sábado, 23 de abril de 2022

dia mundial do Livro II


Uma visão de uma prateleira cheia de livros é um autêntica e bela visão.
No meu caso compro mais livros do que aqueles que vou lendo. Vai ser sempre assim. 
Tsundoku, chamam-lhe os japoneses 😉










uma música para o fim de semana - Duplex (João Barradas e Ricardo Toscano)





Nestes últimos dias, o jazz aterrou em Ovar. O Ovar em Jazz começou na passada quarta-feira e prolonga-se até ao próximo domingo, dia 24 de Abril.
Assisti aos concertos de Duplex - João Barradas em acordeão e Ricardo Toscano com saxofone alto - e do Sexteto de Jazz de Lisboa (SJL) liderado por Mário Laginha (piano) e Tomás Pimentel (trompete).
Os dois foram muito bons. Intimistas os primeiros, mais efusivos os segundos.

Faz todo o sentido que Uma Música para o Fim de Semana reflicta estes dois concertos.
Duplex é um duo improvável no jazz nacional (e não só). O acordeão um instrumento invulgar nas formações de jazz é dominado por João Barradas, um músico que admiro bastante, dialoga muito bem com o saxofone alto de Ricardo Toscano (que também integra o SJL).

Estrearam-se em palco pela primeira vez em 2021. Talvez por esta convivência de ainda pouco tempo em palco não os senti ligados e coesos. O saxofone alto de Ricardo Toscano soou algo amorfo e sem grandes contrastes.
Indo buscar o que escrevi acima, o facto de ver e ouvir um instrumento, como o acordeão (incluindo o acordeão sintetizador) tão pouco associado e integrado no jazz, vale a pena ouvir este Duplex.
Para explorar melhor o trabalho de João Barradas, oiçam por exemplo o seu trabalho em Directions e Home. 


Bom fim de semana 😉🎵












dia mundial do Livro I


O dia mundial do Livro é um dos mais bonitos do calendário. E claramente um dos dias mais desperdiçados também. O telemóvel, os jogos, as redes sociais vieram arrasar com o hábito de leitura.
Mas as livrarias também têm o seu quê de culpa no cartório. Não fomentam a leitura por muito que usem cartão de pontos ou acenem com descontos aqui e ali.

Uma livraria da Bertrand, uma referência livreira, é um repositório de livros empilhados e acumulados por todo lado sem aparente organização, sem que um leitor seja capaz de navegar por ela de uma forma intuitiva. Se procuro um título ou um autor especifico não me dou ao trabalho de cirandar no seu interior. Falo com um empregado que me leva à respectiva prateleira ou me diz onde eu o encontrar.
A quantidade de literatura cor de rosa e de best sellers é abismal. Na verdade não gosto de entrar numa Bertrand.

A Almedina é uma livraria onde os livros são mais bem tratados. Prateleiras bem organizadas, livros catalogados, fácil de encontrar livros técnicos e especializados, títulos clássicos e autores reconhecidos mais pela forma como escrevem e pelo seu conteúdo do que pela quantidade que vendem.

Na FNAC, a quantidade de títulos disponíveis é enorme. Mas é um algures. Situa-se algures entre uma Bertrand e uma Almedina.  Algures entre o empilhamento e a catalogação. Algures entre best sellers e livros de conteúdo, algures entre a literatura cor de rosa e os livros técnicos, algures entre a auto-ajuda e os livros de viagens. 
Dá para cirandar pela sua secção livreira com espaço e tempo sem ter que afastar excessivamente livros um dos outros ou andar aos encontrões com outras pessoas, algo que gosto muito.
Os escritores de língua portuguesa estão presentes e bem representados.

Os hipermercados, por pedantismo e elitismo, não os considero um grande lugar para comprar livros. Onde se encontra peixe, carne, artigos de higiene, congelados, vegetais, etc..., etc..., não é garantidamente o melhor lugar para eles. Falta-lhe o cheiro a papel dos livros. Falta-lhe critério. Ou melhor, ele existe: a literatura cor de rosa e a auto-ajuda. No entanto cumprem uma função importante: para quem vai às compras não é difícil colocar um livro no carrinho, resolver uma prenda num acto rápido e despretensioso, seguir um impulso de uma leitura simples e pouco exigente. 

No que me diz respeito, este ano tem sido um ano de saborosa e diversificada leitura. Entre a escrita decadente de Bukowski à elegância estilística de Hesse e de Calvino. Entre a divulgação científica de Quammen, Fagan e Kolbert até à investigação da vida de um meteorologista que aborda o Holodomor, a grande fome estalinista do início da década 30 do século passado.

Neste dia mundial do Livro, comprem uns quantos, seja que género for e onde for. É um dos melhores gestos consumistas que uma pessoa pode fazer por ela própria e pelos outros. 

Pessoalmente, adoro livros 📖














sexta-feira, 22 de abril de 2022

dia mundial da Terra II


Tendo uma panterinha comigo, outro bom e excelente motivo para salvar a Terra 😻











dia mundial da Terra - venha depressa a nossa extinção


Por muito que vivamos, nunca veremos algo mais bonito que o nosso planeta, a nossa casa, a Terra.
Dá-nos abrigo, dá-nos protecção e alimenta-nos. Vemos a natureza no seu esplendor máximo, paisagens de cortar respiração, oceanos imensos e animais espantosos e dignos de admiração. 

É a coisa mais preciosa que temos na nossa vida e dependemos dela em todos os momentos, todos os segundo que a nossa vida durar. Tudo o que temos, tudo o que teremos, tudo a que possamos aspirar a ter, vem da Terra. E o que fazemos a este paraíso? Matamo-lo, destruímo-lo até mais não, como se não houvesse amanhã. E um dia, tal acontecerá. A nossa casa, o nosso belo planeta não terá mais condições para nos albergar. Nesse dia, mais próximo do que nós possamos pensar, estaremos expulsos deste maravilhoso paraíso. Não porque a Terra queira isso mas porque nós fizemos com que isso acontecesse. Por nossa vontade.

Sabemos o que temos que fazer, sabemos como fazer e inacreditavelmente não o fazemos. Estamos à beira do precipício e damos um passo em frente. Com esse passo para além de nós, arrastamos connosco, para o negro abismo, incontáveis espécies animais, as que conhecemos e as que nunca viremos a conhecer. 
Pomposamente consideramo-nos como a espécie mais inteligente, mais racional, a espécie suprema e no entanto estupidamente somos igualmente a única espécie que destrói a sua própria casa, que se auto-extingue. Somos a única espécie que pelo facto de meramente existir é destrutiva. Somos a única espécie cuja presença não traz qualquer tipo de mais valia à Terra.

Já escrevi várias vezes isto e acredito fortemente em tal: quanto mais depressa nos extinguirmos mais depressa damos ao planeta a possibilidade de fazer evoluir uma outra espécie que seja capaz de viver em harmonia, de respeitar, de compreender e amar a sua casa. De corrigir o erro evolutivo que nós somos.
Sou terrivelmente pessimista relativamente ao nosso destino mas que esse destino venha rápido.
Que nos extingamos o mais depressa possível. Até lá, até ao fim da minha vida, irei sofrer imenso ao ver o que fazemos ao nossa planeta.









quarta-feira, 20 de abril de 2022

Charles Bukowski - Pulp


Escrevi aqui que tinha comprado o meu terceiro livro de Charles Bukowski, Pulp. Hoje concluí a sua leitura.
Foi escrito pouco antes da sua morte e Bukowski sabia disso. Morre de pneumonia na consequência de um tratamento a uma leucemia em 1994. É portanto um livro de despedida. Escatológico.

Em vez do alter ego Henry Chinaski, em Pulp entra em acção detective de Los Angeles, Nick Belane. Um balofo detective de segunda que cobra seis dólares por hora e que tem clientes estranhos e inusitados: a Senhora Morte procurando por um escritor francês que pensa que já devia ter morrido, um cliente que se relacionava com uma extraterrestre de formas sensuais, um homem que pensa que está a ser traído pela sua bela esposa e finalmente alguém que procura um pardal vermelho. 
Ou seja, faz jus ao título do livro que nos remete para a literatura barata, de cordel, que se encontra pendurada nas bancas dos jornais.

É uma escrita mais contida, não tão visceral quanto os seus livros anteriores que li, em particular Notas de um Velho Nojento. Mesmo assim, e felizmente toda a essência, a urbanidade, da sua escrita está presente: crua, não falta o álcool e as rondas pelos bares, a violência, as personagens decadentes, a ironia, sarcasmo e a desilusão. Reflexões sobre a morte vão pontuando regularmente o livro.
Os casos vão sendo resolvidos e a última ponta solta sela o destino final de Belane e do livro.

Para os seus admiradores, Pulp não desilude mas não será o seu melhor livro. 
Bukowski parece que escreve mais para si. Para se familiarizar, para se preparar para a morte, sem amargura ou remorsos, do que para os seus leitores. Ou talvez ao contrário. Ao se dirigir para os seus leitores, a sua audiência de sempre, prepara-se para a morte. Faz sentido que assim seja.
Fica no entanto alguma tristeza por sabermos que este foi o seu último livro.