sábado, 3 de fevereiro de 2018

uma música para o fim de semana - Tatanka


Pedro Taborda, conhecido musicalmente por Pedro Tatanka e por ser um dos fundadores dos Black Mamba, é sintrense. Diz que em Sintra as coisas são mais simples e despretensiosas. Que convida à introspecção e à humildade.
É precisamente imbuído por este espírito, pelo regresso às raízes, que o seu primeiro álbum a solo nascerá. No final segundo semestre deste ano, Tatanka lançará Império dos Porcos, um álbum inteiramente cantado em português.


No entanto, bem antes disso já há dois singles deste trabalho a rolarem nas rádios: Alfaiate e De Alma Despida

Alfaiate é um pouco lamechas. A letra é um pouco sensaborona e os arranjos musicais não são particularmente vibrantes.
De Alma Despida está quase no ponto oposto de Alfaiate.
A introdução das cordas conferem ao tema um certo mistério e remete de imediato para sofisticadas sonoridades latinas que se mantêm ao longo dos quase quatro minutos que dura a canção.

A voz de Tatanka navega primorosamente entre vários registos e texturas sem se quedar durante muito tempo no mesmo. É vibrante, quente e sentida. Comunica e cria empatia connosco facilmente.


Bom fim de semana ☺




Quando te conheci
Eu pensei cá pr'a mim,
Que eras o meu grande amor
Ficava perfeito em mim,
o tanto que há de ti,
esqueci-me até de quem sou

Eu sei que valeu a pena,
mas sei que não quero mais.
Eu confesso:

Ai, de alma despida amor
Ai, de alma despida
Ai, se duro uma vida
Essa dor que afogo no rio
Onde tu te lavas

Eu tatuei-me em ti, vivi fora de mim
Senti finalmente o esplendor
Sabia de cor os ais, as penas capitais
A noite, a malícia, o fervor

Eu sei, que às vezes não presto,
Mas sei, menos com menos é mais,
Eu confesso

Ai, de alma despida amor
Ai, de alma despida
Ai, quem cura a ferida
Deste fim de vida vivida,
Que ainda mal começou

Oh, eu sei que às vezes não presto,
Mas sei, menos com menos é mais.
Eu confesso:

Ai, de alma despida amor
Ai, de alma despida
Ai, de alma despida amor
Ai, de alma despida
Ai, quem cura a ferida
Neste fim de vida vivida... hmm
Que ainda mal (mal)
Mal... começou!



sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

A Execução de Saigão - 50 anos


No primeiro dia de Fevereiro de 1968, o fotógrafo norte-americano Eddie Adams, tirou uma fotografia que se tornou um dos símbolos máximos do anti-guerra vietnamita.

Saigão, o que hoje se chama Ho Chi Minh City. O chefe da polícia local, General Nguyen Loan, sai para a rua arrastando Nguyen Van Lem algemado, um prisioneiro vietcong. O que parecia ser uma ameaça, um transporte para uma outra qualquer prisão, transformou-se num abrir e fechar de olhos, numa execução.

Nguyen ergue o braço direito segurando uma pistola e de imediato, sem hesitações, dispara directo à cabeça do prisioneiro. Para a história, congelado pela câmara de Eddie fica o gesto do policia e o trejeito inútil de protecção do prisioneiro, adivinhando o que iria acontecer fracções de segundo depois: a sua própria morte.

Chamam-lhe a Saigon Execution (A execução de Saigão). Para todos nós ela mostra um civil que foi abatido, executado a sangue frio. Na verdade não é um civil. Muito longe disso.
É um militar cuja milícia, na manhã do próprio dia em que foi executado, a que pertencia, matou mais de trinta sul vietnamitas em Saigão. Polícias, seus familiares, filhos e alguns norte-americanos.
Todos eles também algemados e alvejados com tiros na cabeça.

Argumenta-se que Lem estaria protegido pela Convenção de Genebra e que a sua execução, sem direito a um julgamento em tribunal, teria sido um crime de guerra. Há que defenda o contrário, que não estava ao abrigo da Convenção. Tinha morto membros da polícia, não estava fardado e não estava em combate.
É esta a última situação para a qual pendem a maior parte das opiniões. Aos dias de hoje ainda se discute se de facto estaria ou não protegido pela Convenção de Genebra.

O facto é que o General Loan foi para o Estados Unidos viver e abriu uma pizzaria na Virginia.
Quando se soube quem Loan era e o que tinha feito, a sua vida foi várias vezes ameaçada. O restaurante teve que ser fechado.
Nguyen Loan morreu de cancro em 1998, com 67 anos.

Ontem, quinta-feira, um de Fevereiro de 2018, esta imagem fez 50 anos que foi tirada.





domingo, 28 de janeiro de 2018

Myles Sanko em concerto


Ontem, o cantor soul, britânico Myles Sanko, deu um excelente concerto, o quarto e último do tour em Portugal, com soul muito jazzístico onde a maior parte do alinhamento pertencia ao mais recente, o seu terceiro álbum de 2016, intitulado Just Being Me.

Com um timbre de voz grave e controlado que não anda muito longe da do grande Gregory Porter.  Sanko canta um soul genuíno, fixe, bem conseguido, a convidar ao movimento e à dança, muito bem suportado por uma banda rica em sonoridades e texturas musicais: trompete, saxofone tenor, flauta, guitarra, baixo, orgão e bateria.

Soube comunicar, cativar o público e trazê-lo para o seu lado, quebrando a tradicional e formal distância entre palco e audiência, participando nos temas ora instando à dança.

A estreia do cantor no universo soul foi em 2013 com Born in Black & White numa edição de autor. No ano seguinte e graças ao apoio financeiro obtido com crowdfunding, lançaria o Forever Dreaming. 2016 é o ano de Just Being Me e 2017 é um ano de sucesso intenso para Sanko: quase uma centena de apresentações fazendo as primeiras partes dos concertos de Gregory Porter.

Mas o britânico tem um percurso musical curioso: iniciou-se no hip-hop, entrou nas águas movimentadas do funk, foi atraído para o soul e por influência do próprio Porter está a entrar no mundo fascinante do jazz.
Acredito que nos próximos anos, Myles Sanko vai-se tornar uma voz a ter em conta. Para quem esteve nestes quatro concertos em território nacional, vai lembrar-se dele muito facilmente num futuro próximo.

Muito bom.