O título da canção de JP Simões - Gosto de Me Drogar - não é lá grande coisa.
Mas a letra tem o seu quê. É uma letra resignada.
Mas a letra tem o seu quê. É uma letra resignada.
Muita gente considera que a resignação, o deixar-nos ir na onda, ir no rebanho, alinhar com o número maior, é uma fuga, um encolher de ombros. Talvez sim, talvez não.
Pessoalmente sou tentado a pensar que é um acto de inteligência, no limite, é de resistência e até sobrevivência.
É ter a noção que continuar a lutar contra algo que não se vai ganhar é um desperdício de forças, uma exaustão mental, é percorrer o caminho para a insanidade.
Esta arte da fuga, através de um vício, de um construir de uma bolha protectora, uma indiferença exteriormente calculada quando cá dentro talvez exista a semente da revolta, da luta, mas perante a inutilidade, a ausência da certeza de sucesso, ela fica latente, talvez para sempre ou talvez apenas até ao minuto seguinte.
Este acto de drogar, de beber, de nos alienarmos, construirmos mundos pessoais feéricos e sempre efémeros tem um grande problema. Maior que aqueles dos quais nós pretendemos proteger-nos.
É o acordar. O ter de novo, implacavelmente, dolorosamente. a realidade nua e crua à nossa frente.
É o acordar. O ter de novo, implacavelmente, dolorosamente. a realidade nua e crua à nossa frente.
Uma trip, uma bebedeira, prozacs, não ajudam. Quando acabam, quando acaba a realidade alternativa que criam, o choque e a ressaca da realidade real é tão avassaladora, que mais vale não a enfrentar.
Por isso no fundo, a resignação, o deixar ir no sei lá o quê, é um alívio falso.
Mas se não dermos uma saltada de vez em quando a esse mundo do faz de conta, onde nos podemos recuperar, entorpecer e adormecer, somos tão permanentemente atropelados pelo que está à nossa frente, ao nosso lado, que não nos conseguimos levantar, não passamos da horizontal ou de um esforço insano para de lá sairmos.
Mas se não dermos uma saltada de vez em quando a esse mundo do faz de conta, onde nos podemos recuperar, entorpecer e adormecer, somos tão permanentemente atropelados pelo que está à nossa frente, ao nosso lado, que não nos conseguimos levantar, não passamos da horizontal ou de um esforço insano para de lá sairmos.
Então voltamos ao início deste texto. À resignação, à sobrevivência, à resistência passiva, à necessidade de recorrer ao desconto de tempo que um espumante e 10 copos a mais nos dá daquela realidade que nos atira ao chão e nos esmaga.
Bom fim de semana :)
gosto de me drogar
de beber como um louco
acho sempre que é pouco
quero engolir o mar
só assim me suporto
e então não me importo
de ouvir cantar o fado
e ficar deslumbrado com...
sei lá o quê.
com 10 copos a mais
fico novinho em folha
e parto à recolha
de 1000 conversas banais
tudo fica interessante
com mais um espumante
o meu país é lindo
e a humanidade é mesmo...
tão sei lá o quê, sei lá
ai será que a vida quer ser vivida
será que não
será que o sexo é só pra procriar
ou é só para armar confusão
dizem que tudo está predestinado
que não há nada a fazer
então mais vale estar embriagado
pois é o que tinha de ser
gosto de me drogar
como tantas pessoas decentes e honestas
como automedicar
só assim me suporto
e então não me importo
de ser um cidadão
dar a contribuição para...
sei lá o quê
com um tiro na veia
chuto todo o mau gosto
para lá do sol posto
quase nada me chateia
tudo fica tranquilo
e eu já nem refilo
e o meu país é lindo
e a humanidade é mesmo tão
sei lá o quê, sei lá
ai será que a vida quer ser vivida
será que não
será que o sexo é só pra procriar
ou é só para armar confusão
dizem que tudo está predestinado
que não há nada a fazer
então mais vale estar embriagado
pois é o que tinha de ser