Durante a manhã choveu torrencialmente. Sem frio, quase sem vento. Só chuva.
O tempo amainou e agora a tarde está confortável e silenciosa. Está tépida e suave como uma manta polar onde os gatos gostam de ser enrolar quando decidem iniciar os seus quase sessenta por cento do seu tempo diário a dormir uma sesta.
Tenho estado a ouvir o pianista polaco Marcin Wasilewski, no seu extraordinário trabalho chamado Faithful.
Quando o cd acabou, olhei para a janela como que em busca de uma inspiração para saber que músico iria tocar na vez de Marcin.
O Miles está a dormir próximo de mim com as patas da frente dobradas para dentro e o Mahler está no meu quarto em cima da cómoda, junto à janela a dormir uma soneca prolongada já há várias horas.
Se eu fosse um gato e quisesse uma manta polar musical para para me aconchegar o sono dos justos o que escolheria??
A quietude do tempo lá fora e ter-me lembrado que na segunda feira passada John Coltrane teria feito 87 anos se fosse vivo, fez de imediato saltar a reposta: ouvir o Ballads.
Diz-se frequentemente que Ballads, um trabalho exclusivamente composto por baladas, era um trabalho que John Coltrane não estava muito interessado em gravar. Por esta altura navegava já nas águas agitadas e turbulentas do free jazz e jazz avant-garde. O período de gravação do álbum ocorreu entre os finais de 1961 e 1962.
Mas como estava no seu primeiro de colaboração com a Impulse, Coltrane lá terá feito o "frete".
Não acredito que tenha sido um frete. De todo. Creio que Coltrane pôs lá a sua alma.
É um trabalho simples, linear e muito coerente. É fácil de ouvir e gostar.
É delicado, suave, quente e aconchegador. É introspectivo e harmonioso. É cheio de cores quentes com notas de silêncio.
Neste momento Ballads já toca no lugar de Faithful.
A música para este fim de semana, já outonal, é a primeira que abre o álbum. Chama-se Say it (Over and Over Again).
Ao contrário dos meus gatuchos, que já lá estão há algum tempo, não vou já para o sono dos justos. Vou ouvir Ballads até ao fim.
Depois carrego na tecla repeat e vou para os braços de Morpheu embalado pelos sons aveludados do saxofone tenor de John Coltrane.
Cinco minutos depois (se tanto) eles estarão comigo. Um do meu lado esquerdo junto à cabeça, o outro do lado direito encostado às minhas pernas.
E Coltrane nem sonha que o seu quarteto se tornará durante alguns minutos num sexteto. Eles ronronam que nem uns leões. Dos grandes, claro ;)
Bom fim de semana :)