sábado, 9 de novembro de 2013

uma música para o fim de semana - Miguel Braga





Desde há algumas semanas que o meu jardim está mais vazio. Usualmente escrevo com as portadas abertas e a olhar para ele. Os quatro pinheiros que faziam companhia ao meu olhar já não estão lá.

O forte temporal logo no início deste ano levou-me uma parte do telhado e fez abanar de uma maneira que ainda não tinha visto os meus quatro pinheiros. Pensei que nesse dia pelo menos um deles cairia. Não caiu nenhum. Mas ficaram fragilizados.
Fui fortemente aconselhado a cortá-los. Quer pelo jardineiro quer pelos bombeiros.

E decidi que antes deste inverno começar teriam que ser cortados. E foram. Doeu-me imenso vê-los a ir.

Foi preciso uma grua de cinquenta toneladas com uma lança de cinquenta e dois metros metros, mais um escadote de quinze metros, que mesmo assim não chegava ao topo dos pinheiros e uma equipa de cinco homens mais o manobrador da grua.
Um a um foram cortados, elevaram-se no céu, depositados suavemente no exterior do meu jardim e depois seccionados em troncos.

As árvore Morrem de Pé escreveu o dramaturgo espanhol Alejandro Casona na sua peça de teatro homónima. Adoro esta frase, este título. A imagem de respeito que ela transmite é imensa.
Mas não foi isso que aconteceu com as minhas, com os meus pinheiros. Não lhes dei essa hipótese. Se calhar tinha que ser assim, se calhar não. Nunca o saberei.

Tenho um grande carinho por árvores. Quais quer que elas sejam. São seres vivos muito nobres, dignos, verticais. Sábios. As suas escalas de tempo usualmente ultrapassam largamente as do homem. As suas vidas medem-se em dezenas, centenas e até milhares de anos.
Viram e assistiram a muitas coisas. Teriam muito para contar e nos ensinar se as soubéssemos ouvir ou ler.
Já lá estavam nos seus sítios quando o homem apareceu e estarão ou estariam nos seus sítios quando o homem partisse.

Miguel Braga, um pianista de jazz lançou recentemente o álbum chamado Like a Tree. 
É um quarteto onde para além de Miguel Braga no piano. ele é acompanhado por Nanã Sousa Dias no saxofone, Zé Lima no contrabaixo e Leando Leonet na bateria.

Para este fim de semana escolho o tema que dá tema ao álbum, Like a Tree.
É um tema bonito, suave e tranquilo. E o saxofone de Nanã contribui muito para a atmosfera serena e outonal do tema.

Dedico Like a Tree aos meus quatro pinheiros que não chegaram a morrer de pé.

Bom fim de semana :)





quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Joni Mitchell sopra hoje 70 velas


É uma versão espantosa de Both Sides da própria Joni Mitchell com duas lendas vivas do jazz - Wayne Shorter no saxofone e Herbie Hancock no piano.

Joni Mitchel canta em Both Sides, a vida. A plenitude da vida. Canta os encantos e desencantos, os sonhos construídos, os sorrisos que perdeu, as lágrimas que ganhou.
Sabe que ao passar pela vida há ganhos e perdas. É uma moeda de duas faces em que ambas têm que ser conhecidas. Andou no topo das montanhas e caminhou nas agruras escuras dos abismos.  
Canta a experiência da vida, as mudanças que ela lhe causou sem que as tivesse percebido.
Sente que não conhece a vida, apesar de a ter vivido. Recorre às ilusões para sobreviver a ela.
Afirma que de todo não conhece a vida. Acredita que não. É preciso que ela acabe, para a percebermos.

No entanto canta a amargura com grande doçura, canta a desilusão sem desilusão, segura do que lhe aconteceu é o que tinha que acontecer.
Canta sem lágrimas, mas é o saxofone de Wayne Shorter que chora por ela, por nós.
No fim, quando a canção acaba toda a gente se verga, nós nos vergamos, perante a beleza e o enlevo da música, perante o sentimento, perante a emoção que cada silaba da letra cantada pela voz de Joni Mitchel carrega em si.

Pessoalmente para que a canção não acabe, faço replay, replay, replay. E amanhã farei mais uns quantos deles.

Faz hoje 70 anos. Parabéns Joni :)




segunda-feira, 4 de novembro de 2013

série "estatísticas da vida" - LVIII


É uma visão um pouco redutora e injusta. Falta o mais importante.

Usam-nos também para dar o seu afecto, o seu ronronar, a sua companhia, a elegância do seu caminhar e de vez em quando termos o privilégio de eles nos submeterem a sua altivez felina.