Ontem, Bordalo II montou um tapete, que depois foi retirado, feito com reproduções de notas de 500€ no palco da JMJ. A instalação chama-se Habemus Pasta ou também chamada de "Passadeira da Vergonha".
É uma chamada de atenção para os vergonhosos milhões de euros, de todos os contribuintes de um estado que se afirma laico, que foram gastos em prol de um evento simplório e labrego da igreja com os nossos acólitos governantes mais o nosso estimadíssimo, e bastante parolo, PR, a curvarem-se subservientemente perante Papa e dizendo, ao mesmo tempo, um angelical e muito caro amém.
Os custos estimados desse evento turístico que pomposamente é chamada de Jornada Mundial da Juventude, JMJ para os amigos, é qualquer coisa como 160 milhões de euros.
(Muito) mais rapidamente ligo às músicas do que às marcas que as usam para publicitar os seus produtos.
Há algum tempo que ouvia esta música. Mas como era publicidade, a música ficava no ouvido mas não ligava de todo à marca em causa.
Ontem ouvi-a de novo e desta vez fiquei atento à marca que a usava: Dacia. Horas depois voltei a ouvir a mesma música. Não é só a Dacia que a utiliza. A Sumol também a usa.
Quando abri o shazam a música ficou rapidamente identificada: Borne Free.
A voz cativante que a canta é a do crooner inglês, que durante algum tempo teve a produção do lendário George Martin, Matt Monro (1930-1985).
A letra, muito simples e directa, está muito bem conseguida.
Born free
As free as the wind blows
As free as the grass grows
Born free to follow your heart
Live free
And beauty surrounds you
The world still astounds you
Each time you look at a star
Stay free
Where no walls divide you
You're free as a roaring tide so there's no need to hide
Born free
And life is worth living
But only worth living
'Cause you're born free
Stay free
Where no walls divide you
You're free as a roaring tide so there's no need to hide
Sinéad O' Connor estará para sempre ligada a uma canção que desde o início nunca me atraiu particularmente, Nothing Compares 2 U, cujo original é de Prince.
Pessoalmente, estará sempre ligada a um acto de coragem, de desafio a uma todo poderosa igreja católica quando em 3 de Outubro de 1992; em directo para a televisão, no programa Saturday Night Live; rasgou uma fotografia do Papa João Paulo II.
O acto valeu-lhe massivas críticas em todo o mundo e quase arrasou com a sua carreira musical, mas as razões que estavam por detrás dele fervem agora por todo o lado: o encobrimento e a protecção de João Paulo II aos escândalos sexuais e de pedofilia que já assolavam a igreja católica nessa altura.
A cantora irlandesa estava trinta anos à frente no tempo.
Mas este rasgar da fotografia papal, tinha um segundo simbolismo que Sinéad carregava há muito consigo. A fotografia era pertença da mãe que durante anos a abusou psicologicamente e fisicamente.
Foram dois rasgos que ela realizou nesse dia. Com a sua educação católica e com a memória abusiva da mãe.
Não por acaso, Sinéad converte-se ao islão em Outubro de 2018. Mudaria o seu nome para Shuada Davitt. Em 2019, o sobrenome Davitt é alterado para Sadaqat.
Em Janeiro de 2022, o seu filho de 17 anos, Shane Lully, suicida-se após sérios problemas mentais.
Ela própria enfrentava grandes fragilidades mentais.
Profissionalmente mantinha o seu nome de sempre, Sinéad O'Connor.