Kazuo Ishiguro, escritor japonês nascido em Nagasaki que aos cinco anos foi viver para Londres, entrou na minha vida sem me ter apercebido de tal.
Em 1993, vi o filme Despojos do Dia. Um filme que quase vinte anos depois se mantém como um dos meus preferidos de sempre. Anthony Hopkins e Emma Thompson estão brilhantes nos seus papeis.
Pessoalmente, para estar presente perante um filme marcante, três aspectos, igualmente marcantes, têm que estar presentes: actores, realização e argumento.
Dos actores nada a dizer, a realização é de primeira grandeza por James Ivory, falta o argumento que na altura desconhecia. Ele foi adaptado por Ruth Prawer Jhabvala a partir da obra homónima de... Kazuo Ishiguro.
O livro Despojos do Dia foi escrito em 1989. Vinte e oito anos depois, em 2017, Ishiguro tornar-se-ia Nobel da Literatura.
Pessoalmente, para estar presente perante um filme marcante, três aspectos, igualmente marcantes, têm que estar presentes: actores, realização e argumento.
Dos actores nada a dizer, a realização é de primeira grandeza por James Ivory, falta o argumento que na altura desconhecia. Ele foi adaptado por Ruth Prawer Jhabvala a partir da obra homónima de... Kazuo Ishiguro.
O livro Despojos do Dia foi escrito em 1989. Vinte e oito anos depois, em 2017, Ishiguro tornar-se-ia Nobel da Literatura.
Em 2019 compro Nocturnos já sabendo quem Kazuo Ishiguro era. Fi-lo mais para conhecer a obra do autor de Despojos do Dia do que por ser um Nobel. Li-o este ano passados quase dois anos após a sua compra.
Nocturnos, escrito em 2009, aborda e transversaliza em cinco contos, a vida, tendo a música por base, os dilemas, dúvidas e incertezas das várias (e frágeis) personagens que cruzam o livro.
Neste quinteto de contos, escritos de uma forma sempre delicada mas fácil de perceber e seguir, tal como o objectivo e estrutura musical de um nocturno, seguimos a vida e seus objectivos das mesmas - algumas cruzando alguns contos como a cantora Lindy Gardener - em que a música, a passagem do tempo, a ilusão e desejo do sucesso, a juventude e a maturidade da meia-idade nos coloca em situações em que a reflexão nos é induzida de uma forma sóbria e subtil.
São histórias, que nos remetem para uma certa intimidade dos personagens, narrados em primeira mão pelos próprios, quase sempre sob as cores escurecidas dos ambientes nocturnos e crepusculares. Nelas, seguimos um crooner que em Veneza contrata um guitarrista para o ajudar numa serenata, uma cantora mediocre e divorciada, mas que sabe o que precisa por parte dos seus maridos, um saxofonista cuja feiura o impede que atinja o reconhecimento e aceita uma cirurgia plástica, um violoncelista húngaro genial que é ajudado por uma bela e misteriosa mulher, mas que nunca tocou um violoncelo, a tornar-se anda mais genial.
Não é talvez um livro brilhante, e nem todos os livros de um Nobel da Literatura terão que o ser, mas é um livro despretensioso, agradável e fluido. O facto de serem contos ajuda muito a essa fluidez. Há um toque de humor e de melancolia, ambos não exagerados, que também estão presentes e que me agradam bastante.
Dos cinco contos, talvez escolha Faça Sol ou Faça Chuva - refere-se ao título da canção Come Rain or Come Shine que Ray Charles ajudou a popularizar - como o que mais me atraiu.
Conta a história de Raymond que visita dois amigos de liceu (Charlie e Emily), que vivem em Londres. Ele tem um objectivo e estratégia em mãos que Charlie lhe atribui: tornar-se tão falhado quanto possível para que aos olhos de Emily, Charlie, que entretanto se ausenta de casa, se torne alguém desejável. O jazz pontua aqui e ali este conto.
Nocturnos é fácil de ler e de aconselhar alguém a ler, sem problemas, um livro de um Nobel da Literatura que frequentemente associamos a obras densas e complexas. É um bom ponto de partida para partir à descoberta de Kazuo Ishiguro.
Quando puderem leiam e vejam Despojos do Dia. Ambos são imperdíveis.
A título de curiosidade, e já que estamos a falar sobre prémios Nobel da literatura, o deste ano foi atribuído ao escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah.
De acordo com a Academia Sueca tal deve-se "...pela pela sua capacidade de penetrar de forma intransigente mas também compassiva nos efeitos do colonialismo e nos destinos dos refugiados que estão num abismo entre culturas e continentes."