Já aqui o tinha escrito. Não sou um particular fã do pianista e compositor nipónico Ryuichi Sakamoto mas a sua morte é de facto uma grande perda para os amantes de música e principalmente do piano.
A sua música é difícil de categorizar. Sakamoto é conhecido pela utilização pioneira da electrónica na música, pelas parcerias com músicos influentes no mundo da pop como David Bowie, David Byrne e Iggy Pop, ou por ter incorporado nas suas obras variados géneros musicais que vão desde o New Age, Ambient, Techno à pop electrónica. Em parte é por causa desta fusão de estilos que não sou apreciador do seu trabalho nestas áreas.
Talvez seja enquanto compositor de bandas sonoras, e elas foram incontáveis, mais de três dezenas, que a maior parte de nós o conheça. São suas as bandas sonoras de Merry Christmas Mr Lawrence (1983), O Último Imperador (1987) onde ganharia um Oscar para melhor banda sonora, o belíssimo Chá no Deserto (1990), Babel (2006) e o mais recente The Revenant (2015).
É quando se senta à frente de um solitário piano que a magia se espalha, fazendo-nos levitar, onde a alma ultrapassa a materialidade do corpo.
Curiosamente, não é um trabalho de piano que consta no lugar mais alto das minhas preferências. Esse lugar está dedicado a Async, onde a fusão com a electrónica está presente. Um álbum editado em 2017, ele assenta numa lógica reflexiva baseada numa electrónica discreta e sofisticada, urbana e ambiental. Profundamente texturado, cada tema é construído por várias camadas onde cada uma delas é um pequeno mundo sonoro. É um álbum que considero profundamente metafísico, existencial e ocasionalmente distópico como por exemplo a faixa que dá nome ao álbum.
É esta complexidade acessível, que pessoalmente, torna este álbum tão atraente.
O seu último trabalho, consciente da proximidade da sua morte é 12. O seu décimo segundo álbum de estúdio editado a 17 de Janeiro deste ano.
No que me diz respeito é difícil escapar ao encanto e delicadeza dos temas Merry Christmas Mr Lawrence, de Blu ou The Sheltering Sky.
Mas é em Async que o encontro (e reencontro) com Sakamoto resulta sempre num abraço franco de boas vindas e onde sei que os próximos minutos me trarão paz e abrandará esta inquietude permanente em que vivo mergulhado.
Zure é uma das faixas que mais atenção dedico precisamente pelas razões que acima descrevi: urbanidade, as texturas, a reflexão, o ambiente que cria à nossa volta. Uma bolha protectora de tudo e todos.
Ryuichi Sakamoto, morreu no passado dia 28 de Março de 2023.
No entanto a sua morte, já esperada, só foi anunciada ao mundo 02 de Abril de 2023.