sábado, 15 de fevereiro de 2014

uma música para o fim de semana - Dead Combo



É fácil para mim gostar de Dead Combo. São obscuros e misteriosos, são inovadores e são excelentes músicos. Sendo "só" dois músicos conseguem construir musicalmente atmosferas complexas, por vezes inquietas, induzindo uma certa tensão nelas.

A sua música parece que não conta tudo. Tem um toque de erotismo, como a lingerie, Sugere mas não mostra tudo. Não faz o trabalho todo. Deixa algo para nós.
Para reflectirmos, para pensarmos no que ouvimos, para ouvir de novo e redescobrir algo mais, algo que ficou para trás.

A sua música não é estereotipada. Pelo contrário.
É sofisticada. É como um bom vinho. Aprecia-se. Não é só meramente beber. Por cada gole apreciado, por cada música ouvida, há algo dentro de nós que se mantém, que perdura para além da música para ter acabado.
Não é música fast food é gourmet.

E transmitem aquela sensação que adoro, que é a de tocarem para eles, mais do que para os outros.
São músicos de nicho. Tocam para quem gosta do mesmo que eles gostam.
Comercialmente não estão ligados às grandes editoras. Através da sua editora Dead & Company, gravam e editam os álbuns em nome próprio, ficando livres para tocaram o que querem e com o seu próprio timing.

E como a Esteira gosta do que eles gostam, já vai na terceira vez que os Dead Combo aparecem por aqui. E como não há três sem quatro... ;)

O tema escolhido para este fim de semana chama-se Sopa de Cavalo Cansado e surge no álbum Lusitânia Playboys de 2008. Pessoalmente o melhor dos seus álbuns até ao momento e ilustra na perfeição o que penso deles.


Bom fim de semana :)





sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

um poema de... Fernando Pessoa (no dia dos Namorados)





O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar.

Fernando Pessoa


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Grande Ecrã - Ninfomaníaca, Vol 1


Vi os dois filmes de rajada. Como eles deviam ser vistos.
Saí da sessão da primeira parte de Ninfomaníaca, comprei o segundo bilhete e e quinze minutos depois estava noutra sala a ver a segunda parte.


Ninfomaniaca é um filme sobre sexo e com cenas de sexo. Mas quem o for ver por causa disso apanha uma desilusão. Mas não é um filme de sexo permanente, sexo explicito ou até pornográfico como foi muitas vezes badalado e propagandeado.
Aliás logo no início dos dois filmes, das duas partes ou volumes de Ninfomaníaca,  o espectador é informado que os filmes foram censurados mas sem o envolvimento do realizador.

O que vamos ver é uma reflexão sobre comportamentos compulsivos.
Há quem jogue sem conseguir parar, há quem beba sem conseguir parar, há quem roube objectos incessantemente e há quem faça sexo sem controlo. Neste último caso se falamos de uma mulher chama-se ninfomania, se for de um homem chama-se satiríase.

No fundo é um vício, um distúrbio psicológico que provoca problemas sérios em quem sofre desta patologia e que impede o estabelecimentos de relacionamentos duradouros, problemas no trabalho, fortes sentimentos de culpa e alguém que se torna um proscrito da sociedade.
Como qualquer outro vício ou comportamentos obsessivos, o seu tratamento exige muita força, determinação e também muitas recaídas.

Na essência, Ninfomaníaca I e II, retrata tudo isto desde que se começa a manifestar muito cedo na vida de Joe sem esta perceber o que se passa com ela até ao reconhecimento e posterior luta e busca de tratamentos.

Ninfomaníaca I começa excelentemente. Durante uns bons segundos só ouvimos sons. Um convite a tentarmos perceber onde estamos. De repente a imagem abre-se e aos poucos e poucos todo aquele conjunto de sons concretiza-se numa mulher (Joe) espancada e abandonada num beco escuro que pouco depois é recolhida e tratada por um homem caridoso (Seligman).

Joe (Charlotte Gainbourg) começa por se afirmar como uma pessoa má. A pior que já existiu. Seligman (Stellan Skarsgad) fica curioso e incita-a a contar a sua história. Joe divide-a em 8 capítulos.
Começa friamente quando diz que foi aos dois anos que descobriu o prazer e a sua sexualidade. Seligman ouve-a atentamente como um padre confessor, sem fazer juízos de valor sobre o que vai ouvindo.
Pelo contrário aqui e ali, Seligman, senhor de um imenso saber enciclopédico e livresco por ter dedicado a sua vida à leitura, vai introduzindo didácticas explicações através de curtas menções à pesca à linha, à música de Bach, à sequência numérica de Fibonacci,  para os comportamentos e experiências que Joe lhe vai contando.

Ao longo do relato da história de Joe, vamos ficando a conhecer, a sua vida, a incapacidade de sentir e compreender e portanto dispensar o amor, mesmo quando esta sente a sua picada, quando revê Jerome (Shia LaBeouf), o jovem a quem vários anos antes ela pediu que lhe retirasse a virgindade como se fosse um estigma que carregava.
De como usava os homens para obter o queria e precisava, sexo e quais as consequências que isso lhe trazia.
É no capítulo dedicado a Mrs H, que vemos Uma Thurman a desempenhar o papel de uma mulher que vê a sua vida destruída pela jovem Joe. Um breve papel mas brilhante, cheio de raiva, dor, desespero, primeiro contido e depois explosivo, de uma mulher que perdeu tudo e cuja situação a jovem parece permanecer indiferente.

Em Ninfomaníaca, parte I, o papel de Charlotte Gansbourg "resume-se" praticamente a alguém lê um livro. É Stacy Martin, a jovem actriz que compõe a personagem Joe quando nova que carrega o filme às costas. Ingénua, frágil e ao mesmo tempo uma predadora sexual.
A (não) acompanhá-la está um vazio e quase patético Shia LaBeouff que desempenha Jerome, um personagem crucial e transversal na vida da ninfomaníaca desde cedo.

Lars von Trier filma as cenas de sexo, com quase uma ausência total de erotismo. Filma friamente, sem encantamento, sem emoção. Frequentemente não conseguimos ler ou decifrar qualquer prazer no rosto de Joe quando pratica sexo. Aliás, não só as cenas de sexo, como os diálogos entre Seligman e Joe são quase ausentes de sentimento. O rosto de Joe é inexpressivo, muito austero e apenas numa parte da sua história, se emociona e perde a calma do seu relato. Para ir mantendo o diálogo Seligman manifesta alguma curiosidade ou pede alguma explicação extra.

No final do filme, parte um, enquanto os créditos vão desfilando no ecrã, somos presenteados com imagens da parte dois, como que um teaser.
Eles indiciam que a segunda parte do diptico de Lars von Trier, parece ser mais incisiva, mais dura e mais sexual.




segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

série "estatísticas da vida" - LXXII


Também é valido para incêndios, tempestades e outras desgraceiras...




Até chega a doer a ponta da língua de tanto andar por lá...