Gosto quando um músico assume perante o seu instrumento a sua máxima responsabilidade. Ou seja, quando se torna solista. É quando há uma relação biunívoca entre os dois.
É como quem diz que entre marido e mulher, ninguém mete a colher.
É como quem diz que entre marido e mulher, ninguém mete a colher.
Entre ele e o seu instrumento não existe ninguém para se apoiar ou ser apoiado. para disfarçar uma falha, desculpar um esquecimento. Como acontece numa orquestra, num trio, quarteto e por aí fora. Há um certo anonimato. É "apenas" um músico entre outros, um nome que no fim, por vezes ninguém se lembra. Fica na memória o conjunto, não o nome.
Num solo o músico está e por opção propositadamente exposto. Está sujeito ao escrutínio de quem o ouve e o vê. O seu nome, a sua relação com o instrumento e com o público estão intrinsecamente ligados. É um por todos e todos contra um.
Na música para este fim de semana escolho pela quarta vez, um pianista a solo. Depois de António Pinho Vargas, João Paulo Esteves da Silva e Bernardo Sasseti, surge Filipe Raposo.
Dos dois primeiros pouco há a dizer. São dois incontestáveis senhores do piano, conhecidos do público, experientes e com provas dadas a vário níveis. E além que tenho uma admiração sem limites por António Pinho Vargas e Sasseti.
O conimbricense Filipe Raposo é recente nas luzes da ribalta. Tem trabalhado na "sombra" de outros artistas. Vitorino, Sérgio Godinho, Janita Salomé e Ana Moura já tocaram com ele.
O conimbricense Filipe Raposo é recente nas luzes da ribalta. Tem trabalhado na "sombra" de outros artistas. Vitorino, Sérgio Godinho, Janita Salomé e Ana Moura já tocaram com ele.
Em 2011 aventura-se a liderar um trio de jazz com o bem sucedido álbum First Falls. E em Junho deste ano, lança o seu primeiro álbum a solo - A Hundred Silent Ways. Título que foi buscar a um poema do poeta e teólogo sufi persa Rumi, do século XIII.
Ouviste os meus pensamentos, sabes o que está na minha mente".
É uma mistura da improvisação do jazz, do formalismo clássico e erudito, e da irrequieta música tradicional portuguesa. Três universos bem distintos, sabiamente unidos num único trabalho musical.
No que toca à responsabilidade, ao meu escrutínio da ligação de Filipe Raposo com o piano passa com distinção. E não me esquecerei do seu nome. Estou curioso relativamente a algum eventual segundo trabalho dele. Se manterá este tipo de registo. Espero que sim.
Muito provavelmente A Hundred Silent Ways ainda acabará no sapatinho de Natal de alguém
Não há muitos temas de Raposo no Youtube, mas With Closed Eyes vem ao encontro do que nos cativa. Os silêncios, as pausas interiores, que nos transporta para o que é bonito e sereno.
Bom para um dia de Outono agradável. Temperaturas confortáveis, um sol que não é excessivo, um céu pintalgado de branquinhas bolas de algodão doce e com um calma atmosfera a cheirar a fresco após alguns dias de chuva.
Bom fim de semana :)