ago
A lot of you wanna know why I call the guitar, Lucille
Lucille has practically saved my life two, three times
No kidding, really has

I remember once I was in an automobile accident
And when the car stopped turnin' over, it fell over on Lucille
And it held it up off of me, really, it held it up off of me
So that's one time it saved my life

The way, the way, I, uh, I came by the name of Lucille
I was over in Twist, Arkansas, I know you never heard of that
But happened and one night, the guys started a ball over there
You know started brawlin', you know what I mean

And the guy that was mad with this old lady
When she fell over on this gas tank that was burnin' for heat
The gas ran all over the floor and when the gas ran all over the floor
The building caught on fire and almost burned me up
Tryin' to save Lucille

Uh, oh, I, I imagine you're still wondering why I call it Lucille
The lady that started the brawl that night was named Lucille
And that's been Lucille ever since to me

One more now, Lucille
Sounds pretty good to me, can I do one more?
Look out, Lucille
Sounds really good, I think I'll try one more, alright


sexta-feira, 15 de maio de 2015

sobre o talvez


Pedro Mexia é o homem dos sete oficios no mundo das letras,
Poeta, escritor, ensaísta, cronista, bloger, tradutor, dramaturgo, argumentista por uma vez e é um intelectual que não é.
Na prática, deve ser mais conhecido pelo Governo Sombra da TSF do que por aquilo que é.

No dia 24 de Abril, Pedro Mexia deu uma entrevista ao I.
A última pergunta que o entrevistador lhe faz é bastante curiosa:
- Que palavra salvarias se apenas pudesses salvar uma única?
- Talvez. Salvava a palavra “talvez”.


Pensei nesta pergunta. Não na resposta que daria, essa ficará para outro post, mas na resposta que Pedro Mexia deu.
Definitivamente eu não salvaria esta palavra. 

"Talvez" é uma fuga, é ausência de compromisso, um "nim", a negação da opinião, 
É vaga e sem conteúdo. Personifica o receio de um escrutínio posterior. 
"Talvez" é um eufemismo, uma forma mais simpática do "não me chateies mais".

Um encolher de ombros sob a forma de uma palavra, a concretização do desinteresse.
Talvez sim, talvez não. Talvez um dia, talvez dois.
É uma seta que apontando para todos os lados simultaneamente, não indica nenhuma direcção.

Uma despudorada caixinha de segredos, de quem sabe mas não quer que saibam que sabe.
Uma palavra que incomoda quem a ouve, porque fica sozinho. Fica sem apoio e pode ficar na merda.

Não uso o "talvez", mas também não fujo ao seu uso. Vou buscar palavras de roupagens talvez mais sofisticadas, cuja vacuidade também está presente, mas menos perceptivelmente.
São mais positivas. O conselho, a opinião está mais presente, mas não totalmente.
Creio, penso, é possível, é provável, são palavras mais reconfortantes. São mais amigas, mais positivas e discretas do "talvez".
São eufemismos, mais, como se diz...??? User friendly!


Por tudo isto "talvez" é uma palavra inteligente que talvez não mereça ser salva. 




terça-feira, 12 de maio de 2015

memórias


Estamos talvez nos arredores de Viseu, Trás-os-Montes, ou nas terras serranas.
Está um dia de sol. Provavelmente, um dia primaveril.

Um pastor anda calmamente no meio de um pasto verde, com um cajado a orientar o rebanho de ovelhas. Uma cabaça pendurada serve lhe acalmar a sede e o chapéu protege-o do sol que ainda não é inclemente..
O seu fiel cão pastor anda ao lado dele ajudando no pastoreio.

E então...





Há vintes anos, em 1995, Edson Athayde criava aquilo é até hoje o melhor anúncio da publicidade portuguesa.
O actor João Vaz era o pastor. Em apenas trinta segundos pôs Portugal a responder ao telefone:

- Tou xim? Um momento.. É PARA MIM" .

E a gargalhada no fim?? Vale quase o anúncio todo!