sábado, 28 de agosto de 2010

as cabras da raia

Para o próximo ano, no que diz respeito à prevenção de incêndios, os melhores amigos dos bombeiros e das populações raianas não serão Rui Pereira nem António Serrano.
Felizmente para eles será a... cabra!
Mais, e ao contrário do governo que os destroi, elas vão criar mais de cinco centenas de postos de trabalho na região onde vão ser inseridas. Grandes cabras!

Um aparte à (justa) ironia. Preocupa-me ter 150 000 caprinos à solta. Elas não são muito selectivas e "rapam" tudo, desde a vegetação rasteira até aos arbustos. O que irá acontecer à vegetação autóctone? E como se controlam 150 000 cabras?
De certeza que alguém já pensou nisto. Caso contrário, se esse mesmo alguém decidir abater estes animais e respectiva prole que inevitavelmente surgirá, devido à destruição excessiva de vegetação, vai ser algo muito triste de assistir.

P.S. - no entanto a Google, sempre muito à frente, já tinha feito isto no ano passado. A propósito, a cadela chama-se Jen.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

contra a lapidação, contra o Islão e anti-Irão




Li este post no blog Arrastão. Não pude deixar de pensar nele.
A lapidação é praticada não só no Irão mas pelo menos também na Nigéria, Arábia Saudita e Sudão. Mas certamente que esta triste lista continua.
Como prática, é absolutamente primitiva e criminosa. Intolerável nos dias de hoje.

Não sou defensor de nenhuma religião em particular, mas se fosse, talvez alinhasse pela equipa do Budismo. Feita esta ressalva, vou continuar.
Na essência o Islão é mal compreendido e mal amado. Faz sentido, se considerarmos a violência que regra geral acompanha esta religião na maior parte das notícias que nos chegam.
Mas temos que ir além das notícias, além do que é mostrado. Se tal não o fizermos, é legítimo pensar que a religião cristã é pedófila e defende a pena de morte. É só associarmos os escândalos que surgiram nos últimos meses nos meios de comunicação e que ainda têm algum eco na opinião pública, e a pena de morte que é praticada em países maioritariamente cristãos como por exemplo os EUA.
Esta associação directa não é justa para a Igreja Cristã, tal como não o é para o Islão.

O que acontece, é que se faz confusão entre o Islão moderado e extremista. Não é o Islão que pratica a lapidação mas sim o Islão extremista que o faz.
O próprio mundo muçulmano está contra este acto e está unir-se relativamente a este ponto.
De notar que a lapidação não consta do Alcorão. Este é o grande argumento que o Islão invoca para repudiar a lapidação.
É uma prática pré-islâmica que é advogada na Tora, o livro sagrado da religião judaica.
Foi introduzida na Sharia, a lei islâmica, pelos "ahadith". Os ahadith são leis que são baseadas em episódios da vida do Profeta ou nos seus conselhos, não podendo nunca contradizer o Alcorão.
De acordo com esta fonte o Profeta recusa a lapidação e desencoraja esse acto. É só confrontado com pedidos insistentes que relutantemente o aceita.
É neste ponto, neste hadith (singular), que os fundamentalistas muçulmanos se baseiam para praticar como castigo do adultério a lapidação.
Segundo estudiosos do Islão, é uma lei que resulta de uma interpretação forçada, polémica e longe de ser consensual de um episódio da vida de Maomé.

Esta manifestação, este protesto que irá acontecer no próximo sábado tem mais saias que um vestido da Nazaré.
Será uma manifestação contra a lapidação mas acessoriamente contra o Islão, contra os muçulmanos e ainda com uns laivos anti-Irão per si.
Diga-se em abono da verdade que o Irão e o seu presidente Mahmud Ahmadinejad têm sido granjeados com uma forte antipatia ocidental com particular destaque para os EUA.
E decorrendo em várias cidades em simultâneo até dá uma mãozinha a Obama nesta questão...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

K4 Quadrado Azul - reencontro de amigos


Quando estudava, troquei várias vezes as aulas da faculdade pelas "aulas" da Gulbenkian.
Na verdade, nesses tempos inacreditavelmente dourados e saudáveis, todo o espaço da Gulbenkian foi muitas vezes o meu refúgio espiritual.
Habituei-me ao longo do tempo, a encontrar velhos amigos, entenda-se obras, nas exposições do museu Gulbenkian e particularmente nas exposições do Centro Arte Moderna (CAM).
Aqui conheci as vidas e obras de artistas nacionais que marcaram o século XX nacional. Almada Negreiros, Amadeo Souza Cardoso, Mário Cesariny e Eduardo Viana entre outros.
Fui muitas vezes lá apenas para os reencontrar. Para reatar conversas interrompidas por deveres universitários.
Quando concluí a faculdade e me tornei "adulto", as minhas idas até lá terminaram.

Há alguns anos voltei e tive o choque de o CAM ter renovado a sua colecção permanente, rotatividade de obras segundo informaram, e de já não ter encontrado as minhas velhas amizades.
Infelizmente não iria ter oportunidade, tempo, de aumentar o meu circulo de amigos com estes novos nomes. Problemas de gente crescida…

Recentemente voltei lá. Numa de ver o que o CAM tinha para oferecer. Surpresa. Encontrei parte deles. Principalmente um que sempre me encheu as medidas e me fez voltar várias vezes lá só para o ver, um "olá como estás?" para depois partir para a monotonia das aulas a sério.
O eleito chama-se K4 Quadrado Azul. É um pequeno quadro de Eduardo Viana inspirado num texto futurista de Almada Negreiros publicado em 1917 com o mesmo título.




Este quadro é uma natureza morta, usualmente uma temática que não gosto, geométrica na qual o título da obra está contido literalmente na sua composição.

Há certas coisas das quais gostamos ou não sem sabermos porquê. Apenas gostamos. Para mim esta é a forma mais pura de gostar. Livre da prisão das análises, de comparações por vezes injustas e dos formalismos das interpretações.
Assim é este quadro. Gosto porque gosto. E gosto muito.