Não é uma música propriamente brilhante mas tem a curiosidade de fundir a morna tradicional de Cabo Verde com o reggae muito associado à Jamaica.
A música para o fim de semana, Catá Borré, lança o álbum do projecto Acácia Maior, um colectivo de músicos, liderado pelos cabo-verdianos Henrique Silva e Luís Firmino e conta com a colaboração da voz de Lula's (Cachupa Psicadélica).
É orelhuda, vai passando com frequência nas playlists das rádios e o facto de ser cantada em crioulo torna-a mais interessante.
Os Acácia Maior são:
Luís Gomes (Cachupa Psicadélica) - voz, backing vocals, guitarra eléctrica
Não interessa se é o PS ou PSD que vai ganhar as eleições legislativas deste mês.
Não interessa o que dizem sobre impostos, salários, apoios sociais ou reformas.
O resultado será sempre pobreza e falta de dignidade. Principalmente na velhice e esta aumentará mais ainda. A natalidade será cada vez mais baixa e a convergência com a média de crescimento europeia dificilmente acontecerá.
O ambiente será sacrificado e desrespeitado em prol de lobbies e de interesses.
Teremos continuadamente o esbanjamento de recursos naturais, a depredação de espécies autóctones, caça, mais culturas intensivas, utilização de pesticidas e construção de campos de golfe, absurdos consumidores de água cada vez mais escassa.
A igreja continuará a minar o Estado em prol de valores muitos deles duvidosos e garantidamente antiquados. A falta de transparência e a corrupção continuarão a encontrar terreno fértil e o Estado esbanjará em si próprio verbas e oportunidades únicas. Educação e saúde manter-se-ão caóticos.
Na prática, e a história diz-nos isso mesmo, nenhum destes dois partidos trará mudanças significativas e as suas incontáveis promessas, como usualmente, serão vãs, relativizadas e despudoradamente esquecidas.
A existência, mais no parlamento do que no governo, de partidos fiéis da balança, partidos consciência, moderados e de visão holística (leia-se PAN e Livre), é cada vez mais necessária.
2021 foi um ano profundamente musical. Tive descobertas, encontros e reencontros. O jazz esteve presente de uma forma dominadora ao longo do ano que findou há cerca de um mês.
A música erudita e contemporânea teve também uma importância bem relevante e acutilante em 2021.
Redescobri o prazer do minimalismo e a música electrónica na vertente experimental e avant-garde teve um peso enorme nas últimas semanas do ano passado.
Começou com a morte de Alvin Lucier mesmo no findar do ano, Conhecia o seu nome, a sua influência na música, principalmente do século XX, mas nem tanto o seu trabalho e a sua obra. Desta era conhecedor de apenas uma peça sua e sobre a qual escrevi sobre ela aqui. Fiquei com vontade de conhecer melhor a sua vida e obra e as descobertas sobre ele continuam a suceder-se.
Quando procurava material sobre o trabalho de Alvin Lucier, um outro nome, este totalmente desconhecido para mim, começava a aparecer a aparecer com alguma insistência: Eliane Radigue.
Mais uma vez parti à descoberta deste nome e do seu trabalho. E o que encontrei deixou-me absolutamente fascinado. Mais até que Alvin Lucier.
Desde há um mês, que Radigue tem sido uma companhia muito frequente no Spotify e no YT.
Eliane Radigue é uma compositora francesa, nascida a 24 de Janeiro em 1932. Apesar da sua formação clássica (piano) irá seguir um caminho bem distante daquele que iniciou.
Influenciada na década de 50, pelo também francês, por Pierre Schaeffer, sendo depois sua aluna, e mais tarde por Pierre Henry, e que se tornaria sua assistente, Eliana Radigue distingue-se na música concreta, drone e electrónica.
Para além da influência de ambos os Pierre, Eliane conta que num determinado momento da sua vida, durante uma formação deu por si a ouvir com atenção o som dos hélices dos aviões que passavam por cima e que terá contribuído para o caminho pelo qual viria a enveredar.
Um momento de maior importância na sua vida acontece quando se muda em 1970 para a universidade de Nova Iorque. Conhece Morton Subotnick, um compositor electrónico de renome, e toma contacto com sintetizadores que se iriam tornar os seus instrumentos de eleição por mais de duas décadas.
Um dos seu primeiros trabalhos neste período é precisamente Chry-ptus de 1971, tendo sido posteriormente alvo de revisões e novas versões em 2001 e 2006.
É uma excelente introdução à obra de Radigue. E pessoalmente, é a minha peça preferida.
Chry-ptus é absolutamente minimal. Profundamente delicado, envolvente e subtil. Insinuante e hipnótico. Penso neste tema como uma fragmentação unificada pela forma como a mudança se dá ao longo tempo: subliminarmente, de uma forma quase infinitesimal. A percepção de que algo mudou só acontece quando de facto já mudou e não no momento em que muda.
Para explorar a obra drone, sónica e minimalista de Eliane, aconselho a Trilogia da Morte. Considerada uma das obras mais importantes e de maior fôlego - quase três horas de duração e oito anos de composição - da carreira da fenomenal compositora francesa que até hoje ainda se mantém no activo. Inspirada nos ensinamentos budistas, ao qual se converteria em 1975, esta trilogia reflecte sobre a consciência, a morte, a sua espiritualidade, a caminhada para a Luz. Com a morte do seu filho Yves Arman em 1989 num acidente de viação em Espanha, a Trilogia tem uma forte componente catártica para a compositora.
Em 2001, dá-se uma nova abordagem na sua composição. Deixa a electrónica para trás, mas mantendo o mesmo registo e filosofia de toda a sua vida, passa a compor para instrumentos acústicos, particularmente para cordas.
Quase desconhecida, para variar, será no momento da sua morte que Eliane Radigue obterá o reconhecimento que merece.
Até lá, e que demore a chegar, apreciemos a gentil e subliminar aventura que Radigue nos faz caminhar em Chry-ptus e na Trilogia da Morte. Que nos torne curiosos, que faça apontar para novas jornadas, novas caminhadas e novas descobertas do seu peculiar mundo sónico.