Se eu recuar nos tempos em que pela primeira vez me lembro de gostar de música portuguesa, surgem dois nomes. Rão Kyao e Pedro Barroso.
Eu apostaria que por esta altura estaria a começar a década de 80. Mas verdadeiramente não me recordo.
O primeiro gostava porque tinha sonoridades diferentes do que se ouvia na altura.
Rão Kyao estava nessa altura influenciado pela música indiana e tinha sonoridades que o distinguiam facilmente dos outros músicos. As flautas de bambu e bansuri conferiam-lhe um toque de diferença e e sofisticação à sua música.
O segundo, era pela sua voz. Pedro Barroso era dono de uma voz poderosa, aberta, solene e que vinha do fundo do seu peito.
A sua voz cativa e fascina. Mesmo quem não conheça Pedro Barroso, não conheça a sua obra, na presença da sua voz e na força das suas letras, dificilmente não cederá uns momentos de atenção e reflexão para o ouvir.
Desde essa altura e até agora, sempre imaginei que uma voz grande como a do Pedro precisava de um grande corpo para a albergar e a gerar.
Por isso sempre considerei que era digna do tamanho do seu corpo, apesar de pouco coerente com o que se imagina de um professor de educação física, que sem deixar a música, exerceu durante mais de vinte anos.
Mais tarde percebi que não era só o seu corpo que influenciava a sua voz e a engrandecia. A sua alma também.
Com uma pós graduação em psicoterapia comportamental, Pedro Barroso durante alguns anos trabalhou nas áreas da musicoterapia e saúde mental, dedicando-se ao ensino de crianças surdas-mudas.
Quarenta e dois anos após a edição do seu primeiro álbum em 1970, Trova-dor, Pedro Barroso editou a 20 de Fevereiro deste ano, o álbum Cantos da Paixão e da Revolta.
Deste trabalho sobressai para mim a faixa Música, Música, um tema em que todas as características de Pedro Barroso estão presentes.
A dimensão da sua voz, a sua solenidade, uma canção com uma letra apaixonada e um dos seu temas preferidos e frequentemente presente nas músicas, a mulher.
Vestida em roupagens de tango e paixão, Música, Música é uma homenagem à música à qual ele deve e dedicou mais de quarenta da anos da sua vida, celebrados em 2009, e que está presente em todos os momentos da sua vida.
Partilho com ele, esta sua paixão. Sem dúvida que a música é uma mulher fascinante, bela e voluptuosa, uma amante que nos faz cair aos seus pés e nos torna seus dependentes. Que nos faz precisar dela.
Ai, música, música. Apassionata.
Bom fim de semana :)