E se a mui alentejana viola campaniça, fiel e grande acompanhante do cante alentejano, deixasse as grandes planícies solarengas, dos cantares das colheitas e entrasse nos becos escuros e algo duvidosos de uma urbe, mas arrastando consigo algo dessa luz?
E se um guitarrista, algo obscuro, pouco dado à ribalta, fã da electricidade, do rock e do punk, desligasse a sua guitarra da tomada da electricidade, a pusesse encostada à parede, mas sem esquecer os seus escuros e misteriosos ambientes e a trocasse por uma... viola campaniça?
E a levasse aos becos escuros e sujos, nem sempre recomendáveis, às tabernas, aos tascos, às ruas estreitas de empedrado?
Seria uma grande aventura e muito fora da caixa!
Mas foi isso que João Morais fez. O resultado? Extraordinário!
Temos a viola campaniça a cantar a urbanidade texturada de Lisboa, o vaivém dos cacilheiros do Tejo, as sombras e as luzes difusas da noite da cidade projectadas nas paredes, utilizando ritmos mais acelerados do que esta está habituada e do outro lado ouvimos Lisboa com sotaque alentejano, mais colorido, mais dourado e mais luminoso.
Longe do Chão é o seu primeiro álbum e dificilmente O Gajo poderia começar de melhor forma.
Bom fim de semana ☺