"Vamos cantar as janeiras, vamos cantar as janeiras" - Assim começa o Natal dos Simples de Zeca Afonso.
As janeiras já existem há bastante tempo, mas foi com esta canção que muitas pessoas as começaram a conhece-las. Eu fui uma dessas.
Seria mais tarde que perceberia que este tema não são as janeiras em si, mas sobre as próprias janeiras. Mas ainda hoje é difícil ignorar esta associação.
As Janeiras são musicas populares cantadas por grupos de pessoas ao longo das ruas, cantando de porta em porta.
A recompensa pelas suas canções são as Janeiras, sobras das refeições natalícias.
As pessoas oferecem aos janeireiros o que há em casa. Pão, broa, bolo rei, chocolate, castanhas ou nozes.
No fim, os grupos juntam todas as janeiras conseguidas e comem-nas todos juntos.
As Janeiras tradicionalmente são cantadas no norte de Portugal e nas Beiras. Iniciam-se no dia de Ano Novo e terminam no dia de Reis, a seis de Janeiro.
Começaram por ser uma maneira de as pessoas de mais pobres poderem melhorar as suas refeições nesta altura do ano sem que tivessem que mendigar ou sofrerem humilhações.
Usualmente são mencionados os nomes das pessoas donas da casa à qual vão cantar.
As suas origens são pagãs.
O mês de Janeiro na mitologia romana é o mês de Jano ou Jaunus. Este Deus que está associado às portas e à entrada. Na tradição romana, no começo/ entrada de um novo ano este Deus era louvado para trazer boa sorte e afastar os maus espíritos à casa. Daí o termo das janeiras e o facto de estas serem cantadas, naturalmente em Janeiro.
O Deus Jano é representado por duas faces. Uma virada para o passado, outra para o futuro. Uma fechava a porta, outra abria a porta. Uma fechava o ano, outra abria o novo ano.
Por ter duas faces antagónicas era considerado um Deus de indecisões.
Bom fim de semana :)
Natal dos Simples
Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras
Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas
Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte
Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra
Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza
Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura