sábado, 17 de janeiro de 2015

uma música para o fim de semana - Lisboa String Trio (LST)


Matéria.
É o primeiro álbum de três grandes senhores das cordas nacionais que constituem o Lisboa String Trio - LST.
Carlos Barretto no contrabaixo, José Peixoto com guitarra clássica e a tocar guitarra portuguesa, Bernardo Couto.
Para quem conhece Ralph Towner não é difícil perceber que a formação deste trio talvez tenha sido inspirado na sonoridade do guitarrista americano e do trabalho do seu trio em Travel Guide.

O objectivo do trio nacional é tocar jazz tipicamente português. Dificilmente se reconhece o jazz, apesar de este lá estar mas isso será o que menos interessa.
Os LST atingiram aquilo a que se propunham, a portugalidade da sua música. De imediato há o espírito único do som da guitarra portuguesa.

Sem grandes dificuldades viajamos para as vielas labirínticas do velhos bairros lisboetas. Para os pregões das peixeiras que arrastam na sua voz o sal e o cheiro a mar.
Vemos o sol da costa portuguesa, o dourado das planícies alentejanas, o rendilhado das colchas nas janelas e dos lenços sobre as cómodas.
Ao lado do pão e vinho sobre a mesa, encontramos os tons saborosamente coloridos do fado.

Tudo isto com aquela limpidez tão característica das cordas quando dedilhadas gentilmente, com sabedoria, corda a corda, sem pressa.
Sem a ganancia de um querer ir mais além que os outros, sem querer chegar à porta mais depressa que os outros, ou alguém a querer gritar mais alto que qualquer um dos companheiros.

Não. É uma conversa entre três amigos que saboreiam um porto branco enquanto o sol se põe num miradouro de Lisboa.


Bom fim de semana :)





sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

céu trapalhão


céu trapalhão

Estrelas caíram sobre mim
Pousando no meu chapéu
Para cima eu vi assim
Vazio e negro o triste céu

Para o alto as atirei
Para ele as recuperar
Em esperança sentei
ao chão foram parar
Triste estava ele e eu
Por o vazio permanecer
Ele escuro como breu
Eu sem saber que fazer

Uma ideia estava a surgir
Atirava o chapéu a voar
Ele não tinha que fugir
Apenas correr e apanhar

Tentei e tentei
Ele sempre trapalhão
Quase desesperei
Tanto que foi em vão

No fim lá consegui
Coloquei um escadote
Depressa eu subi
E lá ajudei o fracote

Acabei com a trapalhada
O breu bem iluminado
Com a noite tão estrelada
O céu aliviado suspirava

Escondido nem apareceu
O céu, aquele ingrato
A mão não estendeu
O favor que lhe pus no prato


Inkheart


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

pessoas, liberdades e conceitos


A manifestação em França foi impressionante.
Muita gente na rua, muitos líderes juntos em torno dos atentados do jornal semanário Charlie Hebdo.
Todos estavam a favor da liberdade de expressão e de imprensa.

Mas acabada a manifestação, quando todos voltaram a casa, que aconteceu?
Nada. Ou melhor tudo. A primeira coisa que pensaram foi acabar com a circulação livre de pessoas entre os países signatários do espaço Schengen.
Manifestaram-se por um direito e logo seguir quiseram limitar outro.
E o que vai acontecer quando as reacções de indignação a quente tiverem arrefecido?
A manifestação de Paris foi apenas um fogacho de exibição hipócrita de uma pseudo união que durou vinte e quatro horas.


Mas para além das pessoas que morreram, morreram mais coisas. Morreram conceitos.

Digam o que disserem morreu o respeito pelo direito à liberdade de expressão ou eventualmente no sentido contrário passou, implicitamente, a ser permitido tudo.
O Charlie Hebdo tem todo o direito de satirizar os temas que considere que devam ser alvo da sua sátira.
E ninguém deverá ser impedido de o fazer. Ninguém deverá estar acima de uma crítica, de uma caricatura, de uma opinião ou de uma análise mais.
Mas entre a sátira e a humilhação existe uma linha ténue a separa-las.

Alguém se lembra do famoso cartoon de António que foi publicado em Dezembro de 1994, O Preservativo Papal??
Execrável, ofensa grosseira e rude, desenhada por uma mão maligna, disseram e escreveram sobre ele. E no entanto era um papa com um preservativo.
O cartoon foi considerado como não tendo ultrapassado os limites à liberdade de imprensa
Como liberdade, ela, o direito de imprensa, de expressão tem que ter um limite. Não é mandar "abaixo" de qualquer maneira


Morreu o respeito por uma religião, o Islão.
E foram dados mais uma vez motivos para que isso aconteça. Tudo o que foi publicado relativamente ao Islão, ultrapassou as fronteiras da liberdade. A nossa liberdade termina quando começa dos outros.
Acredito que o Charlie Hebdo tenha ultrapassado o bom senso relativamente ao Islão.
Sabendo o quanto inflamável o tema religião é para a sociedade em geral e particularmente para os muçulmanos que andam sempre no fio da navalha, a inteligência e o bom senso deveriam ter andado de mãos dadas.
Vai ser uma luta que os muçulmanos vão ter que travar para além da interna, os extremistas radicais e o estado do Islão.
Não tenho muitas dúvidas que o próximos tempos vão ser duros para os muçulmanos. Os verdadeiros.


Morreu a tolerância.
Com tudo o que aconteceu, a islamofobia aumentou. A capacidade de os muçulmanos, dignos desse nome, serem capazes de encaixar potenciais desrespeitos pelos seu valores religiosos provavelmente terá diminuído. Alguns poderão ter saltado a cerca para o lado extremista ou estar a pensar nisso.

Não nos devemos esquecer que há os muçulmanos e há os extremistas que não são muçulmanos.
E os primeiros a lembrarem-se disso devem ser os cristãos.
A Inquisição na idade medieval, onde morreram milhares de pessoas por não pensarem da mesma maneira, os heréticos, que a doutrina cristão impunha, durou séculos.
Toda a Europa e parte da América estiveram debaixo da pata sangrenta da Inquisição. Foram os Papas que iniciaram e autorizaram este extermínio.
Não distingo a Inquisição dos Radicais Islâmicos. Farinha do mesmo saco.


Morreram pessoas. Desnecessariamente.
Porque não respeitaram os seus valores. Porque não respeitaram os seus interesses. Porque brincaram com o fogo.
A experiência diz que no que respeita ao Islão há quem tenha uma interpretação fanaticamente literal e muita própria do Corão.
Talvez a liberdade de imprensa e/ ou de expressão tenha ido mais além do que seria razoável. Uma daquelas situações em que não tendo que ser limitada, deveria ser pelo menos...circunscrita.


Continuo a ser "Je suis Charlie", essencialmente por duas razões maiores.
Pelo assassinato das pessoas envolvidas nestes e noutros hediondos atentados e, porque acredito que a liberdade de imprensa, de expressão e logo todas outras liberdades, devem e têm que ser preservadas.
Mas sabendo sempre que a nossa liberdade acaba quando começa a dos outros.




domingo, 11 de janeiro de 2015

Anita Ekberg (1911-2015)


Depois de Anita Ekberg, no filme La Dolce Vita, ter andado pela Fontana di Trevi, ela (a fonte) nunca mais foi a mesma.
Nem o Marcello Mastroianni...


A actriz sueca de La Dolce Vita, realizado pelo imortal Federico Fellini, morreu hoje com 83 anos.
Nasceu em Malmo em Setembro de 1911 e morreu hoje em Rocca di Papa.