Uma vez li com uma ironia absolutamente deliciosa, mas que descreve na perfeição, a lógica desta obra de John Cage:
Beethoven: I can't hear a sound
Cage: Good, I've just written a piece for you to listen
A 4 de Agosto de 1952 foi tocada, ao piano, pela primeira vez esta peça de John Cage.
Quando lhe perguntaram qual o objectivo da mesma. Cage, replicou dizendo que o silêncio não existe.
Que se ouve o vento, a chuva nas janelas, os pássaros a esvoaçarem, as pessoas a caminharem, a respirarem, a falarem, O compositor chamou a estes sons, os "sons acidentais"
Pretendia levar as pessoas a ouvir o silêncio, a repensar o silêncio.
E John Cage deu um tempo bem específico para esse repensar; 4' 33'' - quatro minutos e trinta três segundos de uma peça musical composta de silêncio.
Esta obra já foi tocada várias vezes, e a Filarmónica de Berlim a direcção do maestro russo Kirill Petrenko não foi excepção.
Apreciar algo diferente, ouvir algo diferente - o silêncio que não existe - é sempre fascinante. Mesmo quando dura quatro minutos e trinta e três segundos.
Ouvimo-la em silêncio percebendo, identificando, os tais sons acidentais.