Eu diria que se pode ter duas atitudes no que diz respeito a Queiroz e a todo o ambiente que o rodeia por estes dias.
Pessoalmente tenho um pé em dada uma delas.
Uma será, indiferença.
Queiroz teve atitudes que não são consentâneas com a do seleccionador nacional. É uma figura pública, representa o país e tem uma multidão de gente com os olhos postos em cima dele. Como tal, tem responsabilidades acrescidas em termos de comportamento.
Além que garantidamente, tem um ordenado que será bastante maior do que aquele que merece e as prestações da selecção nacional no campeonato mundial de futebol apesar de serem normais, souberam a muito pouco. Passividade e falta de ambição foi a palavra de ordem.
A outra, será de simpatia.
O que lhe estão a fazer é indigno. Processos disciplinares dignos de Kafka, uns atrás dos outros, mal explicados e fora de tempo.
Ninguém duvida que o objectivo final da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) é o seu despedimento sem que haja lugar à choruda indemnização, aproximadamente cinco milhões de euros que Queiroz tem direito. Quatro milhões corresponderão a dois anos de contrato por cumprir e mais um milhão para férias e outras regalias. E teria provavelmente que gastar outro tanto para contratar outro treinador.
Dois destes processos dizem respeito a eventos que aconteceram no estágio que ocorreu em Maio deste ano, cerca de um mês antes do início do campeonato mundial de futebol e que só agora - três meses depois! - estão a decorrer.
A FPF puniu Queiroz com um mês de suspensão e mil euros de multa devido a injúrias proferidas a Luís Horta, médico da Autoridade Anti Dopagem de Portugal (ADoP). Foi no entanto foi ilibado da acusação de perturbação da recolha de amostras para o controlo antidoping.
A ADopP não gostou do desenvolvimento desta acusação e tomou o caso
entre mãos. Esta semana decidiu suspender o treinador por seis meses.
O vice presidente da FPF, Amândio Carvalho, e que nunca gostou do seleccionador, está a avançar com um terceiro processo devido a uma
entrevista dada por Carlos Queiroz ao Expresso em que este afirmou que Amândio Carvalho é a cabeça de um polvo, entenda-se líder, de um plano concertado que visa o seu despedimento.
Queiroz parece um condenado à morte por fuzilamento, mas que ninguém tem coragem de dar o disparo fatal. É um tiro no braço, outro na perna, depois no ombro e voltam a dar um no outro braço.
O resultado final será o pretendido, o despedimento, mas com a vantagem de toda a gente (FPF e ADoP) olhar para o lado e assobiar para o alto, sacudindo a água do capote.
Advoguei
aqui que Queiroz devia ter saído pelos resultados, atitudes e comportamento da selecção nacional no final do mundial de futebol.
Mas devia ter saído na altura certa, quando se justificava, quando objectivamente havia motivos para tal. Não desta maneira.
Tudo isto demonstra uma grande falta de coragem, de dignidade, de respeito pela selecção nacional e pelo seleccionador. Pelo futebol e até pelo país.
A imagem que estamos a passar para o resto do mundo é bastante má. Com um pouco de sorte, talvez as nossas pretensões relativamente à organização conjunta do mundial de 2018 com a Espanha estejam a ir por água abaixo.
Ao menos, que haja algo de positivo nisto...