sábado, 14 de maio de 2022

uma música para o fim de semana - Solutude (Abdullah Ibrahim)


Há exactamente uma semana, assistia um concerto de piano muito, muito especial para mim. Abdullah Ibrahim, um músico de 87 anos, nascido na África do, Sul na Cidade do Caboa, apresentava no Theatro Circo, em Braga, o seu mais recente trabalho: Solutude (é assim mesmo que se escreve). É difícil encontrar alguém ainda vivo com a estatura musical e histórica do jazz como a do pianista sul-africano.
Começou a tocar aos 7 anos e aos 15 apresentava-se em público.
O Dollar Brand Trio em 1958 e o septeto Jazz Epistles são duas formações que de imediato se destacam na cena musical sul-africana.

Sentindo os efeitos da discriminação e segregação do aparthaid, ele, e outros músicos, saem do país para irem tocar para a Europa e EUA. O trio e septeto desfazem-se.
Ibrahim encontra um refúgio seguro na Suíça, Zurique, onde permanece até 1965. É nesta altura que conhece um dos músicos mais influentes na sua vida e que iria determinar e influenciar a sua carreira: o norte-americano e também pianista Duke Ellington.

Em 1966, muda-se para Nova Iorque. Um ano depois ganha uma bolsa para frequentar a Julliard School.
Durante o período de temp em que viveu nos Estados Unidos conhece e toca com músicos que são hoje considerados lendas do jazz: Don Cherry, Ornette Coleman, John Coltrane, Pharaoh Sanders, Cecil Taylor, Elvin Jones e Archie Shepp.
Regressa a África do Sul em 1968 e converte-se ao islão adoptando o nome que apresenta correntemente, Abdullah Ibrahim, anteriormente Adolph Johannes Brand.

Ibrahim afirma que é impossível para um músico negro ter sucesso na África do Sul ou poder tocar - eram necessárias licenças especiais - para audiências onde os brancos estejam presentes.
Faz uma breve incursão pela Suazilândia onde deixa a sua marca ao estabelecer uma escola de música.
1973, de novo um regresso à sua cidade natal.

1974 é um marco importante para o pianista. Lança um trabalho que se tornaria seminal na sua luta contra o aparthaid ao integrar nele elementos da cultura africana, Mannenberg – Is where it’s happening. Considerado um álbum progressivo e incómodo, torna-se um hino para os negros sul-africanos.

No primeiro ano da década de 80, volta aos EUA. Funda uma editora própria, a Ekapa. Dois anos depois funda o seu segundo septeto, Ekaya. Uma formação pelo qual tenho uma grande preferência. Sotho Blue é o meu álbum preferido desta formação. No entanto, Water from an Ancient Well é considerado o trabalho mais relevante.
Entretanto já tendo sido libertado, Nelson Mandela pede-lhe em 1990 que regresse a África do Sul.
Abdullah Ibrahim continua a editar inúmeros álbuns desde então.

Dando um salto de 30 anos, em plena pandemia do Covid, o pianista lança o álbum que há uma semana ouvi ao vivo, Solutude.
Música plenamente lírica, pausada e tranquila, de pendor introspectivo, ouvir este álbum é ouvir alguém que não precisa de todo provar o que quer que seja. Alguém que toca mais para si do que para os outros. E quando isto acontece, assiste-se a algo de maravilhoso.

Dada a excelência do álbum, prosaicamente não perco muito tempo a escolher e aqui fica o tema de abertura de Solutude, Mindiff.
O vídeo é da gravação do próprio álbum no dia 9 de Outubro de 2020 no Hirzinger Hall, Alemanha.


Bom fim de semana 😉🎵










quinta-feira, 12 de maio de 2022

temos aquilo que merecemos, que é muito pouco


A opacidade, a falta de respeito e de escrutínio no escândalo vergonhoso da câmara de Setúbal, e do seu presidente André Martins numa autarquia gerida pela CDU (que se mantém caladinha) que colocou a receber refugiados ucranianos nas mãos de russos pro-Kremlin.
O parlamento nacional suportado por uma conveniente maioria absoluta, que descuidadamente o povo portugês concedeu nas últimas eleições legislativas, chumba a audição e o inquérito do Primeiro Ministro para esclarecer quais as suas eventuais responsabilidades. 
O MAI que assobia para o lado, o possivelmente envolvimento do Alto Comissariado das Migrações que assume que foi avisado mas que afirma que não tem protocolos que ninguém sabe exactamente com quem e nem quais são, o CNPD que não se ouve falar e a irrelevância do "papagaio mor do reino", é revoltante.
Entretanto vão-se jogando com vidas desprotegidas e emocionalmente frágeis de refugiados que fugiram de um país selvaticamente invadido pela Rússia e que tem a conivência do partido comunista português (com a ajuda do parlamento socialista), o tal que gere a câmara de Setúbal que tem sido tão "amiga" dos ucranianos que acolheu.
Curiosamente, largos meses depois, ainda nada está decidido sobre o fornecimento de dados activistas anti-Putin por parte da câmara de Lisboa - na altura sob a égide do socialista Fernando Medina, outro amigo do peito de Costa - à Rússia. E alguém acredita que se irá decidir algo??

A nódoa que se chama Cabrita, que é muito amigo do Costa, safou-se das responsabilidades do acidente do carro que seguia em excesso de velocidade quando matou um trabalhador na A6. 
Por acaso o trabalhador atropelado não é amigo do Costa se fosse não teria morrido. 
Mais fácil e inócuo é culpar o motorista da nódoa, que certamente estava a seguir instruções da mesma. 
Na família do trabalhador morto pelo carro que onde nódoa ia é que ninguém pensa.

E agora a Temido num acto de pura epifania considerou que os abortos deviam ser contabilizados na avaliação da performance (com impacto salarial) dos médicos de família. Acredito que a Temido se esqueceu que era uma mulher e que esta decisão tinha impacto na saúde feminina e no direito das mesmas. Preferiu a penalização ao invés de apostar na melhoria do planeamento familiar. De qualquer forma, já retrocedeu na posição depois de toda a gente ter-lhe caído em cima. Menos mal.
Também num acto de raro iluminista decidiu que era tempo de acabar com a gratuidade dos testes covid nas farmácias. Numa altura em que se desenha a sexta vaga, e a obrigatoriedade das máscaras em espaços fechados cessou, esta foi uma decisão que revela um elevado sentido de oportunidade e de discernimento por parte da diligente ministra.

Sem esquecer a questão dos custos das energias, da forma como o governo lidou com o autovoucher (um absurdo político) e o patético pouco esforço em fazer baixar a factura dos combustíveis no bolso da população, com confusões com ISP, ASAE, gasolineiras, termos que olhar para facturas e outros que tais.

Isabel Meireles, antiga vice-presidente do PSD, na noite desastrosa noite eleitoral das legislativas, disse que “o povo português falhou, que preferiram acreditar na falácia da mentira do Doutor António Costa.” Acreditava igualmente que as promessas eleitorais do Costa nunca se iriam concretizar. Apesar de serem sábias e óbvias palavras, elas vêem de alguém cujo partido que não soube ser capaz de fazer melhor que o PS.
Mesmo na altura das eleições em que já era tão necessário que houvesse bom senso, diálogos e escrutínio público, nós fomos dar poderes absolutistas a primeiro ministro chico esperto.
Temos aquilo que merecemos, que é muito pouco.




terça-feira, 10 de maio de 2022

pensamento da semana


A paz é algo precioso e raro. Especialmente a interna.
Quando se a tem é difícil abdicar dela e lidar com pessoas não ajuda nada.