Da elegância do seu piano e da beleza minimal da sua música.
Do silêncio que caminha por entre as notas de música, o modo pausado como toca, a forma como nos convida à introspecção, como maravilhosamente induz em nós serenidade.
A melancolia que se solta dos seus temas sem que arraste consigo a tristeza.
Quando o quotidiano nos atropela e põe-se em fuga, quando olhamos para o lado e nos sentimos um estranho em terra estranha, Bernardo Sasseti consegue arrumar-nos a casa, os nossos pensamentos, a nossa ansiedade. Amainar tempestades e domar demónios.
Consegue com que regressemos por alguns minutos ao nosso planeta natal, o regresso à nossa casa, ao nosso lugar, onde quer que este seja.
Regresso pertence ao álbum Motion do trio de Bernardo Sasseti.
É um trio de eleição. Bernardo Sasseti no piano, Carlos Barreto em contrabaixo e Alexandre Frazão na bateria.
Sasseti afirmou a propósito deste álbum:
"Música que nasce do nada, ideias que decorrem do pensamento e da imagética do inconsciente".
Desde 2011 que vou assistir a um Woody Allen em modo bipolar. Sempre com esperança de ver algo em linha com o fabuloso Meia Noite em Paris do tal ano de 2011, mas absolutamente com um pé atrás com medo que caia no sapatinho, algo parecido com o quase intragável Para Roma com Amor de 2012.
Parafraseando o treinador do Sporting, Jorge Jesus, Café Society é um filme morninho, morninho.
Woody Allen mostra na perfeição, mais uma vez, a sua capacidade para realizar filmes de época, de nos oferecer um argumento neurótico, existencialista e um tanto psicanalítico.
O director de fotografia, Vittorio Storaro, tinge os ambientes hollywoodescos dos anos trinta de cores quentes, saturadas, difusas e muito pastelizadas. Autênticos banhos de dourados, castanhos e laranjas.
Quando o argumento nos atira para o Bronx, as cores mudam radicalmente. Dá-nos o oposto. São frias, cinzentas, quase indistintas e muito dessaturadas. Para o nightclub Café Society, desenha um ambiente rico de cores, cheio de brilho e glamour.
Dos vários ambientes por onde o argumento nos põe a circular, é também no nightclub que Woody Allen tem a realização mais bem conseguida.
O realizador desenha um triângulo amoroso familiar, que é tanto do seu apreço, linear e pouco conflituoso, resolvendo-se com um final imprevisível, e ao contrário do que usualmente acontece é um desfecho bastante realista.
Tio Phil (Steve Carell), um magnata do showbusiness, e o sobrinho judeu Bobby, que vai trabalhar para ele, apaixona-se pela secretária da qual Phil é patrão, mais tarde saberemos que também é sua amante, Vonnie (Kristen Stewart), sem que nenhum dos vértices masculinos o saiba.
O realizador escolhe Jesse Heisenberg como seu alter ego, onde este nunca está verdadeiramente à vontade, o que não deixa surpreender um pouco. No filme a Rede Social, Jesse Eisenberg mostra à mão cheia a importância da sua presença, ele é o valor maior ao longo do filme ao desempenhar o alienado Mark Zuckerberg, alguém que não se encaixa na sociedade e nem sequer consegue percebê-la. A César o que é de César, o actor luta pela credibilidade da sua personagem e é honesto na sua entrega ao papel, ao contrário de Kristen Stewart, o seu contra-ponto feminino.
Mas porquê a presença de Kristen Stewart no elenco?? Capitalizar adolescentes platonicamente apaixonados e com um fetiche por ela??
Na minha fila e sentadas do meu lado direito estavam duas senhoras que ao intervalo comentavam uma para a outra que não gostavam dela, e que mesmo num filme de Woody Allen continuava a ter um olhar de sonsa.
Verdade. É inexpressiva, impessoal, incapaz de interagir connosco. Os seus papeis, as suas personagens são sempre baças, entediantes, plastificadas e …sonsas! Vonnie não foge à regra.
Se pensarmos que Woody Allen que a pouco menos de duas semanas de fazer 81 anos, escreve e realiza um filme por ano e que já estará a pensar no de 2017, consegue fazer de Café Society um filme consistente, Não está ao nível de Blue Jasmine de 2013, de Vicky Cristina Barcelona (2008) ou de Match Point (2005), para mencionar alguns dos seus melhores filme da última década, mas é um filme que se vê com um prazer razoável.
A sublime fotografia de Vittorio Storaro, vale quase por si só a ida a uma sala de cinema ver Café Society, apesar de este enfermar de um certo travo de boçalidade, mas nada de grave ou particularmente prejudicial.
A frase completa é "Live fast die young and have a good-looking corpse".
Quem a disse foi John Derek no filme O Crime Não Compensa de 1949. Esta frase, erroneamente atribuída James Dean, espelha fielmente a vida de Freddie Mercury e o porquê de se ter tornado uma lenda da música.
Com Freddie Mercury tudo acontecia rápido e em grande escala. Extravagante, e gastador. O dinheiro que ganhava e que fazia questão de o gastar à mesma velocidade com que o ganhava.
Entre mansões de trinta quartos, voar em Concorde, Rolls Royce, orgias e prendas para os amigos e antigos namorados, o dinheiro desaparecia.
Para além do Rock'n' Roll, a vida de Freddie Mercury andava de mãos dadas com drogas e sexo.
Fazia-se rodear de inúmeros ex-namorados, tantos quanto as relações efémeras que tinha, à medida dos lugares onde os Queen passavam.
O cantor britânico de origem tanzaniana, assumia a sua incapacidade de ter relações duradouras e estáveis. Foram todas fugazes e efémeras.
Paradoxalmente, assumindo-se como homossexual, foi com uma mulher que teve a sua relação mais estável, Mary Austin, que duraria sete anos. Apesar de a relação ter terminado por Freddie Mercury ter-lhe contado, na altura o seu segredo, a sua homossexualidade, Mary manteve a ligação de amizade que os unia. Seria ela a cuidar e a estar com o cantor no seu leito de morte.
Não sou um fã dos Queen, originalmente chamados Smile, mas existe uma canção que aprecio particularmente: Who Wants to Live Forever. Pertence a um dos álbuns mais icónicos da discografia dos Queen, A Kind of Magic de 1986.
O tema foi escrito para um filme que vi e que gostei na altura, Highlander. Este tema tem a particularidade de ser o guitarrista fundador dos Queen, Brian May, que foi quem a escreveu, que dá a voz ao início da canção antes de Freddie Mercury a desenvolver.
É cantada de uma forma algo triste e nostálgica. Para quem a eternidade, pode ser traduzida num breve e descrente e já pré-determinado momento.
Freddie Mercury morreu hoje, há 25 anos e com 45 anos.
De novo a frase de Derek - "Live fast die young and have a good-looking corpse".
Penso na vida de Freddie Mercury... claro que sim. É deste material que as lendas são feitas.
There's no time for us
There's no place for us
What is this thing that builds our dreams, yet slips away from us
Who wants to live forever
Who wants to live forever . . .?
Oh ooo oh
There's no chance for us
It's all decided for us
This world has only one sweet moment set aside for us
GoGo Penguin é das coisas mais refrescantes, a começar pelo seu nome, que apareceram no jazz nos últimos anos.
E isso é particularmente difícil quando tocam numa formação clássica de trio de jazz, um formato onde a diferença é difícil de ser atingida.
Conseguir encontrar um som próprio, inovaram e renovaram a sonoridade do jazz, conseguindo manter o seu encanto, a sua expressividade, a sua essência.
O piano de Chris Illingworth forte, incisivo, a bateria determinante Rob Turner e o enérgico mas delicado contrabaixista Nick Blacka, compõem a sonoridade do trio inglês oriundo de Manchester.
Entrei no mundo dos GoGo Penguin com o seu terceiro trabalho, o fabuloso e o meu preferido, Man Made Object de Fevereiro 2016, da mítica etiqueta Blue Note.
Depois regredi no tempo e comprei o segundo trabalho, o V2.0 de Março 2014 da bem mais desconhecida etiqueta Gondwana Records. Mais arrojado,e interventivo, que o mais consensual, e reconhecido, recente trabalho.
E sem ter procurado por ele, veio ter às minhas mãos o álbum de lançamento (Novembro 2012), o primeiro trabalho dos GoGo Penguin, o Fanfares, também ele assinado pela Gondwana, em que tudo o que me atrai neles já estava presente: a sofisticação, a elegância, o jazz musculado e energético misturado com o jazz mais suave e sedutor, a electrónica feita de sons acústicos, o vigor do piano e da bateria.
HF é a faixa que fecha o álbum Fanfares. Tudo o que escrevi sobre o jazz de GoGo Penguin está bem ilustrado neste tema.