A chuva e o sol disputam o dia, numa alternância democrática sem a participação dos eleitores. De momento ganha o sol. Nestas coisas de tempo sou um conservador e estou à espera que a chuva ganhe.Mas reconheço que os dias de sol de Inverno são tão atractivos e encantadores quanto um dia de chuva miudinha ou pesada, ou uma manhã outonal embrulhada em nevoeiro.
Para a Joana Machado provavelmente ambas as situações são boas. A sua voz é desprendida e está despida de formalismo. É como o tempo. Por vezes ligeiramente ríspida, outra vez mais aconchegante. Segue as emoções do momento. Uma purga emocional que flui por ela, pelo seu rosto e braços.
Parece que está ali para cantar para ela própria mais do que para nós, o que é a melhor forma possível de cantar para nós.
Quando acaba a canção vai-se embora. A sua sessão terapêutica está concluída. O microfone, qual divã freudiano, fica sozinho e a banda termina suavemente, faz a despedida do tema já sem a sua presença.
Mas sabe a pouco. Faço replay, não para perceber a canção, porque não a quero compreender, nem preciso, mas porque quero sentir de novo esse desprendimento e o timbre da sua voz em Do You Know.
Joana, uma funchalense que cruzou as fronteiras da ilha aos 17 anos para ir estudar música para Lisboa, tem uma voz segura, límpida e muito cristalina.
Não é um tema que me fascine ou que me transporte para outros mundos, mas gosto da sua elegância e simplicidade. Não é fácil encontrar estas duas palavras em simultâneo (excepto em Sasseti) a caracterizarem uma canção ou uma música.
Sem dúvida que é uma canção que tem o seu quê.
Bom fim de semana :)
