Que grande filme! Um dos poucos filmes que gostaria de ver uma segunda vez.
Quando soube que
Interstellar era realizado por
Christopher Nolan nunca duvidei que iria ser dos melhores filmes que veria em 2014.
Depois da trilogia dos Batman e principalmente depois de Inception, Christopher Nolan tornou-se um realizador de referência para mim.
E acredito que este filme dele se tornou um marco no género. Creio que a ficção científica nunca mais será a mesma depois de Interstellar e de
Gravidade do mexicano
Alfonso Cuarón.
E se alguém pensa que vai assistir a grandes batalhas espaciais, explosões que ensurcedoramente sucedem-se umas atrás das outras, naves espaciais que curvam e rodopiam a velocidades próximas da luz, extraterrestres de todas as formas e feitios, e que a edição do filme seria tão rápida que não dá para perceber verdadeiramente o que se passa e em que a veracidade cientifica é posta de lado porque afinal o que interessa é o espanto para os olhos e o regalo para os ouvidos, então é melhor esquecer Interstellar.
Interstellar sendo um filme espectáculo dá para reflectir sobre a real e verdadeira mensagem que ele tem para transmitir.
Toda a base cientifica que suporta o filme converge para dois caminhos que se assumem como como duas forças inevitáveis da vida: o esgotamento dos recursos da Terra e a força motriz que o Amor representa.
Se a primeira é força motriz que a leva um grupo de pessoas procurem alternativas ao planeta para que a Humanidade possa colonizar e assim sobreviver, a segunda sobre diversas formas faz com que o planeta sobreviva.
Agora tudo isto é servido numa bandeja, num prato de gala que demora pouco menos que 180 minutos a ser saboreado.
Possivelmente Christopher Nolan é o realizador mais interessante e fascinante dentro do mainstream de Hollywood.
E meto imediatamente de lado Spielberg e James Cameron. Realizadores de filmes imediatistas, de entretenimento fácil em que os efeitos especiais são a própria história.
Poucos realizadores devem estar tanto à vontade com as grandes dimensões visuais de um filme e de argumentos complexos e sofisticados como Nolan.
E digo isto (sempre) do ponto de vista quem as utiliza para contar uma boa história do principio ao fim sabendo entrelaçar coerentemente o aspecto humano e o técnico. E Interstellar é um exemplo cabal desta capacidade e à vontade.
A realização dinâmica, incisiva e directa, prescinde da muleta do 3D para nos atirar para dentro do filme. É exuberante e visualmente poética. Próximo do final do filme quando Cooper está na quinta dimensão, a maneira como está está filmada é extraordinária.
O argumento é soberbo. De uma maneira simplista ele parte de uma realidade actual, preocupante e na qual muita gente já se preocupa - a incapacidade de o planeta nos sustentar - para uma realidade futurista em que se torna urgente encontrar um planeta alternativo para salvar e albergar a Humanidade. E neste último ponto também já há quem esteja a trabalhar nesta busca.
Partindo de uma premissa simples, na verdade ao longo das quase três horas de filme, o argumento é extraordinariamente complexo.
E está tão bem escrito que nos prende a atenção logo no início e as três horas passam a "voar". Não damos por elas.
Há passagens do filme que requerem algum conhecimento cientifico para se perceber e compreender com maior clareza o que se está a passar à frente dos nossos olhos e alguns golpes de cintura por parte do argumento.
Buracos verme, buracos negros, singularidades, quartas e quinta dimensões, sem mencionar a Teoria da Relatividade nas suas formas mais simples ou, esquecer ao contrário do que estamos habituados, que no espaço quando algo explode ou colide não há som. Só silêncio.
Talvez seja o elo mais fraco de Interstellar. Nenhum dos actores parece ter conseguido integrar, assumir plenamente o seu papel.
Matthew McConaughey (Cooper) dá sempre a sensação de ser mais um cowboy espacial do que um piloto da NASA.
Anne Hathaway parece que não gosta de se sujar, sempre muito "esterilizada" e o corte de cabelo não ajuda muito.
Matt Damon (Dr Mann) nem devia contar para o filme. Não chega a aquecer o lugar. Falta-lhe dinâmica e convicção desde o início. Noutros filmes há quem tenha tido menos minutos de ecrã e tenha tido melhor desempenho. Estratégia de marketing para levar mais uns quantos espectadores para as salas de cinema à conta do seu nome.
Michael Caine agarra o papel mas tem pouco tempo de antena. É uma das personagens mais carismáticos e que mais substância tem. Talvez merecesse ser mais desenvolvida, tem um papel crucial no desenrolar do filme mas que praticamente passa ao lado. O que é uma pena.
No meio destes nomes sobejamente conhecidos do mundo cinema, uma menina convence-me plenamente. A Murphy, a filha de Cooper em nova, é desempenhada por
Mackenzie Foy é o melhor desempenho de todo o casting do filme. Mesmo quando cresce e se torna também uma cientista da Nasa, passando a ser desempenhada pela consagrada
Jessica Chastain, esta não consegue ter a mesma convicção da jovem actriz.
Um ponto a não esquecer. A banda sonora é de Hans Zimmer. É a quinta vez que este compositor trabalha com Christopher Nolan. A trilogia Batman e Inception são dele. E não desilude.
O final talvez seja um pouco meloso. Mas é precisamente através desse fim que a porta para um segundo filme se abre.
Espero bem que sim. Ver uma sequela de Interstellar deve ser outro privilégio. Uma nova oportunidade de voltarmos a arregalar os olhos e acreditarmos na magia e do encanto do cinema. Mesmo que seja mais do mesmo. Preferivelmente com outro casting.