sábado, 22 de fevereiro de 2014

uma música para o fim de semana - Júlio Pereira


Júlio Pereira regressou em grande ao cavaquinho. 
De uma assentada, lança um álbum, um livro e um site dedicado ao seu instrumento que praticamente é sinónimo do seu nome, cavaquinho.

Nesta tripla obra, Júlio Pereira tem um triplo objectivo. Quer alargar as fronteiras do sons do cavaquinho em termos de público, explicar como o cavaquinho sendo português alargou as suas fronteiras naturais a quase todo o mundo e simultaneamente acabar com as fronteiras físicas pondo à disposição de toda a gente a história do instrumento, através do site http://www.cavaquinhos.pt/
Nele podemos conhecer a sua história, os seus construtores, as diferentes formas, as suas sonoridades, como ele é tocado, ensinado e conhecido pelo mundo fora. Inventariar e dar a conhecer a diáspora do cavaquinho.

Ficamos a saber que é um tetracórdio (instrumento de quatro cordas) de origem minhota e que tem mais nomes que o número de cordas que é constituído. Cavaquinho, braguesa, ukulele, machete, kerokong e não pára por aqui. Tudo dependendo dos muitos países onde ele é tocado. Brasil, Cabo Verde, Havai, Indonésia, Alemanha, Canadá, etc, etc...

Foram precisos trinta anos para Júlio Pereira voltar ao cavaquinho. Foi em 1981 através de "cavaquinho", um álbum completamente instrumental que o músico tornou este instrumento popular entre todos nós.

Agora neste regresso de pouco mais de três décadas - Cavaquinho.pt - Júlio traz vozes, dá novas sonoridades ao dito tetracórdio, e novos instrumentos a acompanhá-lo. Renova até nos ritmos que toca com ele.

Há um tema em particular que gosto muito - Ler Devagar. Sai um pouco fora daquele frenesim de notas que muitas vezes o cavaquinho atira cá para fora nos temas da clássica música popular portuguesa.
Ler Devagar é um pouco isso. 
Dá para perceber como ele "fala", como consegue ser tão melódico quando é "abrandado" sem no entanto perder a sua sonoridade tão característica. 
É sofisticado, mas sempre simples na maneira como interage e conversa com os instrumentos que o acompanham. 
Além que entra no ouvido facilmente.

O vídeo não é grande coisa, mas uma boa música deve ser (sempre) vista com os ouvidos em vez de ouvida com os olhos.


Bom fim de semana :)





quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Grande Ecrã - Ninfomaníaca, Vol 2


Não se percebe muito bem a separação dos dois filmes. Duvido que seja por motivos comerciais quando se fala do realizador dinamarquês Lars von Trier.
Um filme único de cerca de cinco horas, faria sentido, apesar de potencialmente ser desconfortável.
Ver o Volume 1 sem ver Volume 2 não faz sentido nenhum. No entanto na maneira como Ninfomaníaca foi partida em dois filmes também faz uma certa lógica.
Subtilmente há uma diferença entre os dois filmes.

No primeiro, Joe faz a descoberta da sua hipersexualidade e de alguma maneira usufrui dela até ao ponto em que o seu apetite sexual se torna desenfreado e chega a planear dez sessões por dia para depois por perceber que quando perde o prazer algo está errado com ela própria

Enquanto no segundo, há a percepção que se trata de um vício e busca da calmia dele quando este não lhe dá o prazer desejado.
E se no primeiro Stacy Martin é rainha do filme e Charlotte Gainsbourg se resume ao papel do narrador que relata acontecimento de uma forma austera e fria.
No segundo, Charlotte assume em pleno o papel de Joe no filme.

Joe percebe que o seu vício sexual que além de lhe trazer problemas de relacionamento (o volume 1 já aflorava essa questão), traz-lhe também problemas físicos e tenta resolve-los.
Procura através de soluções mais convencionais, terapias de grupo até terapias menos ortodoxas encontrar uma solução para si.
Neste último caso o perturbante e inexpressivo K, desempenhado por Jamie Bell (o miúdo de Billy Elliot), que protagoniza as melhores (e mais violentas) sequências do filme.

É neste segundo volume do díptico de Lars von Trier que Joe nos explica o que é ser uma ninfomaníaca.
É uma pessoa consciente que tem um problema social. É uma pessoa “humana”, sensível e que faz uma auto-avaliação muito crítica dela própria.

Mais uma vez no primeiro filme, enquanto os primeiros diálogos se estabelecem entre Seligman e Joe, esta faz rapidamente a afirmação de que é uma pessoa má, a pior que já existiu.

Joe é uma personagem muito pouco linear, mas tem profundidade, tem consciência dela própria. Está sempre em busca de se compreender de se integrar. Afastar-se do que a atormenta mas que também mais deseja, o sexo.
No fundo, ela mesmo questionando-se continua uma predadora sexual.
Com o conhecimento profundo que ao longo dos anos adquiriu relativamente à sexualidade masculina, ela é convidada (numa breve aparição de Willem Dafoe) a fazer “trabalhos” como cobradora de dívidas e como seria de esperar com muito sucesso.

É na realização de um desses trabalhos que Joe mostra, a faceta compreensiva de quem sabe o que é ter um comportamento sexual desviante.
Tem que lidar com alguém que ela descobre ser um pedófilo através de um hábil jogo de contar histórias. Percebe que é alguém que reprimiu e prescindiu ao longo dos anos da sua sexualidade.
À sua maneira, Joe perdoa-o e recompensa-o.

No diálogo com Seligman sobre este episódio e com este indignado, com a recompensa de um pedófilo ela defende-o explicando que sendo um pedófilo ele é inofensivo.
Nem todos os pedófilos concretizam a sua sexualidade e isso como ela bem sabe, e nós também através do desenrolar do argumento, implica uma força e um sofrimento muito grande.

No final do filme ela reforça a sua determinação em lutar contra o seu vício. É resoluta na sua determinação.
O fim de Ninfomaníaca Vol 2 retoma o início de Vol 1. A tela fica subitamente preta e sem nada vermos, ouvem-se ruídos que nos contam sem margem para dúvida o que acontece.
A fica nosso cargo saber se acaba bem ou mal. Fico indeciso. Independente das minhas duas possíveis interpretações sobre o final, creio que acaba bem para os meus padrões de concepção de vida.
Mas sabemos que manteve-se fiel à sua resolução em afastar-se, em reprimir a sua sexualidade que a incomodava.

Ninfomaníaca no seu todo, é um filme muito bem escrito e bem pensado. É um grande argumento de Lars von Trier.
Insisto que os dois devem ser vistos no mais curto mais de tempo, no mesmo dia se as sessões o permitirem
Dá-nos a vertente usualmente não abordada e portanto desconhecida do que significa ser alguém que tem uma sexualidade exacerbada. Dá-nos uma visão tridimensional da personagem ao nível físico, emocional e social do problema.
E sabiamente, não o reduz exclusivamente a sexo.

Tal como no primeiro, não há ponta de erotismo no filme, Mesmo nas cenas eventualmente mais excessivas. E quanto às cenas mais explícitas de sexo que foram censuradas, não duvido que não tivessem também uma elevada carga pornográfica.
Duvido que fosse necessário censurar os dois filmes.
Porque o sexo numa ninfomaníaca, é frio, cru. É como roer unhas. Rói-se e pronto. Aqui o sexo também é um gesto automático.
É uma busca, uma tentativa (frustrada) de satisfação de uma necessidade. Quase não há prazer nele.
Como também no decorrer do primeiro filme é dito através de uma colega estudante de Joe, para o prazer falta-lhe o elemento secreto do sexo, o amor.

Os actores principais mantêm-se constantes no seu papel.
Mais uma vez no Vol 2 a aparição Jamie Bell é brilhante, William Dafoe não tem tempo de antena para brilhar, mas não se apaga e os transversais Shia LaBoeuf continua um erro de casting, Charlotte Gainsbourg se um pouco apagada no Vol 1, no 2 domina e o atento ouvinte Stellan Skarsgard é homogéneo do principio ao fim. nos dois filmes.

Sem dúvida são filmes a ver, as duas partes de Ninfomanícaca. Sem uma, a outra não faz sentido. E não vão vê-los naquela de irem ver sexo em barda. Para isso não vão porque não o encontram.
Não vão perceber patavina o que se passa no total das cinco horas e falham completamente a mensagem de Lars von Trier.
O que é uma pena porque ficam a perder.





terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

a um Deus invisivel





Braços estendidos numa praia do Djibouti em busca de um sinal da rede móvel somali, que lhes permita falar com quem desejam, com quem deixaram para trás, os seus familiares e amigos.
Um gesto de oração, veneração, estendido para o céu, a um Deus invisível, definitivamente não omnipotente e nem sempre omnipresente, o das telecomunicações.

São emigrantes oriundos da Somália, Etiópia e Eritreia que fazem do Djibouti um ponto de passagem para a Europa. Estão em busca de melhores condições de vida. Uma oportunidade que lhes permita fugir à pobreza, à instabilidade política, à fome e ao historial violento dos seus países.

A fotografia vencedora do concurso de fotografia World Press Photo de 2013 do americano John Stanmeyer, é plena de significado. 
Ela contém em si pobreza e desespero. Mas nela também encontramos esperança, ternura, preocupação e um moderno e muito global romantismo tecnológico.

Quando olho para ela não consigo deixar de torcer que o tão desejado sinal seja encontrado e que a vida finalmente lhes sorria.

É uma fotografia que vai bem para além do olhar.


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

dia mundial do Gato


"Quando afagas um gato com o teu espírito, em troca eles afagam a tua alma com seu coração"




Tenho três que todos os dias, todas a noites me fazem isso. Tocam a minha alma.
Não os ter é agora quase inconcebível para mim. 
Há uma nobreza, uma dignidade, inteligência e fascínio que emana de cada um dos meus gatos, de cada um de todos os gatos.

Gatos são poemas ambulantes, escreveu Roseana Murray e recordo-me de outra frase Mary Wilkins que define igualmente na perfeição os gatos - " Os gatos amam mais as pessoas do que elas permitiriam, mas eles têm sabedoria suficiente para manter isso em segredo".
Concordo em absoluto com ambas as frases. Especialmente com a segunda.
Na verdade eles podem literalmente morrer de saudades dos seus donos. 

Por vezes alguns escolhem, determinadamente, morrer de solidão mesmo que alguém os acolha, os ame e proteja, quando estão longe dos seus donos, da sua casa, do seu território, quando são abandonados. 
Os gatos amam de uma maneira discreta, aparentemente desinteressada, mas aberta, sincera, generosa e silenciosa. E precisam exactamente de serem amados da mesma maneira respeitando a sua natureza felina.

Enquanto os cães sabem que estão a lidar com um ser humano adaptando o seu comportamento a nós, mas os gatos vêm-nos não como seus donos, mas como iguais a eles. 
Podem não ser efusivos, podem ser esquivos e fugirem até de nós quando inutilmente pretendemos pegar ao colo ou dar-lhes um abraço. Mas tal comportamento é aparente. 
Podem não ser animais de obediência, mas são animais de confiar. E quando essa confiança é quebrada é difícil recuperá-la.
A sua complexidade comportamental é deliciosamente simples.

À sua maneira demonstram o quanto gostam de nós estando muitas vezes ao nosso lado sem os vermos. Roçam o seu corpo e focinho nas nossas pernas e mãos, dão turras e amassam os nossos braços quando decidem aninhar-se neles, numa prova evidente de que sentem protegidos, satisfeitos e felizes. Amados.
Quando estão em harmonia connosco, com o ambiente que o rodeia, fazem um dos sons mais incríveis e deliciosos que provavelmente o ouvido de um ser humano pode ouvir vindo de um animal, o ronronar de um gato.

Após milhares de anos de convivência, ainda não somos capazes de compreender plenamente o comportamento do gato. Um felino que nunca abdicou de o ser.
Há uma grande mitologia em torno deles. Que renovam energias, que anulam energias negativas, que são guardiões de almas, que têm o mesmo tipo de aura que os humanos, observam e analisam a nossa alma, vêm o que nós não vemos, protegem-nos de espíritos malignos e por aí fora.
Não acredito nisso, mas gosto de mitologias. Por isso gosto de toda a mística, dessa mitologia que os rodeia e que foi sendo construída ao longo de milhares de anos.

À parte tudo isto, ter um gato (ou gatos) é um autêntico privilégio. 
Pessoalmente multiplico por três tudo o que escrevi neste texto.



P.S - Curiosamente existem dois dias mundiais do Gato. 
Um que se celebra hoje (17.02) criado por uma ONG italiana de defesa dos animais sob o lema "Todos Juntos Contra a Superstição".
O segundo dia é celebrado a oito de Agosto e foi criado pela IFAW (International Fund For Animal Welfare).

Na dúvida celebro os dois dias ;)


série "estatísticas da vida" - LXXIII


No dia mundial dos gatos, tudo sobre... os gatos!


Não só, mas é um dos motivos... 




Bem verdade. Conseguem ser surpreendentes.





Como há sempre tanto para dizer sobre os gatos, para a semana há mais estatísticas sobre eles. :)