sábado, 21 de março de 2015

dia mundial da Árvore e da Floresta





uma música para o fim de semana - Cordis


Ele estava a ouvir-me com atenção, na sua gíria, diria que era "escuta activa".
Os seus olhos são de uns azuis muito bonitos que inspiram confiança e de vez em quando levava o cachimbo à boca soltando lentamente pequenas baforadas de fumo aromático.

Eu dizia-lhe que se eu mandasse no tempo, acabava com a Primavera e com o verão. As estações do ano passariam a ser: Outono, Inverno, Outono, Inverno.

Sabia que eu tenho um ódio de morte e uma repulsa visceral ao verão. Que o sol veranil deprime-me e tudo aquilo que ele representa.
A canícula, sol intenso, luz excessiva, praias invadidas, noites mal dormidas, multidões para onde quer que nos viremos, trânsito, caos, toda a gente a ir para o mesmo lado, para o mesmo sítio, pessoas a chamarem-se umas às outras aos gritos.
Ausência de sossego, de paz, de música.
Eu defendia tanto o Outono quanto abominava o verão.

A Primavera era para mim o tapete que anuncia a entrada do verão como uma campainha avisa a chegada das visitas, o que a tornava tendencialmente pouco amigável.

Sorriu, porque tudo aquilo tinha-lhe atravessado a memória. Recordava-se disso, porque poucas semanas antes, convictamente e de uma forma inabalável eu tinha desfiado à frente dele um longo rosário de queixas contra o verão.
Bastante menos visceralmente que eu, também ele não gostava do verão, mas defendia fortemente a sua estação eleita. A Primavera, o começo de tudo.

Baixou o braço que segurava o cachimbo até o cotovelo rasar a cintura e numa voz calma, pausada, bem soletrada e com os seus olhos azuis disse-me:
- Já pensou que sem a Primavera, não tinha Outono? Que outra estação lhe dá as folhas que tanto gosta de ver cair no Outono? Que outra estação lhe proporciona as cores que depois se transformam nos tons outonais que tanto o deliciam?

Fui apanhado em contra-mão. Sem capacidade de contra-argumentar.
Desse dia para a frente a sequência ideal de estações, passou a ser: Primavera, Outono, Outono e Inverno.

Ontem celebrou-se a chegada da Primavera. A tal estação que torna possível o Outono, tornou-se bastante mais tolerável para mim.
A música para este fim de semana é dedicada a ela.

Cordis é um duo de um piano (Paulo Figueiredo) com uma guitarra portuguesa (Bruno Costa).
O projecto Cordis existe desde de Setembro de 2008.
O seu objectivo é uma fusão muito curiosa de música clássica com os fados de Coimbra.

O tema que tocam não podia deixar de ser dedicada à Primavera - Canção de Primavera.


Bom fim de semana :)




dia mundial da Poesia - Inkheart





Numa recente entrevista dada ao jornal de literatura Porque Escreves?, Inkheart, diz que não nasceu, não tem nome. Tem uma alcunha.
Admitiu que é fascinado, pelo mundo das sombras, pela ausência de cor, pelos caminhos tortuosos e pela raiva. É atraído pelo vazio, porque é o vazio que o preenche.

A morte é algo que lhe atrai porque não consegue compreende-la. Vê-a com uma libertação. O fundo suave e almofadado de um poço negro.
Em tempos já a testou, já a procurou vária vezes, apesar de não ter sido aceite por ela. Agora não.
- "Um dia Ela há-de me encontrar e explicar-me o vazio de que sou feito."

Gosta de poesia, gosta de pequenos contos. Tal como as curtas metragens, afirma que é uma arte difícil de dominar, de ser concebida.
Num curto espaço de tempo, num curto espaço de palavras, tem que se desenvolver uma narrativa, eventualmente até uma personagem, Tem que ter um fim, Mesmo que seja fins abertos. Fins que não são fins.

Nessa mesma entrevista, afirmou-se como um poço de contradições, mas pouco interessado em explicá-las ou até desfaze-las.
Não acredita em explicações porque elas atropelam-se a si próprias. São confusas e pouco interessantes. Além que quem as pede, não as percebe, porque não são as querem ouvir.
Porque quem as faz, cede à tentação de o conduzir por caminhos que não são os seus, do que deixar ser o que é.
- "Não gosto de responder a perguntas pessoais porque sistematicamente elas são intrusivas."
Inkheart acrescenta:
"A eloquência do silêncio, o seu grito, o olhar, as expressões, são mais esclarecedoras que longas frases. Porque elas vêm do intimo, do âmago. São intrínsecas. Mas essas subtilezas não são entendidas por quem pede explicações. Quem precisa de explicações sobre o que somos, precisa da superficialidade. Não usa os olhos da alma. Prefere usar os olhos dos ouvidos."

Lombadas de Folhas, o jornalista, pergunta-lhe como Inkheart se define, como se vê ele próprio, nas suas próprias palavras.
- "Defino-me como um borrão de tinta da china caído sobre uma folha de papel"
Uma caneta preta de tinta preta, não para de rodar por entre os seus dedos.
- "É das suas ramificações espalhadas que nascem as letras com que escrevo. Por isso escrevo linearmente, despreocupadamente, frequentemente sem preocupações estéticas ou formais.
Gosto do ritmo e do colorido das rimas, de andar ao sabor delas como um vagabundo que salta de rua em rua, à procura de nada."

Lombadas faz uma última pergunta.
- Quais os poetas que gosta mais?
- Fernando Pessoa, Florbela Espanca e António Aleixo
O jornalista abanou a cabeça para cima e para baixo porque tinha compreendido o alcance e a abrangência daquela resposta, assim como a diversidade que ela implicava.
- Sente que é influenciado por estes três poetas?
- Não. Se fosse, nem sequer saberia o que com fazer elas. - Acabámos?

O jornalista disse que sim e reparou pela primeira vez que escorria tinta negra pelas pernas da cadeira, como se elas sangrassem. Também reparou que a tinta não manchava a madeira, nem o chão de negro apesar da sua abundância.


Indistinto

o segredo
com medo
apontou o dedo
ao arvoredo

mas ele caiu,
até sei que admitiu,
que fingiu que riu,
 e que nada sentiu


mas o espanto,
daquele pequeno recanto,
 é de procurar tanto,
o seu grande encanto

o que não é meu
de todo serei eu
o muito que tremeu
por nada se pareceu

não queriam que fosse o que sou
 o ramo onde o pássaro não poisou
o chão que ninguém pisou
e a tinta do parque que não secou


Inkheart


sexta-feira, 20 de março de 2015

eclipsa-te Privamera


Não consigo deixar de pensar nisto. A Primavera começa hoje com um eclipse solar, que em Portugal, pode atingir os 70%.
Que melhora maneira há de celebrar a Primavera, uma antecâmara do verão, quase sem sol??
Só um eclipse solar a 100%.

O que é um eclipse solar?
É quando os diâmetros aparentes do Sol e da Lua coincidem através da distância do Sol relativamente à Lua e a distância desta relativamente à Terra.
Um eclipse solar total é a sombra projectada da lua na Terra quando iluminada pelo sol, nas condições do parágrafo anterior.
Uma vingança da minúscula Lua sobre um poderoso Sol que ocorre sensivelmente de dez em dez anos.

Ele vai ser visível em Portugal entre as 08.00h e 10.00h devendo atingir o máximo de obscuridade volta das 09.00h.

Atenção! Nunca olhar directamente para o Sol com os olhos descobertos ou até mesmo com óculos de sol. As lesões nos olhos podem ser graves e irreversíveis.




quarta-feira, 18 de março de 2015

Grande Ecrã - Sniper Americano



A esperança é sempre a última a morrer.
Quando entro numa sala de cinema para ir ver o último filme de Clint Eastwood, vou sempre na esperança de reencontrar um Unforgiven ou, melhor ainda, algo na linha de Gran Torino.

Óbvio que em Sniper Americano, não iria encontrar essas gemas. Mas...
A introdução começa mal. É mais do mesmo. Um cliché.
Um puto que com o pai se estreia nas artes da caça. Perseguindo um veado, o puto mostra logo que tem jeito para aquilo.

O argumento é clássico e pouco imaginativo. Um americano vê as Torres Gémeas a serem atacadas. Desperta em si a necessidade de defender a pátria dos maus.

Torna-se seal, depois sniper e lá vai ele para o Iraque limpar o canastro a umas largas dezenas de maus, leia-se iraquianos.

Entretanto torna-se naquela pessoa em que tira-se o soldado da guerra, mas não a guerra do soldado.
Apesar de ter a sua vida familiar em risco, o apelo da guerra, os seus fantasmas, a adrenalina, fazem com que Chris Kyle volte ao Iraque mais três vezes.
O argumento é como um lençol lavado estendido numa cama sem uma única dobra. É completamente boçal e previsível.

Para quem se lembra, como eu de Hurt Locker (Estado de Guerra) de Kathryn Bigelow de 2008, e não é nada difícil associar estes dois filmes. Percebe-se que Sniper Americano falha redondamente nos seus objectivos.
Na construção da personagem, na dinâmica da narrativa, no dilema moral de quem tem o poder de conceder a vida ou a morte na extremidade do seu indicador.

Falta o lado sombrio do sniper. Ou pela vontade e gozo de tirar a vida a um mau, ou porque tem que matar a vida a um mau para proteger um bom.
Nada melhor que um sniper para se poder explorar este lado.

Poder-se-ia pensar que Bradley Cooper na personagem de Chris Kyle poderia ser o motivo suficiente. Não.
Não está melhor que noutros filmes por onde passou. Teve um papel bem mais interessante em Sem Limites e As Palavras.
Apenas por ter feito ginásio e ter engordado uns quantos quilos, não o tornou um bom actor em Sniper Americano.
Pensem na excelência de Charlize Theron em Monstro. O processo de transformação foi idêntico. Na verdade foi mais longe ainda. Tornou-se irreconhecível.

O melhor do filme, sem no entanto deslumbrar, é o ambiente de guerra onde Chris Kyle se movimenta. Mais uma vez se pensarmos em Hurt Locker ou no mais antigo O Resgate do Soldado Ryan, Sniper Americano perde em toda a linha. Mas no entanto encontramos algum fulgor nas emboscadas, nos ambientes criados e na dinâmica de guerra.

Até há um lado rosa, romântico, e floreados no filme.
Não foi a queda das Torres a despoletar o desejo de justiça, mas prosaicamente estar farto de andar fazer pela vida nos rodeios.
Depois há um sniper mega mau, com nome a condizer. Mustafá. Vestido de preto, rosto fechado, barbudo, e impiedoso, como convém a uma demonização de um muçulmano.

Mustafá persegue Chris como uma assombração negra. Eles são iguais entre si. A morte é o seu denominador comum.
Mas esse paralelismo nunca é traçado. Mustafá é mau como as cobras e Kyle um anjo.
No fim Kyle derrota o seu rival, o supremo mau com um tiro impossível. E como manda a lei do cliché, seguimos a trajectória da bala em câmara lenta.
Mas a realidade é outra. Os dois nunca se encontraram. O tiro impossível é realmente impossível.
Ele nunca foi disparado.

Ao fim das poucas mais de duas horas de filme e entre dois bocejos, ficamos a saber que os iraquianos são os maus da fita, os americanos, os bons da fita e Chris Kyle, um tipo porreiro, um justiceiro patriótico enviado por Deus.

Mas há um momento para a posteridade. Quando Kyle segura Lucas, o seu filho recém nascido, percebe-se que é um nenuco, ou equivalente a isso. Absolutamente patético e inacreditável! Até dá vontade de fechar os olhos tão constrangedor que é.
O que terá levado Clint Eastwood a filmar esta cena com um bebé plástico? E os efeitos digitais servem para quê?

Quanto à esperança de um dia assistir a um genuíno herdeiro de Unforgiven ou de Gran Torino, essa vai-se desvanecendo, esfumando-se.
Sniper Americano foi mais um prego para o caixão da esperança.





terça-feira, 17 de março de 2015

série "vencedores" - equipa de hoquei feminino SLB





Pela primeira vez na história do desporto nacional, uma equipa feminina de um desporto colectivo ganhou um título europeu.
Foi o que a aconteceu às meninas do hóquei em patins do Benfica, no passado sábado em Espanha, quando ganharam a Taça Europeia feminina de hóquei em patins.
Derrotaram na final a equipa francesa do Coutras por 5-2.
Em nove edições desta taça, pela primeira vez, foi uma equipa não espanhola a levantar o caneco.

Houve quem estranhasse o facto de as benfiquistas não terem corrido em tronco nu e de braços abertos levantados ao alto e de não ter havido troca de camisolas entre as jogadoras adversárias.
Que da próxima vez não se repita. ;)