É ultrajante, e inconcebível, a desproporção de meios utilizada para salvar cinco pessoas que desceram aos 3800 metros de profundidade no submarino Titan para ver os restos do Titanic que naufragou há mais de cem anos versus a displicência com que se ignorou, e por isso se matou, centenas de pessoas que pagaram para salvarem as suas vidas e que naufragaram no mar Mediterrâneo, ao largo da costa grega de Pylos.
Os primeiros cinco são multimilionários, as cerca de setecentas pessoas que naufragaram na costa grega e à frente dos olhos da respectiva guarda costeira, são pessoas desesperadas que estão entre a vida e morte nos seus países de origem.
Os primeiros cinco foram à procura de divertimento e adrenalina, os refugiados estavam à procura de esperança e de dignidade humana.
Cinco vidas fizeram deslocar barcos, aviões, ROVs dos EUA, Canadá, Reino Unido e França, enquanto que as largas centenas de vidas que estavam a bordo do barco naufragado estiveram mais de três horas a tentar sobreviver nas águas gregas do Mediterrâneo com os barcos de socorro a poucos minutos deles.
Os sobreviventes do naufrágio afirmaram que estiveram mais de quinze horas a pedir ajuda para que os ajudassem.
Este naufrágio poderá representar a maior perda de vidas desde sempre no Mediterrâneo.
Vidas são vidas. Os esforços para salvar os cinco tripulantes do submarino Titan que ia descer ao Titanic devem ser os mais adequados possíveis e disponibilizados da forma mais urgente possível mas as quase setecentas vidas que estavam no barco, e ignorados pela guarda costeira grega, merecem igualmente que sejam salvos com todos os meios, e urgência, necessários para o fazer. E tal devia ter acontecido antes de o naufrágio acontecer.
Esta disparidade de meios de socorro, empenho e cobertura mediática a favor de cinco pessoas comparado com a ausência dos mesmos para com centenas de pessoas é um desrespeito total pelo valor da vida humana.
Parafraseando George Orwell no seu livro O Triunfo dos Porcos - Todas as pessoas são iguais mas há umas mais iguais que outras