sábado, 30 de junho de 2012

uma música para o fim de semana - The Soaked Lamb


Evergreens é um álbum de covers.
Segundo os The Soaked Lamb, este seu terceiro trabalho "é uma máquina de memória. Há melodias que não mereciam o esquecimento, que, mais que a morte, é a verdadeira morte, mais trágica e eterna."

A história do grupo é curiosa.
Eles surgiram em 2006, quando o baterista Miguel Lima decidiu que gostaria de gravar um cd.
As gravações desse cd, não decorreram na sua casa, mas na casa de um outro músico amigo, Afonso Cruz.
Durante as gravações, ocasionalmente Afonso cozinhava ensopado de borrego, que em inglês se traduz por soaked lamb e dessas gravações, por se tratar de um álbum de blues e ter sido igualmente "cozinhado" em casa, o seu título seria Homemade Blues.

Em 2010, lançam Hats and Chairs. Já assumidamente um álbum pensado de raíz, gravado em estúdio e com a identidade própria da banda.
Do primeiro álbum, os músicos foram-se juntando à medida que as músicas iam aparecendo e quando foi necessário lançar e divulgar em público Homemade Blues, foi necessário juntar pela primeira vez todos os músicos.
The Soaked Lamb surge em consequência do seu primeiro disco e não ao contrário.

A Flor e o Espinho que abre o álbum, lançado este mês, Evergreens, é um original de Nélson Cavaquinho, um músico brasileiro carioca que tocava violão que morreu em Fevereiro de 1986
É uma música que efectivamente não merecia o esquecimento.


Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você sou espinho
Espinho não machuca flor.

Eu só errei quando juntei minh'alma a sua
O sol não pode viver perto da lua
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor


Bom fim de semana :)




sexta-feira, 29 de junho de 2012

já lá vai algum tempo


Durante mais de dez anos dei sangue regularmente e depois durante o mesmo período de tempo deixei de o fazer. Agora decidi voltar a dar.

Não foi este o motivo por ter deixado de dar, mas ao olhar para o diâmetro da seringa que enfiam no braço e ver o vermelho escuro a correr por ela durante alguns minutos para um saco, fico a pensar duas vezes antes de o fazer.

É preciso mesmo querer dar sangue e pensar que podemos fazer a diferença na vida de alguém, que me levou hoje à unidade móvel do IPS.
Usualmente fico meio ko no fim, mas não desta vez. Dizem eles que esperam por mim daqui a três meses. Talvez  ;)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Grande Ecrã - Cosmopolis


É quase o regresso do "meu" David Cronenberg, ressuscitado do apático e insípido Método Perigoso.
A imagem que tenho de Cronenberg é a de alguém que conta histórias dificilmente narráveis. Histórias desconstruídas, onde a realidade se confunde frequentemente com onírico e com a ilusão.
É o caso de Videodrome, A Mosca, Irmãos Inseparáveis e os meus favoritos, O Festim Nu e Crash.

Em Cosmopolis, Cronenberg mais uma vez descontroi a realidade nas suas várias vertentes, particularmente a financeira, a partir da ausência de valores ou criação de novos valores.
Alguém que tendo tudo e que estando emocionalmente esvaziado e numa pulsão autodestrutiva - Eric Packer é um magnata de Wall Street que tem tudo - precisa de sentir emoções para igualmente se sentir vivo.
Sintomático disso é a aparente indiferença que assiste ao desbaratar da sua fortuna numa luta contra o yuan.

Tem um início fulgurante em termos da introdução à personagem. Eric decide que quer ir atravessar a cidade de Nova Iorque para ir cortar o cabelo, indiferente à passagem do Presidente e ao facto de as ruas poderem estar cortadas e ambiente em que este vive, tendo por base o interior de uma limusina sofisticada, futurista e psicadélica, onde as partes mais interessantes do filme e os melhores diálogos decorrem.
Limusina, que tanto o isola da realidade, como trás a realidade a si através dos diversos personagens que vão interagindo com ele no seu interior, ao mesmo tempo que nos mostra o caos da cidade que vai atravessando.

Curiosamente outro dos grandes trunfos de Cosmopolis, vem de onde menos esperava: Robert Pattinson.
Afinal o superficial vampiro de Twilight até sabe representar.
Constrói uma personagem credível, enferma dos excessos de uma sociedade capitalista, que nos faz interessar por ela e por o que ela pensa, desde o momento que surge.
Com um pouco de sorte consegue descolar-se da pele de vampiro adolescente, para se tornar verdadeiramente actor, apesar de essa cicatriz o marcar para sempre.

O outro grande trunfo são os diálogos. Opacos, densos e ambíguos. Na melhor tradição de Cronenberg.

Um senão neste filme. O início é excelente, desenvolve-se da mesma maneira, mas o desenlace podia ser mais feliz. O diálogo entre Eric e Benno Levin (Paul Giamatti), onde fica demonstrada a tal pulsão autodestrutiva que Eric que padece mas que também deseja, sendo exuberante não é de todo cativante.

Cosmopolis talvez não seja um filme para todos verem, mas pessoalmente é um filme que marca o regresso de David Croneberg ao seu universo.