Foi talvez em 87, eventualmente em 1988.
O bilhete era oferecido e tinham-me dito que devia aproveitar a oportunidade e fui.
O nome era razoavelmente desconhecido e a sua obra, essa, era totalmente desconhecida. De Ravi Shankar sabia apenas que era um músico indiano. Não sabia portanto ao que ia.
Não precisei de muito para perceber o porquê do conselho dado de aproveitar a oportunidade. As sonoridades, exóticas e etéreas que ouvi nesse concerto e oriundas de um instrumento que nunca tinha visto e ouvido, perduram na minha memória.
Ainda hoje quando oiço Ravi Shankar revisito mentalmente esse concerto.
Ravi Shankar nasceu a 7 de Abril de 1920, na mística cidade indiana Varanasi. Uma cidade que povoa o meu imaginário e um destino que forçosamente terei que um dia cumprir.
Nasceu pobre e aos cinco anos, seguindo o seu irmão, muda-se para Paris, onde se estreia como bailarino de danças populares e do folclore indiano.
Aos dezoito anos desiste da dança, estuda música clássica indiana e inicia-se no instrumento da sua vida: o sitar.
Há uma confusão usual entre sitar e citara. Ambos são instrumentos de cordas e dedilhados.
Mas enquanto o sitar tem um braço onde as cordas são esticadas para além da caixa de ressonância, a cítara tem as cordas esticadas sobre a caixa de ressonância.
Em 1966 dá-se um outro marco na sua vida. George Harrison torna-se aluno de Shankar. E seria através deste beatle que o sitar faria a sua entrada na música ocidental.
Por causa deste encontro entre a música ocidental e a música oriental, neste caso indiana, George Harrison, apeladaria o músico indiano, o padrinho da "world music".
Ravi participou no mítico festival de Woodstock em 1969 e para além de George Harrison, colaboraria com o violinista Yehudi Menuhin e saxofonista John Coltrane.
O mestre indiano de sitar morreu na passada terça-feira, dia 11 de Dezembro, na Califórnia, América, bem longe da sua cidade natal e onde tantos indianos desejam morrer e passar os últimos dias da sua vida.
O seu legado na música está longe de se resumir enquanto músico de sitar. É pai das meias-irmãs Norah Jones, cantora de jazz e de Anoushka Shankar, também ela uma compositora e exímia tocadora de sitar e que acompanhou o pai em diversos concertos.
Actualmente Anoushka grava para a etiqueta alemã Deustche Grammophon.
No espaço de uma semana, após Dave Brubeck, Ravi Shankar foi a segunda lenda viva da música e ambos nascidos em 1920, a ser reclamado pela Sra do Manto Negro.
Por isso tal como a semana passada, "uma música para o fim de semana" tem uma edição especial dedicada ao famoso sitarista indiano.
Para esta semana escolho o concerto do Bangladesh de Ravi Shankar.
Um concerto de beneficiência, organizado por Ravi e George Harrison, a favor das vítimas do ciclone Bhola de 1970 e da guerra civil de 1971 que assolou o Bangladesh.
O concerto foi dado a 1 de Agosto de 1971 e juntou cerca de 40 000 pessoas no Madison Square Garden em Nova Iorque.
Bom fim de semana :)