Hoje vai haver balões de todas as cores amarrados a pulsos pequeninos, passeios
pelos parques
Provavelmente vão ver as suas mesadas aumentadas e receber prendinhas azuis
para os meninos e rosa para as meninas.
Vão ter as suas famílias próximas de si, vão passar mais tempo com elas e
vão ser muito abraçadas e levar muitos beijinhos.
As escolinhas vão fazer, mais jogos, mais brincadeiras, novas colecções de
lápis de cor, grandes livros para colorir, fazer comboios e rodas, moldar barro e plasticinas.
Um pouco de sorte terão palhaços e truques de magia.
Para muitas crianças, hoje será um dia cheio de sorrisos, gargalhadas e
muitas palminhas de contentamento.
No final do dia deitar-se-ão um pouco mais tarde, dormirão o sono dos
anjos, com uma bela e saborosa estoura no corpo.
Sonharão que andam de mão dada com a tromba de um elefante cor de rosa e
que vão dando conselhos como ele se deve portar quando chegar pela primeira vez
à escola dos elefantes,
conduzem carros de bombeiros de grandes escadas com um tinoni azul a apitar
muito ou sonharão com um cabeleireiro cheio de bonecas para fazer alisar os
cabelos ou fazerem muitos caracóis.
O dia mundial da Criança, foi criado a pensar neles. Na celebração da
infância, a celebração da sua inocência, na sua fragilidade, porque um dia serão eles que terão o país nas suas mãos e serão o seu futuro. Clássico.
E no entanto…
Há tantas e tantas, mais do que as outras crianças, que não têm nada disto.
Não aparecerão na televisão, porque vê-los é triste, incomoda-nos e nós não queremos tristeza e incómodos
no dia mundial da Criança.
Este dia não é deles é não é para eles. Estes meninos e meninas são sabem o que é ser criança Não
tiveram oportunidade de serem inocentes e tiveram a sua infância roubada e
perdida.
O seu mundo não é rosa, nem azul. Não tem cores sequer. Não têm mundo. Têm
só dias a seguir uns aos outros.
A sua escola é serem vendidos sabe-se lá para quê e para onde, é
trabalharem até caírem para o lado de exaustão, estarem deitadas na cama e por
sua vez ter alguém perversamente deitado em cima delas.
Em vez um carro de bombeiros e bonecas terão nas suas mãos AK47s e
por-lhes-ão na sua cintura cintos de bombas.
Não sabem o que é um abraço ou um beijo, a protecção ou conforto, mas sabem
muito bem o que é serem espancados, violados por quem deveriam confiar e amar e
engravidam aos 10 anos.
Provavelmente não chegarão a ser adultos sequer e se forem adultos, serão
desequilibrados. Serão excluídos.
Vão de instituições em instituições, historiais de fugas, ter longos cadastros criminais
para a idade que têm.
Vão para as escolas e matam uma série de gente, tornar-se-ão violadores e
um perigo para a sociedade e no entanto foi a sociedade que os tornou assim.
E lá se perdem n futuros em n mãos para n países.