sábado, 11 de julho de 2015

uma música para o fim de semana - pLoo



Quinteto pLoo. Lançou o seu primeiro álbum, Estereograma em abril deste ano,
Landou é jazz nacional tão fixe como um dia de sol sem excesso de calor, que amanheceu num manto de neblina que se dissipa por volta do meio-dia.

Quem não acreditar que olhe para o Daniel Dias a curtir a música do tema Landou. E façam o mesmo porque o jazz é super divertido e descomplexado. 
Tão longe do elitismo que frequentemente lhe está associado.


Paulo Costa com a bateria,  António Aguiar no baixo; Eurico Costa toca guitarra e Daniel Dias em trombone e a completar a linha de sopros, João Mortágua está no saxofone.


Bom fim de semana :)







sexta-feira, 10 de julho de 2015

Orelhas de borboleta



Andar nas franjas da normalidade é complicado.
É uma chatice ser-se diferente, estar fora do grande número. Paga-se caro. É como andar de metro.

Ser pequeno não se chega às pegas que estão penduradas nos varões. Ser-se alto, leva-se com as pegas na cara porque as mãos vão seguras no varões.

Ou somos o anão, ou o gigante. Normal é que não.

Não é só a altura.
Tudo serve. O tamanho das orelhas, a cabeça, a marca da roupa que se veste, o que se lê, o que se ouve, o que se vê e como se vê.

O mundo não está feito para pessoas diferentes em termos físicos e muito menos na forma de como ele é pensado.
O mundo está formatado e gosta de pessoas formatadas. Sabe como lidar com elas. Estão ao seu gosto.
Mas quando este exclui, rejeita, as cartas que estão fora do baralho, as pessoas que não se encaixam num modelo padronizado e pré-determinado, pode estar a perder trunfos importantes. E pior que isso. Está a magoá-los.

Quem é diferente, tem obviamente um grande (o Mundo) e solitário (o Eu) problema para enfrentar: a sua diferença.

É aqui que surge o Orelhas de Borboleta.
É uma grande lição, muito terna, muito simples, sobre como a enfrentar.
Li em vários lados que é um grande livro para os educadores lerem aos putos. Talvez.
Mas não consigo imaginar quem melhor possa e saiba fazer isso que os pais.
Admitindo que o sabem fazer, admitindo que o querem fazer e que têm a paciência e o carinho para o fazer.

A mãe de Mara é uma dessas pessoas que sabem exactamente o que fazer e como o fazer.
Mara é uma menina carenciada e pobre. Isso torna-a diferente dos outros colegas de escola. É uma carta fora do baralho, desformatada. Não porque o fosse, mas porque a tornavam.

Através da mãe foi ganhando consciência das suas diferenças, daquilo eram consideradas e apontadas como fraquezas.
Com a sua ajuda, ela conseguiu transformar essas diferenças em pontos fortes, através de uma filosofia positiva e bonita.

" A Mara é orelhuda!"
"Mãe, tu achas que eu sou orelhuda?"
"Não filha. Tens é orelhas de borboleta."
"E como são as orelhas de borboleta?"
"São orelhas que revoluteiam sobre a cabeça e pintam as coisas feias de mil cores"

Depois depois vai desconstruindo, dando a volta sempre por cima e aumentando a sua auto-estima, tudo o que os colegas de escola apontam criticamente a Mara. 
O cabelo empastelado, a sua roupa, as suas meias rotas, sapatos velhos e tudo o que possa pensar.
Até a fome.

Mas maior que o problema e ainda mais solitário que ele, é a solução para a diferença. A integração do Mundo e do Eu num só conceito. Aceitar.

" A Mara é orelhuda! Ou vais dizer-nos que são orelhas de borboleta?"
"Não! São só orelhas grandes. Mas não me importa."


E o Pedro partiria livre. A voar...




terça-feira, 7 de julho de 2015

a irmã da Morte


A Morte andava chateada da vida.
A Vida estava atrasar-se nos seus pagamentos e isso estava a reflectir-se no estilo de vida da Morte.

Estava com dificuldades em pagar o apartamento, os seus vastos terrenos usualmente atraentemente negros e obscuros, estavam agora aqui e ali, manchados como um bolor que cresce ao longo de um tecto, com traços de verde, alguma luz e o que mais a horrorizava era um ribeiro começava a traçar aqueles sepulcrais espaços que outrora tanto a orgulhavam.

A saúde da Morte estava débil. Estava magra e estava a enfrentar uma séria depressão.
Ouvia, mais do que o normal, requiems, missas e marchas fúnebres.
Mal saía de casa, não falava com as outras Mortes, estava permanentemente deitada no sofá, com o seu cão, o Moribundo, deitado ao seu lado. Tinha a certeza absoluta que era uma das piores Mortes que já mais tinham existido ao longo dos milénios.

A sua tez estava mais pálida do que costume, a sua temperatura ainda mais baixa que o normal e a postura empertigada como um ponto de exclamação era substituída por um ponto de interrogação.
Andava com os pés a arrastar pelo chão marcando-o com as sua unhas compridas e aguçadas. As suas vestes negras muito surradas, sem o preto fulgurante dos tempos anteriores.

A sua casa estava cheia de almas espectrais tão amarrotadas e encarquilhadas que já nada saía delas, nem o mais ténue sopro. A morte tinha-as fumado até à exaustão.
Estavam todas espalhadas por todo o lado. Em cima do frigorífico, debaixo da mesa, das almofadas, ao lado dos sofás.

Repetia para si própria: o problema era a sua irmã gémea, essa traidora. Todas as moedas têm duas faces. A Morte não gostava particularmente da outra face. Praguejava ininterruptamente contra ela. A Vida.
Esta andava sempre atarefada. Vestia-se de uma maneira colorida. Tops, calções justos, mini-saia, cabelo apanhado num elegante rabo de cavalo ou deslumbrantemente solto. Tinha variadas e ruidosas pulseiras brilhantes e um piercing verde florescente no umbigo que fazia questão de exibir.

A Morte via a Vida, além de insuportável exibicionista, como uma caloteira. Alguém que dizia que pagava a trinta dias, quando na verdade fazia-o a noventa.
A colheita de almas andava atrasada, muito atrasada, rabujava a Morte.
A Vida no entanto mantinha o acordo escrupulosamente. O que ela gerava, a negra irmã ceifava. O deve e o haver das duas nunca falhava.
O Contabilista jamais aceitaria ou permitiria que estas contas dessem diferente de zero.

A Morte quando reflectia no assunto sabia que no fundo a culpa não vinha directamente da extrovertida irmã, mas sim das consequências do que ela punha neste mundo.
A questão estava toda na evolução das tecnologias.

Os carros estavam mais seguros, havia menos suicídios, as crises já não desesperavam tanto as pessoas, a saúde estava cada vez melhor e as pessoas demoravam mais tempo a morrer.
As penas de morte estavam a desaparecer aos poucos e poucos, Até a malária e a SIDA já tinham sido mais amigas que agora. O ébola ainda era eficaz mas apenas esporadicamente.
Detestava a AMI e afins e as vacinas espalhavam-se como uma praga.
Como uma peste, emendou a Morte na sua reflexão.


Como todas as Mortes precisava da sua dose diária de almas. Quando esta falhava ou era menor que do que precisava, a Morte ressacava.
Nessas alturas brandia a foice no ar como se quisesse decepar a estouvada da Vida que não pensava nas necessidades da irmã gémea.
Então decidiu fazer aquilo que as Mortes de todo o mundo eram ensinadas desde pequenas a evitar: os Arco-Íris.
Procurar um é como espreitar para debaixo da cama onde todas as crianças sabem que é lá que o bicho papão vivia. Não se escapa ao seu abraço que as leva para o grande buraco.

Sempre com os pés a arrastar, a Morte dirigiu-se ao Vale das Cores. Era aqui que eles viviam. Era local muito agitada. Havia sempre Arco-íris a entrar e sair do vale. A Chuva estava sempre mandá-los para os lugares que ela queria. Cumpriam a sua missão e voltavam para o Vale.

A morte escolheu o maior deles. O mais brilhante, mais intenso, o que tinha as cores mais bem definidas.
Subiu ao Arco-Íris e esperou. Num ápice a sua tez pálida adquiriu novas cores. Laranjas, azuis, vermelhos. Teve morte imediata. Os Arco-Íris são implacáveis com as Mortes.

O Destino, soube imediatamente o que tinha acontecido e sorriu.
Com a ceifas a estenderem-se cada vez mais no tempo, estava a enfrentar um excedente de Mortes.
É difícil despedir uma Morte. Estão muito protegidas pelos sindicatos e não é possível adaptá-las para outras funções. E ninguém as queria como colegas de trabalho.

Além que o Contabilista tinha-lhe dado insistentes recomendações para baixar as despesas do seu orçamento no subsector Mortes & Coveiros.


Inkheart


segunda-feira, 6 de julho de 2015

domingo, 5 de julho de 2015

Hoje na Grécia será assim...





Mas...

...com o Sim serão subjugados pela tirania agiota europeia, subjugados pela ganância da banca alemã.
Serão gregos de nome apenas. A sua soberania será perdida de vez.

O caos em que se encontram será maior, a dependência financeira será maior que nunca e a capacidade de pensarem por si próprios será a menor de sempre sem que sejam chantageados financeiramente e economicamente primeiro.

Nada vai mudar com o Sim. Os gregos vão continuar sozinhos. Os medicamentos vão continuar a faltar, a alimentação será racionada e o desespero manter-se-á.
O crescimento económico será uma miragem porque a Europa credora e predadora alimentar-se-á dele e não vai abdicar durante muito tempo desse festim.
A solidariedade europeia é uma vã miragem. Areia atirada para os olhos. Ela não existe.

O caixão do Sim é uma toalha europeísta atirada para o ringue para quebrar a vontade dos gregos, uma pata negra colocada sobre as suas costas sempre que estes tentarem fazer frente à vontade da Europa alemã, sempre que se quiserem levantar ou protestar.


... com o Não, os gregos caem no tapete. Mas vão levantar-se.  
É como os filmes do Rocky. Pancada até ao fim. A maior sova de sempre. Dentes partidos, olhos inchados, lábios rebentados, mãos que não se conseguem levantar, sangue por todo o lado. Mas depois vem o Eye of the Tiger, o homem renasce daquela sangria desatada e parte depois aquilo tudo. 
Será assim com os gregos.

Completamente Ko, caídos no chão, mas sem a pata negra sobre eles. Vão poder definir o que vão fazer, o que querem ser, que caminho percorrer. Vão poder retomar a sua soberania e a sua voz. 
E o que terão que passar até que isso aconteça, não será diferente do que estão a passar agora.
Mas só dependerão deles e das suas decisões. 

O Não permite-lhes o renascimento. É um acto de coragem. Mesmo que depois venham a escolher uma outra pata negra para se porem de baixo.
Mas aí já não se podem queixar. As asneiras, os excessos que cometeram, que os levaram até este ponto, até ao dia de hoje, terão que ser lições aprendidas.

E o mais espectacular do Não, é que a Europa alemã TEM também que aprender as suas lições.
Ela própria vai ter que aprender com os seus excessos, com os erros crassos cometidos, perceber que não é toda poderosa, perceber o novo e o verdadeiro significado de solidariedade e de soberania.

Não é um não à Europa. Será antes um não à Europa alemã e à sua obsessão da austeridade continua. Austeridade sobre austeridade, da ausência de esperança. 

A vitória do Não será uma fantástica oportunidade de a plutocrata Merkel e os seus béus béus, serem postos no seu devido lugar. Açaimados.


Qualquer que seja a decisão do referendo, a Grécia vai ter sempre que fazer pela vida e dar à perna. Também não pode estar à espera que lhes venham fazer as vontades. Em qualquer situação há um preço a pagar.

Eventualmente estar fora do euro alemão não tem que ser mau. 
Quem está de fora e deliberadamente de fora, não se queixa e não quer entrar para este clube que mostra ser ruinoso e que deu origem a políticos e a políticas ainda mais ruinosas e agiotas.