sábado, 18 de junho de 2016

uma música para o fim de semana - Marta Pereira da Costa



São duas mulheres com uma ligação profunda, quinze anos, entre si. Marta Pereira da Costa e a guitarra portuguesa.
Marta começou aos dezoito anos quando o pai lhe ofereceu este instrumento. Mas foi bem mais cedo que entrou no mundo da música. Aos quatro anos aprendeu a tocar piano e aos oito, a guitarra clássica.

Diz que na altura em que o pai a introduziu na guitarra portuguesa, não sentia uma grande ligação ligação ao fado, mas foi o seu timbre e sonoridade que a atraiu.
Inevitavelmente caiu nas óbvias e inevitáveis influências do "fado" e apesar de acompanhar grandes nomes deste género musical exclusivamente lusitano, soube (e desejava) sempre sair das "suas" garras, libertá-la do seu ADN natural e também sabia muito bem quais os sons que queria obter da guitarra, o que fazer com ela.

A prova disso veio com o lançamento do seu primeiro álbum - Terra.
Nele Marta põe à prova as capacidades da guitarra portuguesa, desde a musica popular e tradicional portuguesa, passando pelo terreno de excelência desta guitarra, o fado, uma incursão nas sonoridades pouco usais para esta guitarra, o jazz, e entrando no mundo de surpresas e de pérolas que a constituem, a world music.
Um baixista de jazz camaronês e uma voz iraniana cantando um poema do poeta sufi Rumi, participam no primeiro trabalho de Marta.

Lançado em Maio deste ano, Terra é o primeiro álbum de uma mulher na guitarra portuguesa.
Uma curiosidade. Além da produção da própria Marta, Terra, tem a coprodução de Filipe Raposo, uma pianista de jazz.


Bom fim de semana






terça-feira, 14 de junho de 2016

por Orlando :(


Desta vez falou-se pouco de atentados terroristas islâmicos. Não se valorizou (e muito bem!), o facto de o atirador ser muçulmano. Falou-se mais de atentados terroristas. Uma grande evolução. Mas acima de tudo falou-se de um atentado homofóbico.
Além de ser uma evolução ainda mais significativa, por ser objectiva, é também uma revolução ao nível das mentalidades
Creio que a maior parte de nós ficou (agora), a perceber (melhor) os vários níveis de que é alvo que a comunidade gay - exclusão social, preconceitos, intolerância, discriminação e agora aquilo que era absolutamente impensável: terrorismo.

O que torna esta percepção tão dolorosa, foi o facto de ter sido necessário morrerem várias dezenas de pessoas, para tanta gente acordar para esta realidade.






segunda-feira, 13 de junho de 2016

Fernando Pessoa 128


Quando uma alma está decomposta em tantas, ela sente-se estranha. Estranha a ela própria.
E perdida em si. E enquanto se procura, mais se desorienta, mais errante se torna, desajustada, mais indecisa ela é. Menos pertence a ela, e muito menos é capaz de pertencer a outros.

E quanto mais a pressionam, mais exigem, mais perdida se torna, mais dorida, mais ferida, mais enraivecida se torna. E então, para longe, muito mais longe ela voa e menos hipóteses dá de querer voltar. Silêncio e lágrimas escondidas é o que lhe restam.
É uma estranha, numa terra estranha. 






Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.


série "estatísticas da vida" - CLXXVIII


nem sempre, nem sempre...