Escreve Nuno Camarneiro na introdução à Pensão Flor, a tal que ninguém sabe onde fica:
Façam favor, podem pousar as malas, vou só precisar de uma identificação. Não podemos facilitar, nunca facilitar. Como daquela vez... parecia... tão mulher... e afinal... queiram desculpar, são histórias... são histórias...
O elevador nem sempre funciona, deve ser do frio, ou da idade, nem eu às vezes... funciono.
As paredes deixam passar os gritos, mas não as vozes. As janelas não abrem desde o dia... desde um dia triste.
Sejam bem-vindos à Pensão Flor, meus senhores, onde é noite todas as noites."
A voz de Vânia tece sobre nós um ninho de fios de algodão de puro branco. Deitamo-nos nele, fechamos os olhos e somos capazes de ficar por aqui quase uma eternidade. É uma voz aconchegante e doce, mas não açucarada e melosa.
E depois temos aquilo que rodeia a Vânia, o nosso ninho, as paisagens sonoras que o rodeiam. Elas são calmas, bonitas mas variadas, acrescentando serenidade ao alvo algodão.
Esta serenidade provem de todo a banda musical estar quase totalmente, suportada em cordas: cavaquinho, guitarra portuguesa, guitarra clássica, viola fado e contrabaixo, laivada com as sonoridades do piano e acordeão.
Pensão Flor é um somatório muito feliz de um conjunto muito saudável de raízes ancoradas na música tradicional portuguesa, fado e world music.
Há uma certa audácia pacata na música que fazem e um conquistar do público que se faz de pé ante pé.
Na Volta de Um Beijo, o segundo tema do alinhamento de do álbum de estreia de 2013 dos conimbricenses, Pensão Flor, de nome O Caso da Pensão Flor, o que mais chama a atenção, é a maneira como a elegante e bem timbrada voz da Vânia é harmoniosamente completada e enquadrada, pelas cordas do grupo.
A letra nostálgica, não separar a letra da voz, canta a história da solidão, o par incompleto, a perda do eu e do tu e da luta e esperança para encontrar o par perdido.
Este fim de semana, será mais um de chuva. Na Volta de Um Beijo, consegue aquilo que raramente se vê, e quando se vê, não dá bom resultado: agradar a gregos e troianos.
Para os que gostam de chuva, a música serena e algo nostálgica, são o acompanhamento perfeito do sons molhados que caiem lá fora. Para os que rezam para que um dia o sol final se levante da sua cama de nuvens cinzentas carregadas, as suavemente coloridas notas musicais de a Volta de Um Beijo, contrastam com o cinzentismo dos dias que correm.
Bom fim de semana :)
Ao meio do quarto uma rosa cai no chão
Ao fundo do peito uma letra sem canção
Ao canto da sala guitarras sem bordão
Lá fora no meu peito andas tu e o meu perdão
Sentada cá dentro olho a cruz está sem perdão
Cai-me a jarra das mãos, cai-me a rosa de paixão
Fechaste o teu peito levaste-me o coração
Agora andas tu lá fora sozinho sem paixão
Chora, chora e a mim que se me dá
Chora, chora e a mim que se me dá
Eu hei-de ir à romaria pedir a nossa senhora
Que me traga o meu amor que anda pelo mundo fora
E assim vê-lo na volta, na volta de um beijo
Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo
Eu hei-de vê-lo na volta, na volta de um beijo