sábado, 27 de fevereiro de 2016

uma música para o fim de semana - Filho da Mãe


Um dos grande desafios que um músico enfrenta quando sobe ao palco sozinho e olha para a plateia é a solidão.
Não vai ter o suporte, a rede, de outros músicos, enquanto banda ou como convidados, não vai ter o suporte de outros instrumentos. Os olhos de toda uma plateia vão estar sobre ele, sobre as suas mãos. Não têm mais por onde procurar ou ouvir.

A confiança, a mestria de um músico perante o seu instrumento é posta à prova. Seja num palco, seja num álbum.

Filho da Mãe, o nome de palco do guitarrista Rui Carvalho, é um desses músicos que enfrentam uma plateia, um auditório, de olhos nos olhos.
E é um dos poucos que toca quase sempre no modo acústico, onde a pureza do som mais se evidência e se aprecia.

Não Sei Desenhar Barcos é uma das pérolas acústicas de Filho da Mãe que pode ser encontrado no seu primeiro álbum de originais de Junho 2011, Palácio.
Em Março deste ano, sai o seu terceiro álbum, Mergulho, gravado no Mosteiro de Santo André de Rendufe, Amares.

É um tema que se pode ler, tem aroma, tem carinho. Não Sei Desenhar Barcos, é simples, despretensioso, tem uma sonoridade reflexiva, aberta e linear. Cativa e hipnotiza, a música, o dedilhar preciso, particularmente nos segmentos mais rápidos, dançarino e elegante dos seus dedos nas cordas da guitarra.
Para os que reconheceram laivos de flamenco e fado nesta música, têm toda a razão. São algumas das várias influências que se reflectem no trabalho de Filho da Mãe.

E aposto que os sinos a tocar no final de Não Sei Desenhar Barcos, cujo vídeo foi gravado em Barcelos, está longe de ser inocente...


Bom fim de semana :)






sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

quando só o silêncio fala, ninguém o entende


Por vezes até sei o que dizer, como dizer, e muito bem até.
Mas as palavras, os pensamentos que as geram, andam revoltos e revoltados.
Estão lá muitos, todos, sobre tudo e sobretudo sobre nada do que é preciso na altura.
Ensombrados por um perpétuo movimento desorganizado, caótico, delirante, enredados uns nos outros, incapazes de coerência, ausentes de esclarecimento e plenos de abstracção.

Não sai nada. Tudo está lá, mas não sai nada.
Para quem está do outro lado, é muito difícil, mas ainda é mais, muito mais, para o lado de cá.
É um silêncio de incapacidade. Um esfumar de vontade. É um grito de:
- Venham até cá, porque não consigo ir aí!
- Leiam-me, porque não consigo escrever!
- Oiçam-me porque não consigo falar!

É um impossível paradoxo cíclico:
A cabeça, a mente gritam as respostas, mas os lábios cerrados devolvem-nos à cabeça, à mente;
A cabeça, a mente gritam as respostas, mas os lábios cerrados devolvem-nos à cabeça, à mente;
A cabeça, a mente gritam as respostas, mas os lábios cerrados devolvem-nos à cabeça, à mente.

E quando finalmente é quebrado, se quebrado, e algo sai, mais valia não ter saído nada.

Como escreveu Pessoa:

"Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem."


Inkheart




terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

uma citação



É impossível pensar o futuro se não nos lembrarmos do passado. Da mesma forma, é impossível saltar para a frente se não se der alguns passos para trás. Um dos problemas da actual civilização - da civilização da internet - é a perda do passado.

Humberto Eco