sábado, 4 de abril de 2015

uma música para o fim de semana - Dj Overule


Creio que tropecei na música para este fim de semana no Observador. Mas não me recordo bem.
Não sou um grande fã do Porto, mas se o fosse, provavelmente deixaria de ser depois de ouvir este hino à Invicta de Dj Overule.

O que torna este tema quase intragável de se ouvir são os refrões. E arranca da pior maneira possível! Com um tijolo cantante metalizado, todo artilhado, apenas lhe falta um spoiler, um aileron e uma ponteira dupla de escape livre a dar o arranque a um desses refrões irritantes, cantados por uma voz estridente.
Todo o resto da letra segue a lógica, ou ilógica, inerente ao hip-hop,

Quanto à cidade, aos postais que caracterizam a cidade, falta o colorido de um nascer do sol ou pôr do sol decentes, que aliás foi no Porto que vi um dos mais bonitos em terras nacionais.
Falta ilustrar a rotina de quem vive na cidade, a sua urbanidade, mostrar o que não vem nos guias.
A zona ribeirinha está longe de ser só a Ponte D. Luís.

Muito mais do que isso. É as águas do Douro, o seu colorido, os locais e os turistas, as tabernas, os becos, as vielas, quem sobe e desce as escadarias estreitas e multi-seculares.
A realização, edição de imagem, deveria ser mais cuidada, mais atenta, com cores mais atractivas, menos rudes.
No fundo falta o mais importante, quando se quer glorificar algo que nos é tão querido: imaginação.


Como na perfeição diriam os do Porto, é uma canção azeiteira, cantado por azeiteiros. Hip-hop pimba. O Porto sinceramente merecia mais e melhor.
Lembram-se da canção de Rui Veloso, Porto Sentido??? É mais ou menos isso que esta cidade merecia.


Bom fim de semana :)



I´m in love with Oporto
I´m in love with Oporto
Para o certo ou para o torto
I´m in love with Oporto

Bebo mais uma, no douro ribeira
Vinho do Porto, garrafa ferreira
Junta-te á festa se és tropa aproveita
Aumenta o volume que esta noite é perfeita
Fumo no ar, com calma levito
Balões estão no céu,
Já pouco me lembro, pesado me sinto
Boss na tribuna e brindo com o Pinto
Respiras o Porto, sente a energia
Salta Salta que a Invicta convida
Os olhos já brilham as luzes fascinam
O som faz tremer este chão que tu pisas
Mãos no ar mais alto, finalmente sorrio
Apaixonante fita azul em qualquer lado do rio
Puro a valer, patrão na zona vip
Não preciso mais nada hoje sinto-me rico

Vinho do Porto, tenho Vinho do Porto
Vinho do Porto, tenho Vinho do Porto
Nem preciso de gelo
e nem preciso de gelo

I´m in love with Oporto
I´m in love with Oporto
Para o certo ou para o torto
I´m in love with Oporto
I´m in love with Oporto
I´m in love with Oporto

Bebida branca em tons de azul
Quero tudo comigo, mas o club tá full
Elas querem partilhar, a luz que me ilumina, ousada e picante como a francesinha
Crédito pra gastar, hoje á noite vou facturar
Tanta gente que tá comigo, vou mostrar o que é brilhar
e o dj não vai deixar
Coisa nenhuma para apontar
Nascemos com sangue de campeão, quente como o bafo, do dragão
Volume no máximo, queremos mais feeling, partir o palco, invadir o building
Atravesso a cidade rapidamente
In love with Oporto por esta gente.

Ahh aah
O Porto é sentido
Da ribeira ás antas
Da Boavista a Foz
Do Bolhão ao Carvalhido
O Porto somos nós!

Vinho do Porto, tenho Vinho do Porto
Vinho do Porto, tenho Vinho do Porto
Nem preciso de gelo
e nem preciso de gelo


quinta-feira, 2 de abril de 2015

Manoel de Oliveira (Dezembro 1908 - Abril 2015)


Foi difícil para Ela apanhá-lo. Precisou de 106 anos para o conseguir.
Foi hoje. :(

Manoel de Oliveira realizou pouco mais de cinquenta filmes e documentários.
Se começasse a filmar desde que nasceu realizaria uma média de meio filme por ano!

Era o mais velho realizador do mundo em actividade e fez algo absolutamente espantoso.
Filmou mudo, viu o sonoro a surgir e filmou-o, filmou a preto e branco, viu as cores a desabrocharem e também as filmou e mais uma vez foi o único realizador do mundo a passar por todo este percurso.

Assistiu ao regicídio, a duas Guerras Mundiais, à Guerra do Vietname ao genocídio do Ruanda, à mudança de regime em Portugal, Foi preso pela PIDE.
Soube o que aconteceu a personagens marcantes como Nelson Mandela, Gandhi, Martin Luther King, JFK e Andy Warhol.

Viu o nascimento da democracia, da Web e do Youtube. Viu o Titanic a afundar-se e as Torres Gémeas a caírem.
A transformação do vinyl em cd e o renascimento do primeiro. Soube que os seu filmes eram vistos em tablets, smartphones, PCs e MACs e que as músicas podiam ser ouvidas em aparelhos mais pequenos que uma palma da mão.

Ouviu diversas formas de jazz e o nascimento de uma milhão de estilos muito confusos de música. Metal, House, Techno, Acid, Trance, Pop, Hip Hop, Trip Hop e sabe-se lá que mais.

No meio disto disto tudo, dever ter tido que pagar um preço caro pela sua vida longa. Dever ter enterrado muita gente de quem gostou e de quem gostou muito dele. Deve doer muito.
Não há bela sem senão...

E pela primeira concordo com o grunho do Pinto da Costa, quando este disse que merecia ir para o Panteão Nacional.
Ao fim e ao cabo se Amália Rodrigues anda por lá a cantar com a sua voz esganiçada, porque não Manoel de Oliveira com os seus filmes de planos longos e estáticos??
Uma estética a que se manteve fiel ao longo de toda a sua actividade cinematográfica.

Vi alguns filmes dele.
Nem todos gostei e muitos gostava que tivessem acabado mais cedo. Mas não é possível agradar a gregos e a troianos.
Manoel de Oliveira gostava de agradar a si próprio. Justo. Justíssimo.

A centelha da vida surgiu em Manoel de Oliveira a 11 de Dezembro de 1908 e extinguiu-se hoje a 02 de Abril de 2015. Literalmente com 106 primaveras.





Dia Mundial da Consciencialização do Autismo





Tenho uma grande empatia e um carinho muito, muito especial com pessoas com o autismo.
Sem o ser, percebo-os muito. Sei o que é viver num mundo muito nosso. Tão nosso, que é difícil partilha-lo e ser compreendido.
É a nossa conchinha. Um buraco, uma toca confortável, onde nos sentimos bem, protegidos.

Não compreendermos, não fazer parte do mundo que nos rodeia e o mundo que nos rodeia não querer fazer parte, não querer compreender o nosso mundo.
A rejeição, a indiferença, a tirania do número maior, sobre aquilo que nos torna diferentes.
Não querer ajustar-se a nós. Mas injustamente exigir, impor o contrário, porque tal é mais difícil para o mundo pequeno fechado do que para o mundo grande aberto.

Sermos permanentemente invadidos. Não nos pedem autorização para entrar, para furar e forçar esta nossa bolha que nos é tão querida e necessária.
A dificuldade de comunicar com algo ou alguém que tem rotinas diferentes das nossas e a necessidade que temos em manter as nossas.


É triste e absurda a utilização da palavra "autismo" para caracterizar outras pessoas que não o são. Como se fosse ofensivo, indigno, ser autista.
É uma forma de utilização de uma palavra que caracteriza um ser humano tão especial, que contribui muito mais para a exclusão e indiferença, do que para a sua compreensão e aceitação.

Não sou um autista, mas sou um deles.







terça-feira, 31 de março de 2015

velas


velas

Belas e elegantes e orgânicas. Simples. Puras. Fazem-nos sonhar. Fazem-me sonhar.
Quero viajar nelas. Voar nelas e com elas. Ir com elas até onde? Até onde der.
Liberdade sem amarras. Sensação difícil. Tão enjaulada que ela é, solta, a encontrar.

E há vento. E há viagens. As suas asas enfunadas, abertas até ao fim do fim.
Quero partir com elas. Deixar de ser visto, mas nelas. Loucura desejada, cabeça repousada.
E andar e voar. Tornar o distante, perto, tornar o longínquo, próximo. Aqui. Em mim.

E descobrir, descobrir, descobrir, sem fim. Nos céus infindos, sempre, sempre, distantes.
E de novo sonhar, humm... como deve ser bom sonhar abordo delas. Andar, caminhar, navegar
Ahhh, essas velas de formas diferentes, distantes, inconstantes como o beijo dos amantes.

Carreguem-me velas. Soltem-me as pesadas amarras. As minhas, as que atei.
O silêncio que gritei, as lágrimas que chorei, que ninguém, viu ou cheirou.
E no entanto... de tão cansado da ausência delas, as velas, eu sentei.

Venham velas, Brancas, puras, triangulares ou não. Levem-me, levem-me no vento frio.
Libertar desta rotina, fina, que me domina. Esse sufoco que é meu, que não é teu, mas de todos.
Sim, sim. Sou o que não me pertence. Cansado, desarticulado, inanimado. Caído no vazio

Descansar, fechar os olhos, e ir, e partir, nelas, as velas, janelas abertas para o nada, amadas.
Aconchegar, abandonar-me, esquecer, esquecer, lembrar-me a contradição, que piso no meu caminho
Ser o que elas são, livres, não domadas, as velas, que são de ninguém, e por isso... tão desejadas.


Inkheart