É um trio nacional de jazz bastante invulgar. Não me recordo de nenhuma formação que integre a tuba. Por vezes encontramos ocasionalmente o trombone, mas encontrar uma tuba é de facto raro no mundo do jazz. Mesmo internacionalmente.
Naturalmente que a sonoridade desta formação tem uma personalidade bem vincada e distinta.
Tendo um som bastante grave podemos imaginar a tuba a fazer o papel de "contrabaixo" nesta formação o que não é totalmente errado mas também não deixa de ser algo redutor para quilo que esta consegue fazer debaixo da arte de Sérgio Carolino. A versatalidade deste instrumento é maior do que o seu tamanho deixa supor.
Pessoalmente quando penso na tuba como um instrumento de jazz ela remete-me de imediato para os sons do dixieland de rua de New Orleans.
Ao lado do tubista Sérgio Carolino, está o baterista Alexandre Frazão e Mário Delgado a trabalhar na guitarra.
Para este fim de semana escutemos o tema 3.4.7 retirado do primeiro álbum, lançado em 2004 e homónimo desta formação: Tuba, Guitarra e Bateria.
Diz-se que "se a vida te dá limões então faz limonadas". Refaço esta frase e afirmo "se a vida te dá limões então ouve Arvo Pärt".
Para quem não conhece Arvo Pärt - fervoroso cristão ortodoxo nascido em Paide, actual Estónia, na altura parte integrante da antiga URSS, em 11 de Setembro de 1935 - aconselho vivamente que vão à procura da sua maravilhosa e sublime obra.
Principalmente aquela que se situa após a sua auto-imposta reclusão, uma espécie de exaustão creativa, para reflexão e procura de uma nova forma de compor que durou entre os anos de 1968 a 1976.
Pärt emerge deste período com uma técnica de composição muito própria que chamou de "tintinnabuli" (pequenos sinos) e que o tornaria um dos compositores mais influentes, não só do século XX mas também do século XXI.
Ela leva-nos aos reinos do além, do divino e do espiritual. Entrelaça pontes entre o terreno e o sagrado, diálogos e reflexões entre a vida e a morte.
Sendo extremamente difícil para mim escolher uma peça, opto por ser apenas instrumental (deixo as corais para mais tarde), que vá ao encontro do parágrafo que abre este post, escolho, paradoxalmente com alguma facilidade, Cantus in Memory of Benjamin Britten.
É uma das (várias) peças a que recorro com alguma frequência quando só tenho limões pela frente. É tudo o que podemos esperar de Pärt: espacial, imensa beleza, elegância a um nível raras vezes encontrado. É de uma simplicidade única, profundamente espiritual, capaz de falar com a nossa alma, capaz de nos fazer crer que existe algo superior (qualquer que seja o nome que possa ter).
Iniciando-se com três singelos toques de sino, pouco audíveis neste vídeo, este tema começou a ser composto por Arvo Pärt em 1977, após a morte do compositor britânico em Dezembro de 1976. Arvo afirmaria que pouco antes da morte de Britten tinha começado a admirar a pureza da sua música e que queria tê-lo conhecido pessoalmente. Sentia-se arrependido de não o ter feito porque a sua morte fez com que tal jamais acontecesse.
As suas obras corais são nobres e celestiais. Etéreas. Profundamente devocionais. Ora frágeis e ténues, ora poderosas e vibrantes, sempre envolventes, protectoras como uma manta que nos é colocada num dia frio. Os instrumentais são delicados. Frequentemente intensos e amplos, cheios de texturas, repletos de uma melancolia doce e de uma inexcedível beleza onde o silêncio (particularmente nas suas peças para piano) encontra espaço e tempo para se fazer ouvir por entre notas esparsas dos instrumentos musicais.
É um privilégio viver numa época em que este compositor está ainda vivo, poder conhecê-lo em tempo real sem que ainda se tenha tornado uma memória. No futuro, o seu nome será recordado, lido e ouvido na história da música. O seu legado musical perdurará nos tempos futuros ao lado de tantos outros nomes consagrados da música erudita, clássica e contemporânea. Nomes que aprendemos a ouvir, a admirar e a deixar que nos maravilhem.
Regressando ao Cantus in Memory of Benjamin Britten - uma obra pode ser encontrada em Musica Selecta, um duplo álbum que a editora alemã ECM lançou em 2015 para comemorar os 80 anos do compositor - ela emociona-me profundamente, chega ao meu âmago. É como se Pärt estivesse a falar comigo, a tocar na minha alma e esta o compreendesse.
É notório que Arvo Pärt é um compositor pelo qual tenho um imenso carinho. É muito raro que isto aconteça. Para além dele, talvez só Tchaikovsky provoque e cause em mim esse sentimento, essa magia tão viva e tão especial.
"Eu posso comparar a minha música como a luz branca que contém todas as cores.
Apenas um prisma pode dividir essas cores e fazê-las aparecer;
"Ainda preciso de comprar champanhe, quando o dinheiro chegar"
A 20 de Outubro, era anunciado o vencedor do prémio literário Camões de 2021: a escritora moçambicana Paulina Chiziane.
Nascida em Manjacaze, Moçambique, em 1955, e correntemente a viver e trabalhar na Zambézia, a escritora conta com cerca de dez livros publicados onde a condição e a emancipação feminina é frequentemente abordada.
O seu primeiro livro publicado em 1990, Balada de Amor ao Vento, seria também o primeiro livro publicado por uma mulher moçambicana.
Não é uma ilustre desconhecida entre nós. Em 2003 vê o seu livro Niketche: Uma História de Poligamia, subir aos palcos portugueses e em 2014 seria agraciada com o grau de Grande Oficial da Ordem Infante D. Henrique pelas mãos do então presidente português, Cavaco Silva.
É a terceira vez que um autor moçambicano foi galardoado com o Prémio Camões. Anteriormente tinha sido José Craveirinha em 1991 e Mia Couto em 2013.
Em Portugal está editada pela Caminho.
Se temos a oportunidade de conhecer o seu pensamento por intermédio da palavra escrita dos seus livros, a personalidade da vencedora do Prémio Camões é maravilhosamente percebida pela palavra oral desta curta entrevista após ter tido conhecimento que tinha ganho o prémio Camões
Aqui podem encontrar as principais ideias que Guterres, secretário-geral da ONU, veiculou no seu discurso de hoje na abertura da COP26.
Um discurso brilhante, directo e claro de alerta sobre o que se está a passar actualmente, a necessidade de um maior e efectivo empenho em atingir as metas propostas.
Apesar das promessas, do (pouco) que está a ser feito, continuamos a caminhar no sentido oposto. As temperaturas médias do planeta estão a subir e a afastarem-se dos tão desejados 1.5ºC até ao final do século. Guterres põe o dedo e atira sal para a ferida, avisando que actualmente o planeta deve aquecer até aos 2.7ºC, na melhor das hipóteses bem acima dos 2ºC e que os seis anos que mediaram desde os Acordos de Paris até 2021 foram os mais quentes desde que há registo.
"É hora de dizer basta. Basta de brutalizar a biodiversidade, basta de matarmo-nos a nós mesmos com carbono, basta de tratar a natureza como uma latrina (...) e de cavar a nossa própria sepultura."
A PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) criou um vídeo (em inglês), com um humor muito sério, para ilustrar os gastos de cerca de 12 mil milhões de euros que organizações internacionais e governamentais estão a tomar mais em prol dos combustíveis fósseis do que a favor de alternativas favoráveis ao ambiente.
Neste vídeo, o dinossauro Frankie faz um discurso às Nações Unidas. O seu objectivo é mostrar o quanto são absurdas as decisões que estamos a tomar no campo das energias fósseis que nos estão a conduzir, a empurrar para a extinção. O dinossauro questiona que eles, os dinossauros, foram extintos por um meteorito mas qual é a nossa desculpa para essa extinção? Continua afirmando que o que estamos a fazer é a patrocinar o aparecimento de vários meteoritos cujo resultado final é o fim da nossa espécie.
Na página deste ramo das Nações Unidas são também enumeradas dezanove desculpas usadas para desvalorizar a luta contras as ações climáticas. Cada uma delas é explicada e desmontada de uma forma sucintas (clicar nos respectivos links - também em inglês)
A COP26, a vigésima sexta conferência para as alterações climáticas, começa hoje e decorre até 12 de Novembro em Glasgow. Considerada uma das cimeiras mais urgentes e importantes de sempre, nela pretende-se rever e fazer o ponto de situação dos Acordos de Paris de 2015 que têm por objectivo limitar até ao final deste século a temperatura média global em 1.5ºC e do Protocolo de Quioto de 1997 onde ficou acordado por parte dos países signatários a redução da emissão de gases de efeito de estufa em 5%.
Xi Jinping, o presidente chinês, o primeiro grande poluidor do planeta não vai estar presente, Biden o presente americano e o segundo maior poluidor do mundo, reconhece as alterações e o seu impacto mas não se compromete com metas. O presidente russo, brasileiro e primeiro-ministro português António Costa também não vão estar presentes na COP26. As expectativas, infelizmente, são baixas e o pessimismo reina relativamente ao resultado final desta cimeira.
O facto é que estamos a destruir o planeta e com ele nós próprios. A aceleração das alterações climáticas versus a forma como reagimos a elas está claramente a favor das primeiras. Quanto mais tarde reagirmos a elas, quanto mais ineficazes formos, mais inevitáveis e irreversíveis as alterações serão. O seu impacto será cada vez mais destruidor no planeta e principalmente sobre nós.
As gerações futuras vão viver num planeta cada vez mais hostil, quase inabitável, para elas. 😔