O dia mundial do Livro é um dos mais bonitos do calendário. E claramente um dos dias mais desperdiçados também. O telemóvel, os jogos, as redes sociais vieram arrasar com o hábito de leitura.
Mas as livrarias também têm o seu quê de culpa no cartório. Não fomentam a leitura por muito que usem cartão de pontos ou acenem com descontos aqui e ali.
Uma livraria da Bertrand, uma referência livreira, é um repositório de livros empilhados e acumulados por todo lado sem aparente organização, sem que um leitor seja capaz de navegar por ela de uma forma intuitiva. Se procuro um título ou um autor especifico não me dou ao trabalho de cirandar no seu interior. Falo com um empregado que me leva à respectiva prateleira ou me diz onde eu o encontrar.
A quantidade de literatura cor de rosa e de best sellers é abismal. Na verdade não gosto de entrar numa Bertrand.
A Almedina é uma livraria onde os livros são mais bem tratados. Prateleiras bem organizadas, livros catalogados, fácil de encontrar livros técnicos e especializados, títulos clássicos e autores reconhecidos mais pela forma como escrevem e pelo seu conteúdo do que pela quantidade que vendem.
Na FNAC, a quantidade de títulos disponíveis é enorme. Mas é um algures. Situa-se algures entre uma Bertrand e uma Almedina. Algures entre o empilhamento e a catalogação. Algures entre best sellers e livros de conteúdo, algures entre a literatura cor de rosa e os livros técnicos, algures entre a auto-ajuda e os livros de viagens.
Dá para cirandar pela sua secção livreira com espaço e tempo sem ter que afastar excessivamente livros um dos outros ou andar aos encontrões com outras pessoas, algo que gosto muito.
Os escritores de língua portuguesa estão presentes e bem representados.
Os hipermercados, por pedantismo e elitismo, não os considero um grande lugar para comprar livros. Onde se encontra peixe, carne, artigos de higiene, congelados, vegetais, etc..., etc..., não é garantidamente o melhor lugar para eles. Falta-lhe o cheiro a papel dos livros. Falta-lhe critério. Ou melhor, ele existe: a literatura cor de rosa e a auto-ajuda. No entanto cumprem uma função importante: para quem vai às compras não é difícil colocar um livro no carrinho, resolver uma prenda num acto rápido e despretensioso, seguir um impulso de uma leitura simples e pouco exigente.
No que me diz respeito, este ano tem sido um ano de saborosa e diversificada leitura. Entre a escrita decadente de Bukowski à elegância estilística de Hesse e de Calvino. Entre a divulgação científica de Quammen, Fagan e Kolbert até à investigação da vida de um meteorologista que aborda o Holodomor, a grande fome estalinista do início da década 30 do século passado.
Neste dia mundial do Livro, comprem uns quantos, seja que género for e onde for. É um dos melhores gestos consumistas que uma pessoa pode fazer por ela própria e pelos outros.
Pessoalmente, adoro livros 📖