No início tudo estava no disco rígido do computador sobre a foram de zeros e uns. Quer as músicas quer as letras.
Depois, Kapa de Freitas pensou que zeros e uns em tons de verde transmitiam de imediato o genérico de Matrix, o que era vulgar. Para ser diferente em vez de verde, pensou que poderia ser azul... e gostou.
O mentor Kapa de Freitas, o Eurico de Orvalho e o David Sequeira, três amigos da margem sul do Tejo davam origem em 2009 aos Um Zero Azul.
Quando gravaram o álbum de estreia UZA, o acrónimo do nome da banda, descobriram que o técnico que lhes ia gravar o álbum era o mesmo que tinha gravado o mais recente álbum dos Xutos & Pontapés. Consideram que era bom para a divulgação da banda se conseguissem que Tim gravasse um tema do álbum com eles.
E conseguiram! Chama-se Quem Não Quer Ver?
Não deixa de ser curioso que seja a segunda vez em pouco tempo que Tim ajuda a lançar ou a relançar uma banda. Já o tinha feito anteriormente com os Tara Perdida.
Quem Não Quer Ver é uma canção de intervenção em jeito de rockalhada e com uma letra muito acutilante e directa.
É uma letra que desfila à nossa frente quando saímos à rua, quando nos cruzamos com pessoas cujas rotinas diárias lhes estão vedadas ou destruídas pelo caos social e financeiro em que o país está mergulhado ou então necessitam têm que trilhar em segredo, na calada da noite, caminhos tortuosos e obscuros para a poder cumprir.
E mesmo que ainda tenhamos a sorte e o privilégio nos dias que correm de não ser nossa canção, nada nos garante que um dia destes não passe a ser a nossa letra.
Bom fim de semana :)
Todos os dias há alguém que não acorda
Enquanto outros lutam para dar a volta
Todos os dias no pescoço está a corda
De quem um dia vai deixar de andar à solta
Todos os dias há alguém que não come
Para poder tirar barrigas ea miséria
Pais que trabalham o dia inteiro e passam fome
Escondendo aos filhos que viver é coisa séria
Viver é coisa séria
E há gente que não quer ver
E há gente que não quer ver
E há gente que não quer, não quer, ver
Todos os dias vender o corpo na noite
Parece ser a única saída
Mesmo que a filha sem saber não a perdoe
Ao menos não terá de ter a mesma vida
Todos os dias há alguém que se aproxima
Pedindo ajuda para ter o que comer
Não tínhamos de alimentar a sua sina
Mas temos todos muito mais o que fazer
Temos muito mais o que fazer
E há gente que não quer ver
E há gente que não quer ver
E há gente que não quer, não quer, ver
E há gente que não quer ver
E há gente que não quer ver
E há gente que não quer, não quer, ver, ver