domingo, 17 de julho de 2016

John Coltrane 49


Há sempre uma questão que dentro de mim paira no ar quando oiço John Coltrane:
- Se Miles Davis não o tivesse convidado para o seu Primeiro Grande Quinteto, o que seria dele??


Miles Davis formaria dois grandes quintetos. Com ambos, Miles Davis gravou álbuns que ficaram para a história do jazz.
Para além de Miles Davis (trompete), o primeiro quinteto tinha Coltrane (sax tenor), Red Garland (piano), Paul Chambers (baixo) e Philly Joe Jones (bateria).

Na cena jazzística da altura John Coltrane tinha muito pouca projecção. Era praticamente um desconhecido.
Tanto que inicialmente o quinteto formado em 1955 não foi John Coltrane a primeira escolha para o saxofone tenor mas sim Sonny Rollins. Foi quando o vício na heroína, que na altura estava em força por entre os músicos de jazz, forçou Rollins a deixar o quinteto, que Coltrane entrou. Não a convite de Miles Davis mas por sugestão do seu sideman, Philly Joe Jones.


Em 1957, ainda faltam dois anos para a gravação do seminal Kind of Blue onde ele estaria presente, com vários e importantes álbuns gravados com Miles Davis, John Coltrane tornou-se um elemento essencial do quinteto, e já com muitos olhos postos nele, decide gravar por conta própria. 
Neste ano grava para a Blue Note, com lançamento no ano seguinte, um dos álbuns mais importantes na sua carreira: Blue Train.
O sexteto que Coltrane liderava neste trabalho incluía dois colegas do primeiro quinteto de Davis; Philly Joe Jones e o contrabaixista Paul Chambers, mais o extraordinário trompetista Lee Morgan, o pianista Kenny Drew e o trombonista Curtis Fuller.

Para lembrar este mágico do saxofone tenor (e não só) recorro ao tema Lazy Bird de Blue Train.
É menos conhecido que o tema homónimo do álbum, mas é uma das músicas mais interessantes, se não a mais interessante de Blue Train.

O trompete de Lee Morgan soa bem cedo, aos 0.08. Segue ligeiro, descontraído, sustentado, para depois trinta segundos passar para o lado oposto, irrequieto, tempestuoso, cheio de energia passando o testemunho ao trombone que o pega na perfeição aos 1.40 que irá durar 2.41.

Aos 4.14 surge o piano de Kenny Drew que nos leva até aos 5.15 onde é-nos oferecida uma lustrosa pérola: o arco de Paul Chambers faz-se ouvir nervosamente sobre o seu contrabaixo, sobressaindo relativamente aos outros instrumentos e quando este termina passa o testemunho à mestria da bateria de Philly Joe Jones.
Aos 6.15m Morgan entra de novo e põe "ordem" na casa retomando a descontracção inicial para depois terminar o tema.

Lazy Bird é um enorme e democrático arco-íris de cores musicais distintas entre si, fortemente unidas pelo tenor de John Coltrane que as torna coesas e coerentes.


Se John Coltrane precisou do empurrão de Miles Davis ao participar na formação do primeiro quinteto do trompetista? Diria que sim, que precisou da visibilidade e da consistente excelência dos trabalhos destes cinco homens para se lançar.
Mas será difícil avaliar o quanto importante Coltrane foi para Davis. Acredito que o segundo foi mais relevante para o primeiro, que o contrário.
Mas a perfeita simbiose entre estes dois homens nos cerca de cinco anos que tocaram juntos (1955-1960), mudaram o jazz. E mesmo depois de separados, cada um por si, continuaram a mudar e influenciar o jazz de uma forma tal que ainda hoje se sentem os seus ecos.


John Coltrane morreu a 17 Julho de 1967, há 49 anos. Tinha 40 anos.






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