sábado, 5 de dezembro de 2015

uma música para o fim de semana - António Variações


António Variações, barbeiro de profissão, que aprendeu em Amesterdão em 1976, nasceu em Fiscal, Amares, no ano de 1944.
Pouco compreendido na altura. Hoje sabe-se que ele foi um dos mais geniais músicos portugueses.
Era um homem bem à frente do seu tempo. Portugal não estava preparado para ele.

Não só pelos dotes de cabeleireiro, mas pela maneira como se vestia. A sua aparência excêntrica, o uso do brinco, a música que tocava, pela sua homossexualidade assumida e por ter sido a primeira figura pública nacional a morrer de Sida, se bem que as causas da sua morte tivessem sido disfarçadas sob a forma de bronco-pneumonia, uma consequência da Sida, do público em geral.

Foi através da sua morte que Portugal tomou conhecimento sobre a existência da Sida e esta entrou no vocabulário nacional.

Em Lisboa, no Hospital Pulido Valente, onde esteve internado, a autopsia foi feita com extremo cuidado.
Tudo o que lhe pertencia foi queimado, e o seu caixão selado. O seu corpo era considerado um caso de perigo para a saúde pública.

Durante a sua curta de vida de quarenta anos, dos quais dois anos como António Variações, lança dois álbuns.
Assinou pela Valentim de Carvalho em 1978. Mas esta editora, não compreendia bem a música de Variações e durante anos, o cantautor não editou nada. Teve que esperar até 1983.
É neste anos que é lançado o Anjo da Guarda, e no ano seguinte em 1984, ano em que morreria, sai o Dar e Receber.
Mais de trinta anos passados estes dois álbuns são referências na música nacional e são conhecidos por uma alargada faixa etária. Não só os que passaram pelos anos oitenta, como por aqueles, que, bem mais novos, ouviram António Variações pelos discos dos seus pais em casa, ou por uma estação de rádio.

Em 2004, forma-se a banda Humanos. O seu objectivo era pegar em inéditos do músico e dar-lhes visibilidade. E conseguiram.
Talvez pelos nomes sonantes que faziam parte: Manuela Azevedo, Camané, entre outros, mas muito mais devido ao desejo de se ouvir que o músico bracarense que tinha ainda para mostrar.

Não fui muito fã dos Humanos, mas do António Variações, sim. Por isso a música para este fim de semana, sai do seu segundo álbum e é um dos temas mais conhecidos do seu curto mas excepcional legado musical - Canção do Engate.
Talvez uma dedicatória a alguém muito especial para ele. Jelle Balder?? Fernando Ataíde??
Irrelevante! A letra celebra a aventura do amor, dos sentidos e da entrega. Venha de quem vier.

No passado dia de 3 de Dezembro, António Variações faria 71 anos.


Bom fim de semana :)




Canção do Engate

Tu estas livre e eu estou livre 
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos 
Porque não vamos ficar 
Na aventura dos sentidos

Tu estas só e eu mais só estou 
Tu que tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta 
À espera de se fechar 
Nessa tua mão deserta 

Vem que o amor 
Não é o tempo 
Nem é o tempo 
Que o faz 
Vem que o amor 
É o momento 
Em que eu me dou 
Em que te dás

Tu que buscas companhia 
E eu que busco quem quiser 
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer 
Ser o fim de mais um dia

Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem 
E a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém 
E eu sou melhor que nada 



terça-feira, 1 de dezembro de 2015

olhos


olhos

não são límpidos como janelas
nem pétalas a mostrar cores
ou leves, perfeitas e belas
longe de serem duas flores

são frágeis ao esquecimento
olhos choram a orvalhar
nos céus mora o tormento
de caírem sem serenar

chorem mas sem fingirem
olhos espelhos da minha alma
sonhem sem vos ouvirem
o que existe da negrura alva

porque cismam no tempo
olhos de um espelho cego?
a esperança vive ao relento
da paz que busco e renego

corajosos e tão cheios de medo
tão abundantes no tardio nada!
berram e apontam o dedo
mas em vós enterram a espada!


Inkheart