Homer Simpson é um homem de sorte. Ver o mundo a preto e branco ou, na sua
perspectiva, com e sem cerveja, é uma bênção.
Reduz a complexidade do mundo à quantidade de espuma que tem a cerveja ou
ao tamanho de um donut.
Desconstrói a responsabilidade, até ao ponto em que ela deixa de existir e
portanto de o atormentar.
Encolhe os ombros aos problemas porque isso só o chateia e o que o chateia
não vale a pena dar importância.
Não precisa, não necessita de ser inteligente, porque não precisa dela para
aquilo que é importante para ele. A cerveja, os donuts, a televisão.
Ser inteligente é dar a si próprio uma oportunidade para sentir e sentir
não é bom. Sentir, magoa.
A estupidez é uma bênção e portanto há que a aproveitar e deixar-nos
inundar por ela, escudar-nos por detrás dela. Assumi-la como uma permanente e fiel fonte de conhecimento, de lógica e de convicções inabaláveis.
É pensar estoicamente. Porque partir uma perna pode ser positivo porque podia-se
partir as duas o que era pior.
Ir no rebanho, ir na protecção do número. Muitos a pensar o mesmo têm que estar certos, logo o pensamento pode ser dispensado.
A separação do pensamento do corpo para dispensar o primeiro. Eu não sou o meu cérebro.
Abandonar a dualidade e adoptar a unidade. Reduzir-mo-nos ao material, ao corpo e ao que que ele gosta.
Homer faz o que muitos de nós gostaríamos, se tivéssemos inteligência para isso. Sermos genuinamente estúpidos. Sermos lineares, Criar uma realidade protectora, a nossa realidade, porque a que está à nossa frente não existe, porque não a percebermos, porque não temos percepção dela. É complexa inteligência da estupidez.
A suprema inteligência.