quinta-feira, 16 de junho de 2011

até daqui a umas semanas


A Esteira vai seguir as pisadas do irmão Carimba o Passaporte, vai de férias durante umas semanitas.
Espero que ele encontre o que deseja. Se encontrar vai ser o máximo!




Até lá pessoal e entretanto pode ser que com um pouco de sorte o Fernando Nobre não se torne o próximo Presidente da Assembleia da República e os juízes que andaram na balda (a copiarem forte e feio) apanhem o que devem: um chumbaço!!
Se bem que vergonha não é roubar, é ser apanhado a roubar... ;)

terça-feira, 14 de junho de 2011

um poema de... Álvaro de Campos


Ontem a propósito da comemoração do 123º aniversário do nascimento de Fernando Pessoa, encontrei no Facebook alguém que tinha lançado este poema de Álvaro de Campos.

É sobre cansaço. Não o fisíco, mas o da alma.
Aquele cansaço que vem de dentro, das entranhas, que torna a visão turva e o pensamento obscuro.
Aquele cansaço que não se aplaca e que pesa uma enormidade.

Não conhecia este poema. Grande pecado meu!
Aqui fica a minha redenção.


O que há em mim é sobretudo cansaço —

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...


Álvaro de Campos
09.10.1934

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pessoa 123


Dá vontade de parafrasear este dia com o spot do 5 Minutos de Jazz de José Duarte:

1...2...3, 123 anos de Fernando Pessoa!

Usualmente quando se trata de efemérides relacionadas com Fernando Pessoa, recorro a poemas de Ricardo Reis, o meu heterónimo preferido, ou então ao ortónimo, Fernando Pessoa.
Mas desta vez levo ao palco um poema de Álvaro de Campos que gosto muito - Apontamento.

Segundo a biografia que Fernando Pessoa lhe atribuiu, ele nasceu em Tavira a 15 de Outubro de 1890. É alto com cerca de 1.75m e estudou engenharia naval em Glasgow, Escócia.


Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.


Álvaro de Campos 1929

para além do sonho


A Nasa na sua página APOD do passado dia 8 de Junho publicava esta fotografia.
Mostra o vaivém Endeavour acoplado à ISS.

O Endeavour foi o quinto e último vaivém a ser construído.
O seu objectivo era substituir o Challenger que explodiu a 28 de Janeiro de 1986.
Fez o seu último voo em Maio passado, 19 anos depois de ter voado pela primeira vez em Maio de 1992.

Esta fotografia foi tirada a partir da nave de abastecimento russa Soyuz TMA-20.
É uma daquelas fotografias cuja beleza vai para além do que somos capazes de sonhar.