sábado, 22 de junho de 2013

uma música para o fim de semana - Dead Combo


Exquisit. Um prato gourmet e sofisticado. Virtuoso e urbano.
A música parece-me um desabafo de um estado de alma inquieto, tenso. 
Uma narrativa de uma paisagem psicologicamente angustiante a fazer lembrar um western antes das personagens principais se envolverem num tiroteio do qual o resultado não será favorável a nenhum deles.

O vídeo (muito bem realizado) reforça essa sensação. Em tons nocturnos, a roçar o gótico, por vezes em tons dramáticos e algo irreais de cores quentes.

A música para este fim de semana - Putos a Roubar Maçãs - é retirada do álbum dos Dead Combo (Pedro Gonçalves e Tó Trips), Lusitânia Playboys de 2008 e é exclusivamente tocada por cordas. Guitarra, violoncelo e violino.

Facilmente fazemos replay sucessivos porque há sempre algo que se redescobre em cada audição.
A riqueza e a complexidade deste tema é enorme. Sempre que o violoncelo entra em cena é poderoso nas emoções e nas expectativas que cria, o violino amplifica-as. A guitarra é quase omnipresente.

A missão dele parece ser devolver as maçãs que tinha roubado. Uma penitência a cumprir. Quantos pomares terá ele atravessado, quantas maças terá devolvido aos ramos espoliados? Que coisas que terá ele visto?
No fim da música, terá ele cumprido a sua missão? Acredito que sim.

O Puto que Roubava Maçãs é um tema marcante dos Dead Combo. Pessoalmente, é de longe o meu tema preferido deles.

Os Dead Combo nasceram em Março de 2003 após os dois músicos se terem conhecido no Bairro Alto. A uni-los estava a admiração por Carlos Paredes.
Eles já tinham passado pela Esteira em colaboração com Camané, aqui.


Bom fim de semana :)




sexta-feira, 21 de junho de 2013

um poema de... Alberto Ceiro (porque hoje é Verão)





XII

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...
Mas quem me mandou a mim querer perceber?

Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...


Alberto Caeiro em O Guardador de Rebanhos


terça-feira, 18 de junho de 2013

a eloquência do olhar


"Quem não entende um olhar, jamais entenderá uma longa explicação"
Provérbio árabe


Há algo nos olhos que tanto nos cativa como nos pode intimidar. Nos fascina ou sentimos o seu incómodo. Nos protegem ou nos tornam expostos.

O olhos contam histórias sem usar palavras, ensinam sem falar, sorriem sem precisar dos lábios e é entre eles e com eles que se estabelecem e se acabam cumplicidades.
Não mentem. Mesmo quando frios ocultam uma emoção quente e gestos calorosos, ou calmos tentam esconder palavras duras e abismos insondáveis.
Há sempre algo neles que nos conta a verdade.

São duas entradas transparentes para os mundos interiores que habitam em cada um de nós e em cada um dos outros.

Poucos, muito poucos mesmo, sabem e conseguem fotografar os espelhos da alma como Steve McCurry.
Mais provas deste "crime" podem ser vistas nesta série completa de fotografias.