sábado, 23 de julho de 2016

uma música par ao fim de semana - Slow J


Em Maio do ano passado saía um Extended Play - The Free Food Tape - com sete músicas de um músico hip hop português, oriundo de Setúbal chamado Slow J.
Fez fortes ondas no meio musical em que se insere. Foram muito bem recebidas as suas letras, a forma como as músicas foram compostas.
Neste EP há um par de faixas que me atraíram fortemente.

Gostei particularmente de Cristalina. A última das sete.
Segundo o seu autor:  - “É sobre a verdade. Sobre dizer ou não a verdade quando ela pode magoar.

Nela quer a música, quer a letra, são de cadência lenta, quase soletrada.
Há uma melancolia, na sua voz, no seu ritmo que torna a extremamente cativante e enigmática até.
Não é "rapada". Foge aos cânones cansados e estereotipados do rap, do hip hop martelado, que por vezes faz lembrar uma lavagem ao cérebro.
É antes um R&B de muito bom gosto.


Para quem não conhece e ficou curioso sobre um músico cujo seu primeiro trabalho foi considerado prodigioso, um dos melhores álbuns do ano do hip hop nacional, saiba que ele pode ser descarregado gratuitamente na página do próprio Slow J. Aqui.


Bom fim de semana :)




Se eu disser só
Tudo o que eu pensei
Transformado em voz

Se eu tiver dó e
Vir tudo o que eu neguei
Transformado em nós

Mano, eu nem sei
Eu só tentei
Chegar mais longe sem sensei

Eu supliquei
Por uma gota desse
Soro que te dei

E veio o choro
Socorro
Salvei mentira e morro

Sufoco
De um louco
Ser Cristalina é pouco ou…

Se ele quebrar
Não resistir
Se eu só calar, p’ra te ver sorrir

P’ra sobreviver
Matar e morrer
é fundamental

Mano, eu nem sei
Eu só tentei
Chegar mais longe sem sensei

Eu supliquei
Por uma gota desse
Soro que te dei

E veio o choro
Socorro
Salvei mentira e morro

Sufoco
De um louco
Ser Cristalina é pouco ou…

Socorro
Salvei mentira e morro

De um louco
Ser Cristalina é pouco ou…


quarta-feira, 20 de julho de 2016

Grande Ecrã - Mestres da Ilusão 2


Fazendo um trocadilho fácil: o filme devia chamar-se Os Mestres da Desilusão 2.
Na verdade é que se trata de uma tremenda desilusão, uma chatice pegada, que quase nem dá para entretenimento domingueiro.
Por vezes mais do mesmo é o que pedimos. Significa que nos contentamos com pouco. Em equipa que se ganha não se mexe, diz o povo.
O que esperava de Os Mestres da Ilusão 2, era que mantivesse o nível, do entretenimento do primeiro.

Mas falha redondamente e a todos os níveis.
O argumento não tem imaginação, a realização de Jon Chu não tem ritmo nem dinâmica e o filme recorre excessivamente à sobreedição o que torna por vezes visualmente confuso e cansativo.
Na tentativa de surpreender através de reviravoltas e jogos de cintura no argumento, este torna-se pateticamente previsível estando bem longe do seu antecessor.
Falha na espectacularidade, falha na construção dos personagens.

Michael Caine e Morgan Freeman estão em modo automático, a cumprir os mínimos.
Os quatro cavaleiros mantêm-se, à excepção do elemento feminino que passa a ser Lizzy Caplan substituindo Mélanie Laurent.
Jesse Eisenberg (Daniel Atlas) parece parado no tempo, Woody Harrelson (Merritt Mckinney) está boçal, Lizzy Caplan (Lula)quase invisível  e Dave Franco (Kack Wilder) diria que é o melhor dos cavaleiros, sem que se possa entender isso como um elogio.
Daniel Radcliff é um desastre em duas pernas. Puro erro de casting. Histriónico, pouco contido, artificial, platificado. A única explicação para Harry Potter aparecer deve ser para angariar incautos para este filme.
Só a presença de Radcliff deveria ter sido um estridente e vermelhão aviso para eu não ver esta mediocridade.

Mas sabendo da presença de Morgan Freeman e Micahel Caine...
Ninguém é perfeito.






domingo, 17 de julho de 2016

John Coltrane 49


Há sempre uma questão que dentro de mim paira no ar quando oiço John Coltrane:
- Se Miles Davis não o tivesse convidado para o seu Primeiro Grande Quinteto, o que seria dele??


Miles Davis formaria dois grandes quintetos. Com ambos, Miles Davis gravou álbuns que ficaram para a história do jazz.
Para além de Miles Davis (trompete), o primeiro quinteto tinha Coltrane (sax tenor), Red Garland (piano), Paul Chambers (baixo) e Philly Joe Jones (bateria).

Na cena jazzística da altura John Coltrane tinha muito pouca projecção. Era praticamente um desconhecido.
Tanto que inicialmente o quinteto formado em 1955 não foi John Coltrane a primeira escolha para o saxofone tenor mas sim Sonny Rollins. Foi quando o vício na heroína, que na altura estava em força por entre os músicos de jazz, forçou Rollins a deixar o quinteto, que Coltrane entrou. Não a convite de Miles Davis mas por sugestão do seu sideman, Philly Joe Jones.


Em 1957, ainda faltam dois anos para a gravação do seminal Kind of Blue onde ele estaria presente, com vários e importantes álbuns gravados com Miles Davis, John Coltrane tornou-se um elemento essencial do quinteto, e já com muitos olhos postos nele, decide gravar por conta própria. 
Neste ano grava para a Blue Note, com lançamento no ano seguinte, um dos álbuns mais importantes na sua carreira: Blue Train.
O sexteto que Coltrane liderava neste trabalho incluía dois colegas do primeiro quinteto de Davis; Philly Joe Jones e o contrabaixista Paul Chambers, mais o extraordinário trompetista Lee Morgan, o pianista Kenny Drew e o trombonista Curtis Fuller.

Para lembrar este mágico do saxofone tenor (e não só) recorro ao tema Lazy Bird de Blue Train.
É menos conhecido que o tema homónimo do álbum, mas é uma das músicas mais interessantes, se não a mais interessante de Blue Train.

O trompete de Lee Morgan soa bem cedo, aos 0.08. Segue ligeiro, descontraído, sustentado, para depois trinta segundos passar para o lado oposto, irrequieto, tempestuoso, cheio de energia passando o testemunho ao trombone que o pega na perfeição aos 1.40 que irá durar 2.41.

Aos 4.14 surge o piano de Kenny Drew que nos leva até aos 5.15 onde é-nos oferecida uma lustrosa pérola: o arco de Paul Chambers faz-se ouvir nervosamente sobre o seu contrabaixo, sobressaindo relativamente aos outros instrumentos e quando este termina passa o testemunho à mestria da bateria de Philly Joe Jones.
Aos 6.15m Morgan entra de novo e põe "ordem" na casa retomando a descontracção inicial para depois terminar o tema.

Lazy Bird é um enorme e democrático arco-íris de cores musicais distintas entre si, fortemente unidas pelo tenor de John Coltrane que as torna coesas e coerentes.


Se John Coltrane precisou do empurrão de Miles Davis ao participar na formação do primeiro quinteto do trompetista? Diria que sim, que precisou da visibilidade e da consistente excelência dos trabalhos destes cinco homens para se lançar.
Mas será difícil avaliar o quanto importante Coltrane foi para Davis. Acredito que o segundo foi mais relevante para o primeiro, que o contrário.
Mas a perfeita simbiose entre estes dois homens nos cerca de cinco anos que tocaram juntos (1955-1960), mudaram o jazz. E mesmo depois de separados, cada um por si, continuaram a mudar e influenciar o jazz de uma forma tal que ainda hoje se sentem os seus ecos.


John Coltrane morreu a 17 Julho de 1967, há 49 anos. Tinha 40 anos.